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Sistemas de saúde do BRICS, suas respostas à pandemia e lições aprendidas são focos de pesquisa da ENSP

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Publicado em:06/11/2023

Por Barbara Souza

Como os sistemas de saúde de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul responderam à pandemia de Covid-19? Quais estratégias cada um desses países adotou durante a crise? Que aprendizados esse período deixou para o enfrentamento de futuras emergências sanitárias? A pesquisa “Governança e respostas nacionais dos BRICS à Covid-19: caminhos, desafios e lições para os sistemas de saúde em contextos desiguais” está analisando essas questões. Selecionado pelo Edital de Pesquisa de 2021 da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fioruz), este é um dos projetos apoiados pelo Programa de Fomento ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico Aplicado à Saúde Pública. O estudo tem como coordenadora Adelyne Maria Mendes Pereira e como vice-coordenadora Cristiani Vieira Machado, ambas pesquisadoras da ENSP.

Ao Informe ENSP, que lançou uma série de entrevistas sobre as pesquisas realizadas no âmbito do Programa de Fomento, a coordenadora Adelyne Pereira afirmou que o trabalho deve contribuir “para a área de políticas, planejamento e gestão em saúde a partir dos resultados sobre a configuração dos sistemas de saúde e vigilância no BRICS, bem como da capacidade de preparação e resposta frente a emergências sanitárias de cada país e do bloco com um todo”. A pesquisadora ressaltou ainda que se espera que a pesquisa “também alcance outros grupos da sociedade para os quais os resultados podem gerar interesse e/ou benefício, incluindo gestores e membros do controle social do SUS”.

A pesquisa está sendo desenvolvida com diversos parceiros: Instituto de Saúde Coletiva/Universidade Federal da Bahia (ISC/ UFBA); Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ/Campus Macaé); Universidade Estadual de Londrina (UEL); Universitat de les Illes Balears (UIB) e grupo de pesquisa em Saúde Global (Espanha); University of London (CITY), Centre for Health Services Research (Inglaterra). 

O projeto já tem contribuído para consolidação de uma rede colaborativa e interinstitucional de pesquisa em análise de sistemas de saúde em perspectiva comparada. Adelyne disse que alguns resultados já estão consolidados e explicou como serão divulgados de acordo com as estratégias da equipe. Na entrevista completa, ela contou que etapas do trabalho já foram realizadas, quais são os próximos passos, quais desdobramentos e impactos espera da pesquisa e muito mais. Leia a íntegra abaixo!

O objetivo da pesquisa é analisar experiências dos países do BRICS no enfrentamento da Covid-19 entre 2020 e 2022. Qual é o foco da pesquisa e o que ela considera em relação às desigualdades sociais que existem entre esses países?  

Adelyne Pereira: O foco da pesquisa são os sistemas de saúde e vigilância nos países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), as estratégias que foram desenvolvidas frente à COVID-19 e as lições que podem ser aprendidas para seu fortalecimento no futuro. A pesquisa se apoia na premissa de que as capacidades estatais para responder a emergências sanitárias são influenciadas por dois macro-condicionantes: o contexto mais geral de desigualdades estruturais presentes em cada país (desigualdades sociais, econômicas e produtivas, de gênero e raça, sanitárias e epidemiológicas); e os fatores político-institucionais e conjunturais que orientam as decisões e as políticas públicas implementadas pelos governos. Dessa forma, as atividades do nosso grupo de pesquisa têm valorizado a estrutura prévia dos Estados e dos sistemas de saúde, bem como o papel das instituições e atores em saúde, considerando as relações Estado-mercado-sociedade.

Como essa pesquisa tem sido desenvolvida? Poderia explicar um pouco sobre os métodos que têm sido utilizados para levantamento de dados, análises, etc.?  

Adelyne Pereira: A pesquisa tem sido desenvolvida por um grupo diverso de pesquisadores, vinculados a distintas áreas e instituições, o que tem tornado o trabalho rico e possibilitado a construção de conhecimento inter e multidisciplinar. Para operacionalizar os objetivos da pesquisa, temos nos organizado em grupos de trabalho (GT) de acordo com as etapas em desenvolvimento. A partir das contribuições do institucionalismo histórico e do método histórico-comparado em ciências sociais, a pesquisa tem feito uso da análise bibliográfica, documental e de dados secundários, bem como do estudo de caso.

Que etapas do trabalho já foram realizadas até o momento e quais são os próximos passos previstos no âmbito desta pesquisa? 

Adelyne Pereira: No primeiro ano, desenvolvemos três frentes de trabalho principais: 1) Revisão da Literatura, que após um cuidadoso processo com apoio de uma bibliotecária, deu origem a uma biblioteca organizada no software Zotero com cerca de 4 mil itens envolvendo a produção científica internacional e nacional sobre os sistemas de saúde e vigilância de cada um dos países do BRICS; 2) Seleção e análise de dados secundários para caracterização do contexto geral e dos sistemas de saúde de cada um dos países do BRICS, com constituição de uma base ampla no software R incluindo indicadores específicos para cada uma dessas dimensões; e 3) Estudos de Caso sobre os sistemas de saúde e vigilância dos países do BRICS, com base na matriz de análise da pesquisa. Cada uma dessas etapas geraram produtos intermediários que estão sendo usados na construção de artigos e outros materiais de divulgação científica. No segundo ano, estamos desenvolvendo novas etapas: uma Revisão de Escopo sobre a governança e respostas nacionais dos BRICS à COVID-19; um estudo sobre as desigualdades em saúde nos BRICS; e outro sobre as capacidades produtivas (vinculadas ao complexo econômico-industrial da saúde) nos países do BRICS. 

Já há achados, resultados, informações decorrentes das atividades da pesquisa que possam sem compartilhadas?  

Adelyne Pereira: Sim, já temos resultados consolidados em relatórios de pesquisa produzidos por cada um dos GTs mencionados anteriormente, além das bases bibliográfica e de dados secundários que servirão para esta e futuras pesquisas. Esses resultados estão sendo trabalhados para divulgação por meio de artigos científicos e, espera-se que em breve, também de um ebook em acesso aberto. Além disso, ainda nesse semestre, temos a realização de dois webinários com diversos especialistas para ampliarmos o debate sobre o contexto global e a saúde nos BRICS. Um dos eventos é nesta quarta-feira, ao vivo pelo canal na ENSP no YouTube.

Quais contribuições o projeto de pesquisa deve trazer para sua área de conhecimento e para a sociedade em geral? Que tipo de desdobramentos e impactos podemos esperar?

Adelyne Pereira: O Projeto tem contribuído para consolidação de uma rede colaborativa e interinstitucional de pesquisa em análise de sistemas de saúde em perspectiva comparada. Na ENSP/Fiocruz e, particularmente, na nossa linha de pesquisa, consideramos de especial relevância avançar nas temáticas envolvendo países do BRICS e com enfoque no sul global. Acreditamos que podemos trazer contribuições muito interessantes para a área de políticas, planejamento e gestão em saúde a partir dos nossos resultados sobre a configuração dos sistemas de saúde e vigilância no BRICS, bem como da capacidade de preparação e resposta frente a emergências sanitárias de cada país e do bloco com um todo. Espera-se que a pesquisa também alcance outros grupos da sociedade para os quais os resultados podem gerar interesse e/ou benefício, incluindo gestores e membros do controle social do SUS. Para tanto, estamos planejando materiais de divulgação específicos para produzir diálogo com estes grupos e, oxalá, apoiar a tomada de decisão no que se refere às melhores práticas para fortalecimento dos sistemas de saúde, da governança e da resposta nacional a futuras emergências sanitárias.




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