12º EPI: Pesquisadora alerta para possível crescimento de suicídio entre crianças e adolescentes no Brasil
Por Danielle Monteiro
“Evidências apontam que a maioria dos casos de suicídio poderiam ter sido evitados”. Com essa fala, a pesquisadora da ENSP, Joviana Avanci, iniciou sua apresentação sobre comportamento suicida em crianças e adolescentes no Brasil. A palestra integrou a mesa redonda “Vigilância do suicídio: inovação, informação e ação”, realizada nesta segunda-feira (25), no 12º Congresso Brasileiro de Epidemiologia (12º EPI). Alertando para a importância da prevenção e do cuidado, a pesquisadora apresentou uma série de dados referentes a internações e mortes por lesão autoprovocada, fatores de risco e grupos vulneráveis entre essa parcela da população.
Em todo o mundo, o suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. “A tentativa prévia é um forte fator de risco para o suicídio consumado na população em geral, além de envolver um contínuo de autoagressões. Muitas vezes, há sinais prévios de planejamento até o suicídio consumado. Por isso, trabalhar a prevenção e a vigilância é uma forma de cuidado para que esses casos não se transformem em morte no futuro”, defendeu Joviana, que também é coordenadora geral de Pós-Graduação Stricto Sensu da ENSP. Conforme relatado pela pesquisadora, os grupos populacionais que apresentam maiores taxas de suicídio no Brasil são adolescentes, adultos jovens e idosos.
Enquanto o mundo sofreu redução de 36% de mortes por suicídio entre 2000 e 2019, a Região das Américas apresentou aumento de 17% no mesmo período, com destaque para o Brasil, que sofreu crescimento de 43%. “No país, houve um crescimento preocupante de suicídios entre 2010 e 2021. Neste último ano, foram mais de 15,5 mil suicídios, o que equivale a uma morte a cada 34 minutos, sendo esta a terceira maior causa de morte na população mais jovem”, lamentou a pesquisadora.
Segundo ela, o suicídio em crianças é pouco abordado e merece maior atenção, pois os dados têm revelado um número expressivo de casos. “Quando pensamos em prevenção, quanto mais cedo conseguimos detectar e diagnosticar, conseguimos intervir para que esse comportamento não evolua”, defendeu.
No que diz respeito às taxas de notificação por lesão autoprovocada entre crianças e adolescentes (nas faixas etárias de até 9 anos e entre 10 e 19 anos) no Brasil, entre 2019 e 2021, houve aumento significativo, em comparação com períodos anteriores, com destaque para a região Norte. As taxas de mortes por lesão autoprovocada também subiram entre esses grupos populacionais no país, conforme apontado pela pesquisadora. “Quando falamos de suicídio em crianças, é muito importante abordarmos o tema da notificação, pois muitos casos são confundidos, inclusive com acidentes. Esse diagnóstico do suicídio não é fácil de fazer por uma série de razões, inclusive por questões familiares no que diz respeito à compreensão da intencionalidade daquele ato da criança”, explicou.
De acordo com os dados, as principias causas de suicídio em crianças e adolescentes são transtornos mentais; história familiar; isolamento social; bullying e cyberbullying; rupturas ou crises com namorados ou amigos; violência na família; reflexão sobre problemas sociais, sentido da vida e inserção no mundo; e redes sociais virtuais.
Os grupos mais vulneráveis entre crianças e adolescentes são os povos indígenas; migrantes e refugiados; e a população LGBTQIA+. Fatores como preconceito, pobreza, desesperança e deterioração das condições de saúde mental são citados como as possíveis causas. Por esse motivo, segundo Joviana, a prevenção ao suicídio deve acontecer precocemente e focar nos grupos minoritários e em casos de risco, assim como na promoção de bem-estar e saúde mental, no fortalecimento de habilidades socioemocionais, além de utilizar a escola como espaço principal de atuação. A pesquisadora defendeu, ainda, que, no SUS, a prevenção deve enfocar na Atenção Primária, incluindo a comunidade, a família, o cuidado em rede, a prevenção primária, a promoção da saúde, assim como a saúde desde a pré-escola.
Além de Joviana, também participaram da mesa redonda, como palestrantes, a coordenadora geral de Vigilância e Prevenção de Violências e Acidentes e Promoção da Cultura de Paz do Ministério da Saúde, Naiza Sá; o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Sergio Roberto de Lucca; e o chefe do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP), Paulo Menezes. A coordenação ficou por conta da diretora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ), Claudia Lopes.
O 12º EPI continua com atividades até esta quarta-feira (27/11). Acesse a programação completa.
Nenhum comentário para: 12º EPI: Pesquisadora alerta para possível crescimento de suicídio entre crianças e adolescentes no Brasil
Comente essa matéria:
Utilize o formulário abaixo para se logar.