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Seminário reúne pessoas com deficiência e movimentos de luta: Carta traz reivindicações pela emancipação da PcD

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Publicado em:25/09/2024

O seminário "Rearranjo das forças capitalistas e a necropolítica para eliminação das pessoas com deficiência", realizado nesta segunda-feira (23/9), como parte do calendário oficial da Escola, em celebração ao Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, debateu a reivindicação das pautas que envolvem a garantia dos direitos das pessoas com deficiência. A terceira mesa do seminário reuniu representantes de diferentes movimentos de luta que trouxeram para o debate a importância de entender como a deficiência atravessa a vida das pessoas de diferentes formas e como a precariedade das condições de vida é um marcador social da deficiência. A 'Carta do Rio', apresentada ao final do evento, traz reflexões e denúncias de como a necropolítica afeta a vida das pessoas em razão da deficiência.


A mesa "Quem merece viver? Quem é deixado para morrer? Reivindicação das pautas" foi mediada por Gabriel Simões, da Cooperação Social da Fiocruz, e contou com a participação de Taiane Machareth Maquês, do Papo Reto Defiça; Pedro Petrúcio, autodefensor da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down; Thag Santos, mulher negra transgênero, representante do Coletivo de Mulheres com Deficiência do Maranhão; Agna Cruz, mulher preta com deficiência, ativista e atleta paralímpica; e Siana Guajajara, do Coletivo Acessibilindígena.

Taiane Machareth Maquês, do Coletivo Papo Reto Defiça, falou sobre "Viver com deficiência em território de favela". Nascida e criada no morro do Turano, ela agradeceu o convite para participar da mesa. Taiane contou que veio de uma família grande e humilde e recebeu um laudo de que não viveria muito. Passou por inúmeros médicos e fisioterapeutas ao longo da vida, mas encontrou na época escolar seu maior desafio, pois, naquele tempo, as pessoas com deficiência eram negadas nas escolas.

"No morro não tinha acessibilidade, não tinha cadeira de rodas. Eu consegui sobreviver porque, na favela, havia coletividade. Não havia a pauta da deficiência, mas na favela as pessoas se ajudam e foi assim que sobrevivi. Agradeço à coletividade. Eu estou aqui hoje, mas não sou única no Turano; existem várias pessoas com deficiência que precisam da coletividade para sobreviver."

Em 2020, Taiane se juntou ao Coletivo e "se encontrou", em suas palavras. Ela lamentou que estejamos em um momento de muita individualidade, mas que, por conta disso, surgiu o Papo Reto Defiça. "Ele surge do meu encontro comigo mesma, e hoje é um grupo de 15 mães e pessoas com deficiência. Não somos um grupo científico, mas somos um grupo de acolhimento. Defendo a ideia de que não vou mudar o mundo sozinha, mas, dentro do meu território, posso fazer alguma coisa."

Autodefensor da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, Pedro Petrúcio abordou "A autodefensoria como estratégia de resistência". Aos 31 anos, Pedro tem formação na área de turismo, além de cursos nas áreas de produção de eventos e advocacia. Ele reforçou a importância de as pessoas com deficiência serem reconhecidas em todos os seus direitos.

"É importante reforçar sempre que as pessoas com deficiência são capazes. Podemos estudar, namorar, casar, ter filhos; temos o direito de ser livres. As pessoas com deficiência precisam estar nos espaços de decisão. O espaço precisa se adaptar às pessoas com deficiência, e não o contrário", reforçou Pedro, enfatizando que é preciso dar voz aos jovens com deficiência, pois a deficiência não define a pessoa.

Thag Santos, do Coletivo de Mulheres com Deficiência do Maranhão, falou sobre sua vivência como mulher negra transgênero  surda. Thag disse estar cansada de ouvir sobre as políticas, pois, na prática, tudo é muito diferente. "Como mulher trans surda, digo que no SUS falta muita coisa. Nas cidades do interior do Maranhão, não se sabe nada sobre os surdos; falta acessibilidade na prática em todos os serviços", lamentou.

Thag mencionou ainda a importância do ensino sobre o que significa ser uma pessoa transgênero. Por fim, ela enfatizou que acessibilidade é falar menos e fazer mais. "Precisamos colocar os surdos na pauta, pois, quando você tira os surdos, não está fazendo acessibilidade", afirmou.

Mulher preta com deficiência, ativista e atleta paralímpica, Agna Cruz abordou os "Desafios de ser uma mulher periférica com deficiência". Ela destacou o orgulho em participar do seminário, mencionando a importância da representatividade. Nascida na Bahia, mas moradora de Ceilândia, em Brasília, Agna contou que foi neste local que percebeu como realmente as coisas eram e lá montou um Coletivo de Mulheres e Mães Negras.

"Essas mulheres sofrem violência de direitos o tempo todo. E, quando falo da importância da representatividade da mulher preta, estou falando disso, pois essa lacuna da representatividade no Brasil é muito grande. Precisamos ocupar os espaços; a 5ª Conferência nos mostrou isso. Representatividade significa fortalecer os movimentos sociais e dar visibilidade à mulher negra com deficiência, que é maioria."

Agna Cruz falando sobre os desafios de ser uma mulher periférica com deficiência, durante seminário na ENSP. 

Siana Guajajara, do Coletivo Acessibilindígena, abordou o tema "Viver com deficiência em comunidades indígenas". Segundo ela, o Coletivo nasceu com o intuito de trazer o indígena com deficiência à discussão, pois, quando se fala em dados, por exemplo, o percentual de indígenas com deficiência é desconhecido. "Falar sobre indígenas com deficiência é falar de um povo que não existe. Eu não fui a primeira a falar dessa pauta, mas estou sendo a primeira a ter visibilidade. Então, quando ocupo esse espaço hoje, não represento apenas eu, Siana. Represento um povo que já foi esquecido."

Ela recordou que foi na Fiocruz que o tema do indígena com deficiência veio à luz, durante a 1ª Conferência Livre da Pessoa com Deficiência, e que os mesmos questionamentos feitos há dois anos continuam. "Precisamos progredir; são dois anos reivindicando as mesmas coisas. Nossa luta não acaba com a entrada e saída de um governo; nossa luta continua hoje, amanhã e depois", defendeu. Guajajara concluiu sua fala desejando que as discussões promovidas no seminário mudem a visão das pessoas em relação às pessoas com deficiência. "A diferença não se faz do dia para a noite, mas o olhar das pessoas sim."

Gabriel Simões, que atua na Cooperação Social da Fiocruz e é membro do Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência, foi o mediador da mesa. Após as falas dos participantes, ele contou um pouco de sua trajetória pessoal e profissional, além das pesquisas que vem desenvolvendo em diferentes territórios vulnerabilizados, e refletiu também sobre as diferentes encruzilhadas que atravessam a vida das pessoas com deficiência, dando como exemplo as histórias contadas pelos participantes.

Gabriel defendeu a temática do evento e seu tom mais combativo em relação ao capacitismo que invade a sociedade, fazendo uma conexão com o tema da mesa: "Quem merece viver? Quem é deixado para morrer?". "Estamos falando de diferentes tipos de mortes, que vão além da morte física, pois é a morte de potências. E a morte dessas potências faz parte de um processo necropolítico de quem merece viver e quem é deixado para morrer. Por isso, é fundamental ocupar lugares que reforcem a potencialidade das pessoas com deficiência", finalizou.

Gabriel Simões, membro do Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência, mediando a mesa "Quem merece viver? Quem é deixado para morrer? Reivindicação das pautas"

'Carta do Rio' reivindica emancipação das pessoas com deficiência

Encerrando o seminário "Rearranjo das forças capitalistas e a necropolítica para eliminação das pessoas com deficiência", a 'Carta do Rio' foi lida pelos participantes, incitando que, neste Dia de Luta, todas as pessoas reflitam sobre sua responsabilidade na necropolítica que deixa morrer corpos em razão da deficiência e que se comprometam com as reivindicações dos movimentos de luta pela emancipação das pessoas com deficiência, sem deixar nenhum subgrupo invisibilizado de fora.



+ Assista o evento completo no vídeo abaixo:




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