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Lançamento do Portfólio IC Manguinhos destaca potencial emancipatório da ciência e transformação social

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Publicado em:30/08/2024

Por Bruna Abinara

Nesta terça-feira (27/8), a Vice-direção de Pesquisa e Inovação da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (VDPI/ENSP/Fiocruz) lançou o Portfólio do Programa de Iniciação Científica (IC) Manguinhos Estimulando Talentos e promovendo a equidade: a experiência do programa de Iniciação Científica Manguinhos. Durante o evento, que ocorreu na sala 410 da Escola e teve transmissão online, coordenadores, orientadores e estudantes ressaltaram o potencial emancipatório e transformador da ciência. O programa conta com o apoio da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB/Fiocruz) e busca proporcionar aos alunos de graduação moradores da comunidade a aprendizagem de técnicas e métodos de pesquisa, bem como estimular o desenvolvimento do pensamento científico e da criatividade. 

+ Acesse o portfólio 

A coordenadora do Fomento à Pesquisa da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB/Fiocruz), Maria de Fátima Baptista, ressaltou que o IC Manguinhos foi um projeto piloto que deu certo. Ela anunciou que o programa irá se expandir para outros territórios com o lançamento do IC Maré e do IC Mata Atlântica. “A Fiocruz é uma casa de inclusão e nós acreditamos que é importante dar oportunidades a esses jovens”, declarou. Maria de Fátima destacou o interesse e a vontade de aprender dos estudantes e defendeu que "é importante fazer acontecer para esses jovens, porque eles são o nosso futuro”, disse.  

Em seguida, o diretor da ENSP, Marco Menezes, agradeceu os bolsistas por aceitarem, junto à Escola, o desafio de “popularizar a ciência, de unir a academia com os movimentos e os territórios. O diretor reforçou a importância da contribuição desse primeiro ciclo do IC Manguinhos para o aprimoramento dos processos de inclusão e equidade na instituição. Aqui, nós somos SUS e estamos entregando para a sociedade um documento relevante, com propostas concretas que vêm da realidade dos territórios”, declarou. Marco lembrou o aniversário de 70 anos da ENSP, cujo tema será Reparação histórica, desigualdades e a construção do comum. “O projeto do IC Manguinhos dialoga muito com essa temática, principalmente, na perspectiva do enfrentamento das desigualdades socioambientais, defendeu. Além de uma celebração do sucesso desse primeiro ciclo, para o diretor, o evento foi um momento de pensar novos caminhos frente aos desafios na promoção da saúde.  

ENSP celebra 70 anos com o tema ‘Reparação histórica, desigualdades e a construção do comum’

A vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC/Fiocruz), Cristiani Viera Machado, defendeu que “a iniciação científica é um dos momentos mais decisivos na carreira de um pesquisador. Segundo a vice-presidente, o trabalho é feito em conjunto e em uma perspectiva formativa, sendo decisivo para as escolhas profissionais dos estudantes. Cristiani defendeu que, além de promover a descoberta das possibilidades da ciência, o IC desenvolve o gosto pelo estudo, que permite diferentes visões profissionais e de vida. “Parabenizo a ENSP pela iniciativa do IC Manguinhos, seguindo a trajetória da Escola de trabalhar com território, com comunidades, em parcerias locais”, declarou.  

Para a vice-diretora de Pesquisa e Inovação (VDPI/ENSP), Luciana Dias de Lima, o IC Manguinhos “vai ao encontro de um compromisso da Fiocruz e da ENSP de uma ciência emancipatória, uma ciência que efetivamente contribua para a transformação social, para a inclusão e para a igualdade”. Luciana ressaltou a alegria em ver a “semente se multiplicar” com os novos editais do programa, que irão abranger outras localidades. Segundo a vice-diretora, a experiência provoca novas formas de enxergar o mundo, assim como de pensar em soluções, além de ressignificar a atuação profissional dos bolsistas ao apresentar novas possibilidades.  

Em seguida, a vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB/Fiocruz), Maria de Lourdes Aguiar Oliveira, destacou a IC como o primeiro passo no despertar para a ciência. “A educação é o caminho de transformação do nosso país e ela anda de mãos dadas com a ciência”, defendeu. Maria de Lourdes reforçou que o objetivo final é servir à sociedade, melhorar a qualidade de vida e construir um país melhor. Passamos uma vida inteira de trabalho dedicada a melhorar as oportunidades dos nossos jovens e é com muito orgulho que vemos essa turma de guerreiros para quem vamos passar o bastão no futuro”, concluiu.  

Ressignificação do território e criação de novos sentidos 

Após a mesa de abertura, o diretor do Departamento de Capacitação e Apoio à Formação de Recursos Humanos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Ciro Marques Reis apresentou a palestra Ciência e pertencimento: a Iniciação Científica como instrumento de transformação social. O diretor, que atua há 10 anos junto ao programa de IC da UERJ, contou que as sementes do IC Manguinhos não devem florescer apenas na Fiocruz, já que ele pretende apresentar para a Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Uerj a iniciativa de olhar para o entorno da universidade, que também apresenta desafios socioeconômicos oriundos da desigualdade estrutural da cidade. 

"Iniciativas como essa, demonstram que a Fiocruz e Manguinhos ressignificam o território e criam novos sentidos institucionais e socioculturais, que provocam mudanças de visão de mundo em todos os atores envolvidos", declarou Ciro. O diretor explicou que há formas visíveis de desigualdade, como a concentração de renda, as condições de moradia e o acesso à mobilidade urbana, mas também "formas que se expressam na condição do ser, as quais, internalizadas, limitam os desejos e os sonhos". Segundo ele, séculos de exclusão levaram segmentos da população a não acreditarem que merecem e podem ocupar espaços de saber, ainda considerados lugares pertencentes à elite.  

O palestrante apresentou dados sobre a perspectiva dos jovens para a ciência e sobre o potencial da IC para transformar a vida dos estudantes. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a cada cem estudantes universitários, apenas cinco vem dos 20% mais pobres da população. Ciro explicou que políticas de inclusão e acesso impulsionaram os jovens a entrarem na universidade, porém as crises e urgência econômica desestimulam esse cenário. "Como temos a maior parte da população pobre, ela tem mais emergência, se o país não tem perspectiva econômica, ele não pode esperar quatro anos de universidade, ele precisa resolver os problemas agora, por isso, busca alternativas mais rápidas, como o mercado de trabalho", disse o diretor.  

Nesse sentido, Ciro demostrou que a experiência na IC pode contribuir para a continuidade da atuação dos estudantes na área de pesquisa, uma vez que alunos bolsistas apresentam melhor desempenho em relação ao tempo de ingresso, permanência e taxa de conclusão. Dados do CNPq mostram que 97% dos alunos consideram a experiência satisfatória e que a maioria dos bolsistas de IC pretendem continuar para uma pós-graduação (67%) ou ingressar na academia como pesquisador (24%). Por fim, Ciro apresentou dicas para que o conhecimento possa servir à transformação social, como trabalhar com questões do cotidiano, dialogar com a sociedade e ter caráter emancipatório. "A transformação pessoal vale muito pouco se não contribuímos para a sociedade", concluiu 

Estimulando talentos e promovendo a equidade 

Protagonistas da celebração, os bolsistas do IC Manguinhos tomaram a palavra para o terceiro momento do evento. Divididos em duas mesas, mediadas pelas organizadoras do portfólio, Vivian Ferraz Studart e Patrícia Constantino, que é também coordenadora do Programa, os estudantes compartilharam um pouco dos projetos de pesquisa, os impactos do IC nas suas trajetórias e seus planos para o futuro 

+ Alunos de Iniciação Científica de Manguinhos apresentam resultados de projetos de pesquisa 

Os bolsistas Jordana Araújo Gonçalves e Fellipe Felix do Nascimento contaram que, antes de ingressarem no Programa, frequentavam a Fiocruz para atendimentos médicos no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, mas que não sentiam pertencer ao espaço. "Estar em uma posição de estudo, de conhecer outras pessoas, de ver o trabalho de perto fez com que existisse uma Jordana pré e uma pós-PIBIC (Programa Institucional de Bolsas para Iniciação Científica)", disse a bolsista. para Gabriel Lima de Azevedo Campos, o primeiro contato com a Fiocruz foi através do Programa. O estudante de Análise e Desenvolvimento de Sistemas afirmou que não tinha muito acesso a dados de saúde, assim, atuar na área foi uma experiência diferente e transformadora. "Trabalhar diretamente com saúde abre um horizonte que você nunca tinha visto antes, por isso, ser bolsista PIBIC foi uma experiência muito gratificante", declarou Gabriel.

O IC Manguinhos também representou desafios profissionais para os alunos, que puderam descobrir novas abordagens das suas áreas de estudo, como relataram as bolsistas Letícia Alves Oliveira, Ana Carolina Barboza Brandão e Ana Caroline dos Santos Silva. Letícia, que estuda Museologia e desenvolveu uma pesquisa sobre brincadeiras e desenvolvimento infantil, uniu as duas áreas com uma exposição de desenhos de crianças, aliando a inciativa a uma lógica de disseminação científica. Ana Carolina, que é enfermeira e, agora, também mestranda da ENSP, contou que entrar para o IC Manguinhos fez com que ela pensasse na pesquisa, algo muito diferente da área prática com que estava acostumada. "Foi incrível, porque que pude descobrir o passo a passo da pesquisa e conhecer pessoas, acho que o mais importante são essas trocas e saber que você também tem algo para doar aos outros", disse Ana Carolina. Enquanto a bolsista Ana Caroline contou que o IC Manguinhos faz com que ela percebesse sua vocação para outras áreas da Graduação. "No começo foi muito difícil, porque temos questões em casa além da vida acadêmica, mas conseguimos arranjar tempo quando gostamos de algo", declarou.  

Os bolsistas Juliana Maria Paiva Quintella e Brener Mauro Costa Barbosa refletiram sobre a falta de oportunidades direcionadas aos jovens de Manguinhos. Juliana, que é da área de Direito, criticou a elitização de espaços de saber e confessou que, antes de ingressar na universidade, não acreditava ser capaz de pertencer àquele espaço. "O pessoal que está aqui não é fora da curva ou acima da média, somos poucos a ter oportunidade, mas não somos diferentes daqueles que estão fora desse muro", disse Juliana. Brener relatou que, apesar da proximidade física, a Fiocruz parecia um mundo muito distante. No entanto, com as portas abertas pelo IC Manguinhos, ele passou a se sentir capaz de adentrar aquele universo. "Manguinhos, assim como nós e outros jovens, tem força e pode muito para a saúde e para a educação do Brasil todo", declarou Brener 

Assista ao evento na íntegra pelo canal da ENSP no Youtube:  




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