ENSP realiza primeiro estudo de coorte de nascimentos em indígenas no Brasil
Foi publicado, recentemente na revista The Lancet Regional Health – Americas, um artigo sobre a construção de padrões de domicílio, água e saneamento, além da posição socioeconômica da população Guarani. Trata-se da primeira investigação em coorte de nascimentos indígenas realizada no Brasil, de acordo com o pesquisador do Departamento de Endemias da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) Andrey Moreira Cardoso, coordenador da análise e um dos autores do estudo, desenvolvido em parceria com pesquisadores da Fiocruz e de outras instituições nacionais e internacionais. Os resultados do artigo apontam que mais de 60% das crianças observadas estão nos padrões socioeconômicos abaixo da linha de pobreza.
Crédito imagem: Andrey Moreira Cardoso (ENSP/Fiocruz).
Segundo Andrey, apesar da importância dos determinantes sociais da saúde, estudos a respeito dos efeitos das condições socioeconômicas, sanitárias e habitacionais sobre a saúde infantil indígena são escassos em todo o mundo. "Por isso, o objetivo desse estudo foi identificar padrões de habitação, água e saneamento, além da posição socioeconômica, a partir da linha de base da primeira coorte de nascimentos indígenas no Brasil – a Coorte de Nascimentos Guarani. Os dados foram coletados por meio da implantação de um sistema de vigilância local em 63 aldeias da etnia, em cinco estados do Sul e Sudeste do Brasil, entre os anos de 2014 e 2017", explicou o pesquisador.
Os estudos de coorte partem do pressuposto que uma população será acompanhada ao longo de determinado tempo para analisar a incidência de agravos e doenças a fim de buscar uma possível associação causal entre diferentes condições de exposição de risco à saúde e os desfechos de interesse na população estudada.
O estudo transversal na linha de base da coorte de nascimentos de indígenas Guarani usou métodos estatísticos multivariados para reduzir um grande número de variáveis socioeconômicas habituais em estudos epidemiológicos, bem como identificar padrões distintos de acesso a políticas públicas de habitação e saneamento e posição socioeconômica, tendo em vista explorar a associação entre esses padrões e desfechos de saúde.
Mais de 60% das crianças investigadas encontravam-se nos padrões socioeconômicos abaixo da linha de pobreza
Os resultados do estudo identificaram: três padrões para habitação e para água e saneamento; quatro padrões para posição socioeconômica, resultando em 36 combinações de padrões. “Mais de 62% das crianças investigadas situavam-se nos padrões socioeconômicos abaixo da linha de pobreza. Foram encontradas associações estatisticamente significativas entre domicílios precários e extrema pobreza e hospitalização no primeiro ano de vida”, alertou Cardoso.