Pesquisa sobre promoção de territórios sustentáveis e saudáveis no contexto da Covid-19 é apresentada no CBA
O relato de experiência ‘O povo cuidando do povo: uma pesquisa-ação participativa sobre os desafios e estratégias ao enfrentamento da Covid-19 em três territórios periféricos no estado do Rio de Janeiro’, realizada pela ENSP/Fiocruz em parceria com cinco movimentos sociais e outras instituições de ensino e pesquisa, foi apresentado no espaço ‘Tapiris de Saberes’, no contexto do eixo ‘Saúde e Agroecologia’, durante o 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia, que acontece até quinta-feira, 23 de novembro, nos Arcos da Lapa, Rio de Janeiro.
A pesquisa, que tem como autoras as pesquisadoras da ENSP, Carolina Burle de Niemeyer (VDEGS) e Flávia Guimarães (SGS), buscou examinar como a pandemia repercutiu nas condições de vida e no acesso à saúde de famílias e indivíduos que vivem em lugares periféricos e vulnerabilizados, a partir de questões de interesse de todos os seguimentos envolvidos e da incorporação das comunidades como sujeitos de pesquisa, realizando uma investigação que fizesse sentido para os territórios e contribuísse para torná-los mais sustentáveis e saudáveis.
Segundo Carolina Burle de Niemeyer, para isso, a estratégia foi articular a pesquisa a uma iniciativa dos movimentos sociais: o Curso de Agentes Populares de Saúde, implementado em três territórios do estado do Rio de Janeiro, onde também foi realizado o estudo. A pesquisa foi contemplada pelo edital do Programa Inova Fiocruz Territórios Sustentáveis e Saudáveis no contexto da pandemia Covid-19.
“Em 2020, a maioria das pesquisas sobre os impactos da COVID-19 no Brasil estavam sendo realizadas de forma remota, por meio de questionários virtuais respondidos pelos próprios indivíduos. Esta estratégia por si só gerou resultados enviesados, porque as populações vulnerabilizadas da cidade e principalmente do campo estavam excluídas dessas investigações. Corrigir essa distorção era do interesse tanto dos movimentos sociais como das instituições de pesquisa envolvidas”, explicou ela.
Apresentação de trabalho no eixo 'Saúde e Agroecologia', no espaço Tapiris de Saberes’, nesta terça-feira (21/11), durante o 12º CBA.
O projeto foi desenvolvido junto com os movimentos sociais parceiros, com o intuito de produzir dados científicos relevantes para as comunidades, tanto para subsidiar iniciativas autônomas de viés territorial, como para fortalecer sua atuação junto ao poder público, na luta por direitos e por políticas públicas mais efetivas. Também buscou fortalecer os laços entre os movimentos sociais rurais e urbanos envolvidos e promover a articulação entre o campo e a cidade, tendo a segurança alimentar e a agroecologia como questões centrais.
De acordo com Carolina, o projeto foi realizado entre março de 2021 e março de 2023, em três territórios de natureza distintas onde os movimentos sociais parceiros já atuavam. A área urbana conhecida como "Praça do PAC", na favela de Manguinhos, onde o Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) e o Levante Popular da Juventude (Levante) realizavam trabalho de base. A Terra Prometida, uma comunidade no complexo da Penha, ainda não mapeada pelo estado, onde o Centro de Integração da Serra da Misericórdia (CEM), um membro da Rede Carioca de Agricultura Urbana (Rede Cau), promove ações de agroecologia urbana junto à população local. E o acampamento Edson Nogueira, localizado na zona rural de Macaé, onde está situada a Unidade Pedagógica de Agroecologia Marielle Franco, pertencente ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Pesquisa busca melhoria das condições de vida nos territórios
“Com essa investigação, tentamos realizar uma pesquisa que, além de dados científicos, também promovesse a melhoria das condições de vida nos territórios pesquisados. A nossa estratégia foi articular a pesquisa ao curso de Agentes Populares de Saúde, uma ação de solidariedade ativa mobilizada pela campanha popular Periferia Viva, que no Rio de Janeiro estava a cargo do MST, do MTD e do Levante. Essa inciativa surgiu em Pernambuco e já foi realizada em diferentes lugares do Brasil, sempre mobilizada por movimentos sociais, em parceria com instituições de ensino e pesquisa”, descreveu ela.
O projeto contou com recursos que viabilizaram a realização do curso nos três territórios mencionados; em contrapartida, os próprios educandos atuaram como pesquisadores populares, participando de rodas de conversa organizadas pela equipe de pesquisa, e aplicando um instrumento de levantamento de dados socioterritoriais em suas respectivas comunidades
“Um dos nossos interesses com esta investigação era evidenciar os desafios, mas também as potencialidades desses distintos territórios no enfrentamento da pandemia por Covid-19. Ao longo desse estudo, pudemos confirmar que os determinantes socioambientais da saúde impactaram a forma como essa emergência sanitária foi vivenciada pelos territórios mais vulneráveis, porque as condições de vida e a situação socioeconômica dessas populações impediram que fossem seguidas as prescrições mínimas de prevenção contra a contaminação e a propagação dessa doença, como isolamento social e higienização constante das mãos. Mas também constatamos que a capacidade de auto-organização e de desenvolvimento de estratégias coletivas de solidariedade ativa tiveram importância fundamental para minimizar essas consequências”, ressaltou Carolina.
Por fim, a pesquisadora destacou que, em um contexto marcado pelo aumento da insegurança alimentar e pela dificuldade de acesso ao SUS, sobrecarregado pelas demandas da pandemia, o reconhecimento do viés estratégico das inciativas envolvendo agroecologia para a promoção da saúde nos territórios vulnerabilizados no campo e na cidade, é fundamental.
“Como constatado por esta pesquisa, a produção e doação de alimentos agroecológicos foram fundamentais para aliviar a fome e promover o acesso a alimentos frescos e saudáveis a essas populações durante a pandemia por Covid-19, assim como os conhecimentos ancestrais sobre plantas e ervas medicinais e a manutenção de farmácias vivas contribuíram para a manutenção da saúde nesses territórios”, concluiu ela.
Carolina Burle de Niemeyer (VDEGS), à direita, e Flávia Guimarães (SGS), à esquerda, com a publicação fruto da pesquisa ‘O povo cuidando do povo: uma pesquisa-ação participativa sobre os desafios e estratégias ao enfrentamento da Covid-19 em três territórios periféricos no estado do Rio de Janeiro’.
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