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Mestrado voltado aos movimentos sociais inicia segunda turma com palestra de João Pedro Stédile

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Publicado em:12/08/2024

‘Capitalismo internacional e ultradireita, liberalização da esquerda e realidade brasileira’, foi o tema da aula inaugural da segunda turma do Mestrado Profissional em Saúde, Trabalho, Ambiente e Movimentos Sociais da ENSP, que contou com a participação de João Pedro Stédile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores sem Terra. O economista e ativista social destacou a importância política da formação desenvolvida pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, em parceria com a Escola Nacional Florestan Fernandes, com financiamento da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, do Ministério da Saúde. O curso visa o fortalecimento da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas e conta com a ativa participação dos movimentos sociais.   

A aula inaugural foi mediada pelo pesquisador da ENSP, Ary Miranda, que reforçou a importância do curso na construção do pensamento crítico. “Os alunos desta turma sairão daqui com um título de mestre pela Escola Nacional de Saúde Pública, um título muito cobiçado, mas esse não é o componente mais importante para vocês, pois esse curso vai além, é uma formação de quadros políticos. Esse curso é uma tarefa política. As defesas desenvolvidas por vocês vão gerar pensamento crítico para a construção do conhecimento para os trabalhadores”, salientou o pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP).  

Em seguida, João Pedro abriu sua palestra parabenizando os alunos e os aconselhando a estudar o capital em seus projetos de pesquisa. “Vocês precisam conhecer os movimentos do capital e não apenas os seus assentamentos, pois isso já conhecemos. Vocês precisam conhecer como os movimentos do capital se apropriam da natureza, da saúde, de tudo, transformando tudo em acumulação. É para isso que vocês vieram aqui”, reforçou ele. 

Stédile fez algumas reflexões sobre temas que, segundo ele, os alunos precisam refletir ao longo do curso, entre elas a crise do capitalismo internacional e suas contradições, que surgem em decorrência da crise. “Como primeira contradição, o ativista social pontuou que sempre que o capitalismo entra em crise apela para os conflitos, por exemplo, provocando conflitos bélicos para reabrir espaços de acumulação de capital”, explicou o economista, citando ainda outra forma de contradição, como a abertura dos bens da natureza.  

“O capital internacional faz a ofensiva contra os bens da natureza de todo o tipo. A contradição disso é a decadência econômica do império do capitalismo. Outra contradição deste processo é a violência. Os capitalistas de crise operam com a violência, pois ela controla a população. O fascismo tem o componente de apelar para a violência para convencer os pobres, para ganhar os pobres e se utilizam de vários métodos de massificação ideológica para isso”, refletiu. 

Em seguida o convidado falou sobre a conjuntura brasileira e refletiu sobre a luta de classe. “No Brasil, a burguesia continua controlando a economia do país”, afirmou o economista. “Em relação a soja, principal comodities no Brasil, de 100% da produção, 65% são das empresas transnacionais e apenas 2% vão para a sociedade”, exemplificou ele. Stédile lamentou que a classe trabalhadora no Brasil esteja numa situação tão fragilizada, sem formas políticas organizadas.  

O membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores sem Terra reforçou que a luta de classe só será resolvida se a classe trabalhadora e a esquerda se organizarem. Stédile finalizou sua apresentação citando algumas estratégias necessárias para isso, entre elas: realizar trabalho de base com a população; descobrir novas formas organizativas de luta; promover formação política de militantes; desenvolver estratégias de agitação e propaganda de massa; além de colocar o tema da defesa da natureza e dos crimes ambientais no centro da discussão.

“Espero que a esquerda do nosso país se recomponha e produza reflexão crítica. E vocês, alunos deste curso tão importante, estão aqui para isso, para ajudar nesta missão de recuperar valores socialista e humanistas como parte das mudanças sociais que queremos”, concluiu João Pedro. 

Ary Miranda e João Pedro Stédile durante a aula 'Capitalismo internacional e ultradireita, liberalização da esquerda e realidade brasileira'. Crédito foto: Bruna Abinara (CCI/ENSP).


Mística marca cerimônia de abertura

Mística de abertura celebra união de forças em torno da luta pela terra. Crédito foto: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz).

Na abertura do evento, os integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realizaram uma Mística, uma prática coletiva e tradicional do MST de união de forças em torno da luta pela terra. Em seguida, a representante do comando de greve da Fiocruz defendeu a reivindicação dos trabalhadores pela reposição salarial frente às perdas dos últimos anos. Ela explicou a importância da reposição para a autonomia da produção científica da Fundação.  

Na mesa de abertura do evento, a coordenadora do Mestrado Profissional em Saúde, Trabalho, Ambiente e Movimentos Sociais da ENSP/Fiocruz ressaltou a responsabilidade dos 25 alunos selecionados dentre as 120 inscrições. Simone destacou o comprometimento da instituição na estruturação do curso, que caracterizou como o “ato de esperançar”. “Foram 10 anos para conseguir a edição desta segunda turma em função de um contexto desfavorável à democracia e aos movimentos sociais, contou. Ela destacou a diversidade da turma, que é composta por alunos de múltiplas origens e movimentos sociais.  

O diretor da Escola, Marco Menezes, reforçou a importância estratégica do curso no contexto complexo do Brasil. “Cada nova turma que chega nos motiva e nos incentiva no cumprimento da nossa missão institucional: enfrentar as desigualdades socioambientais do nosso país”, declarou. Para o diretor, a defesa dos trabalhadores do SUS é uma questão central no debate da saúde. Nessa perspectiva, Marco reafirmou o compromisso com os trabalhadores da Fiocruz, que reivindicam a reposição dos salários. “Quem está se apropriando do orçamento público? Estamos em um debate com o próprio parlamento do ponto de vista da organização do sistema de saúde que é muito importante”, disse.  

Marco ainda expressou solidariedade e indignação com os ataques contra o povo Guarani Kaiowá de Mato Grosso do Sul. O diretor atribui a importância da parceria entre ENSP/Fiocruz, Escola Nacional Florestan Fernandes e Ministério da Saúde, que possibilita a criação desta segunda turma do Mestrado Profissional, à possibilidade de impulsionar o país a partir de questões como a demarcação de terras e a reforma agrária popular. “Estamos em defesa de um governo que se coloque em diálogo com a sociedade, para que possamos avançar nesses pontos”, declarou. O diretor lembrou que o contexto do aniversário de 70 anos da ENSP é de muita mobilização e debate, mas é fundamental para reafirmar o compromisso de realizar junto aos movimentos sociais para avançar em políticas públicas.   

Em seguida, o vice-diretor substituto na vice-direção de Ensino da Escola (VDE/ENSP), Gideon Borges, que representou a vice-diretora de Ensino, Enirtes Caeteno, refletiu sobre mística realizada antes da mesa. Para o professor, “essa mística ratifica quantos saberes se produz e o quanto as instituições e as universidades têm de aprender”. Gideon se declarou orgulhoso de ver a Escola aberta a essas manifestações e comprometida com atividades de equidade no sentido de contribuir no combate às desigualdades sociais. “Esse curso é mais do que necessário, poque dele vão sair ideias que possam ser fertilizadas na tentativa de encontrar alternativas para tantos problemas que a sociedade enfrenta. Ideais, tecnologias e técnicas para melhorar a vida brasileira”, concluiu Gideon.  

A coordenadora do Programa Profissional de Pós-Graduação em Saúde Pública, Gisela Cardoso, esse é "um programa muito potente, rico e diverso". Para a coordenadora, isso se deve à quebra da hegemonia do conhecimento acadêmico, já que a formação une as instituições de ensino e pesquisa com a sociedade onde elas estão inseridas. "A característica do Programa Profissional é essa: é um compromisso com a Saúde Pública e com as demandas e necessidades que a saúde traz", afirma. Gisela explica que esta é a sexta turma de Mestrado Profissional a iniciar o semestre letivo e que duas vão começar em breve, o que comprova a maturidade e a potencialidade do Programa no campo a Saúde Coletiva.  

A representante da direção da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), Selma Santos, reconheceu a importância da parceria entre a ENFF e a ENSP/Fiocruz. Selma reflete sobre o engajamento da Fiocruz de pensar a saúde no Brasil para os trabalhadores, da ENSP de atuar na formação de profissionais e produção de tecnologias e da ENFF de produzir conhecimento intelectual coletivo e orgânico a partir da classe trabalhadora. "É nosso papel lutar para que esse conhecimento esteja a serviço de uma sociedade justa, livre, igualitária, humana e emancipada do jugo do capital", defendeu a representante da Escola Florestan Fernandes.  

O destaque da fala da representante da direção nacional do setor de Saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Alexandra Rodrigues de Lima, foi a importância de movimentos sociais ocuparem espaço em instituições de ensino. Para Alexandra, as conquistas ainda são tímidas em relação à educação dos trabalhadores dos campos, das florestas e das águas. "A nossa luta pela saúde precisa avançar na construção de uma sociedade sem opressão", defendeu. A representante do MST declarou que o conhecimento importante para a classe trabalhadora é aquele que rompe com a ciência burguesa guiada pelos interesses do capital. Alexandra ainda defendeu que os movimentos sociais ocupem espaço nas universidades e levem consigo o seu próprio conhecimento. 

Por fim, a coordenadora-geral de Ações Estratégicas de Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Erika Rodrigues de Almeida, reforçou que a aula inaugural representa um momento de celebração, uma conquista da parceria. "É muito acertada a parceria entre ENSP/Fiocruz, Florestan Fernandes e Ministério da Saúde, principalmente, porque entendemos que mais estratégias precisam ser construídas para garantir a sustentabilidade da nossa defesa da democracia e do SUS", afirmou. A coordenadora reafirmou o compromisso da atual gestão de reconhecer as desigualdades dentre do SUS e trabalhar em direção a políticas públicas de equidade.  

No encerramento da mesa de abertura da aula inaugural, a deputada Marina do MST foi convidada para saudar os alunos. A parlamentar criticou a forma como o capital se apropria dos temas trabalho, saúde e ambiente e os transforma em lucro. Por isso, ressaltou a importância da união de universidade e movimentos sociais na defesa das necessidades sociais.  

A experiência dos egressos: 

Na período da tarde os novos alunos do mestrado profissional participaram de uma mesa com relatos de experiências dos egressos da primeira turma, com o tema ‘A experiência de pesquisa no Mestrado Profissional em Trabalho, Saúde, Ambiente e Movimentos Sociais: com a palavra, as egressas da Turma Primavera da Luta, ano 2014-2016'.

A mediação da mesa foi dos pesquisadores Ary Miranda e Simone Oliveira, coordenadora da formação que busca qualificar os profissionais que atuam na educação do campo, na saúde e nas ciências agrárias, em áreas de Reforma Agrária e comunidades camponesas, através da consolidação de conhecimentos sobre método, teoria crítica e desenvolvimento de investigações na área de trabalho, saúde e ambiente, e movimentos sociais.

+ Confira a segunda parte do evento!


*Crédito fotos: Gutemberg Brito (IOC/Fiocruz).

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