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Abrascão: esforço coletivo na Fiocruz resulta em oficina sobre formação do sanitarista em meio a múltiplas crises

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Publicado em:18/11/2022

Idealizada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP) e planejada junto a duas vice-presidências e uma coordenação da Fiocruz, a oficina pré-congresso Abrascão 2022 “A Formação de sanitaristas no contexto de múltiplas crises: uma agenda para o ensino, pesquisa e cooperação” será realizada nos dias 19 e 20 de novembro, fim de semana que antecede a abertura do evento, em Salvador (BA). Além da ENSP, a Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC), a Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) e a Coordenação de Estratégias de Integração Regional e Nacional da Presidência (CEIRN), da Fiocruz, organizaram a oficina, que começarão às 9h, no sábado e no domingo. As atividades serão no Mezanino A – Sala Rubem Mattos (106 A), no Centro de Convenções de Salvador.

Tanto o diretor da ENSP, Marco Menezes, quanto a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, celebraram a união de esforços de diferentes setores da instituição na organização dessa oficina. Marco destacou que a concepção da atividade é fruto de um processo de discussões e debates na Escola, estimulados pela direção, que objetivam a construção de uma agenda político-estratégica, para colaborar com a construção do país diante das perspectivas que se abrem com um novo governo. Já Nísia disse que o trabalho a várias mãos "reflete a necessária coletividade e pluralidade das abordagens da saúde na crise multidimensional que vivemos, sanitária, social, econômica, ecológica". Segundo ela, "de ordem civilizatória, essa crise nos coloca os desafios de repensar, em todo o planeta, o modo de vida, de produção, as desigualdades, a própria relação homem-natureza e as formas de sociabilidade". A presidente acrescentou ainda que "a consolidação da compreensão de que a saúde é determinada também por fenômenos socioambientais é um importante passo no trabalho por mais equidade e bem-estar. A compreensão precisa agora verter-se em ação, e a isso a oficina se propõe".

Neste contexto, a Escola participou da realização de oficinas e seminários que aprofundaram as discussões sobre os desafios e as perspectivas da formação em saúde coletiva, as desigualdades e mudanças dos processos educacionais no Brasil e o Fortalecimento do ensino LSQP em tempos de crises e transformações. Além de enaltecer a institucionalização do debate na Fiocruz, o diretor Marco Menezes reforçou a importância de ampliar essa agenda com os movimentos sociais e a sociedade civil e, para isso, saudou a participação do Cebes, da Abrasco, do CNS, da Rede de Escolas e Centros Formadores em Saúde Pública, dentre outras representações na atividade pré-congresso. Marco fez questão de salientar que a oficina acontece durante a pandemia de Covid-19, o que reforça a importância de ampliar o debate não só no campo da formação, mas também no enfrentamento das desigualdades. “Essa atividade acontece diante de um contexto de sindemia global, de grandes desafios no que diz respeito às desigualdades, sobretudo no combate e erradicação da fome no Brasil, e no bojo do processo de fortalecimento da democracia no país”.


Portanto, a oficina tem como objetivo aprofundar a discussão sobre as bases da formação e da atuação do sanitarista, à luz do conceito ampliado de saúde e da determinação socioambiental do processo saúde-doença e bem-viver. Como produto da oficina, será elaborada uma agenda de pautas prioritárias a ser desdobrada nos próximos anos, com a participação de diferentes atores e instituições. 

“A expectativa é a de que nessa oficina possamos dar um primeiro passo no delineamento de uma agenda para a formação – entendida aqui não só na dimensão da formação acadêmica -, a pesquisa e a cooperação, para ser desdobrada e ampliada nos próximos anos”, afirmou a vice-diretora da Escola de Governo em Saúde da ENSP, Marismary Horsth De Seta.

Vice-Presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) da Fiocruz, Hermano Castro aposta na integração entre os diferentes entes envolvidos. “Uma atividade como essa, sendo construída a várias mãos, com diferente olhares e posicionamentos e visões dentro da própria Fiocruz, com seus diferentes setores e áreas, garante um excelente resultado para essa oficina. Só de uma maneira integradora é que vamos buscar e conseguir os melhores resultados, unindo todas as políticas internas às externas, na relação com os outros entres no campo da saúde pública, do movimento social, das instituições de ciência do país”, diz o ex-diretor da ENSP.


Construção coletiva e interação na Fiocruz

A ideia da oficina “A Formação de sanitaristas no contexto de múltiplas crises: uma agenda para o ensino, pesquisa e cooperação” nasceu na ENSP e, para se concretizar, contou com a participação da VPEIC, da VPAAPS e da CEIRN, coordenada por Zélia Profeta. Pesquisadora da Fiocruz Minas, ela acredita que essa integração é fundamental para que a Fundação possa responder aos problemas atuais, que são complexos: “não podemos fazer isso sozinhos. É preciso integrar os institutos da Fiocruz e também outras instituições. É importante ter diferentes olhares de diferentes disciplinas para dar respostas de fato robustas, na perspectiva de redução das desigualdades, de fortalecimento da democracia e de melhoria de vida da população”.

Para o coordenador de Lato Sensu da Vice-direção de Ensino da ENSP, Gideon Borges, a junção de forças mostra uma disposição dos envolvidos na construção de um projeto comum pois, segundo ele “a formação do sanitarista e a cooperação no campo da Saúde Coletiva é matéria de interesse de todas as instituições dedicadas ao ensino e à pesquisa”. O pesquisador afirmou ainda que essa “sinergia” favoreceu a rápida mobilização das unidades da Fiocruz, assim como da Rede Escola de Saúde Pública e das Instituições de Ensino Superior que atuam no campo.

Coordenadora geral adjunta e do Stricto Sensu da VPEIC e pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, Eduarda Cesse, também participou da união de esforços que resultou na organização da oficina. “A VPEIC enquanto instância responsável pela educação na Fiocruz não poderia deixar de fazer parte desse constructo. Somos a maior instituição, não universitária, de formação para o SUS, no país. E o arranjo solidário de compartilhar com ENSP, VPAAPS e CEIRN é auspicioso pois garante uma pauta ampla e integrada”, disse.

Múltiplas crises e o papel do sanitarista na sociedade

O contexto atual é bastante favorável no campo da formação dos sanitaristas hoje no Brasil, segundo Hermano Castro. Ele destacou que “a pandemia trouxe vários ensinamentos, embora tenha vindo num contexto muito mais difícil no país, no qual a ciência foi jogada de lado. A pandemia mostrou para a ENSP e para a Fiocruz, para o campo da formação, a necessidade de se reinventar do ponto de vista pedagógico”. O vice-presidente se preocupa com as dificuldades de formar sanitaristas no contexto que definiu como “de convívio entre altas tecnologias e desigualdade social enorme”.

Ao comentar o tema da oficina, a vice-diretora Marismary lembrou que a evolução da atividade do sanitarista tem sido vinculada ao desenvolvimento do Estado capitalista, que se alimenta de crises, e completou: “vivenciamos um período de transformações no capitalismo e de múltiplas crises - econômica, social e humanitária, sanitária, ambiental, alimentar e etc. -, que são completamente interligadas e o Brasil, um país capitalista periférico e dependente, as vivencia de forma peculiar. Se, de um lado, houve um desmonte das políticas públicas ligadas à proteção social, com o resultado das eleições gerais, vivenciamos um período de renascimento da esperança, com a possibilidade de correção de rumos. Vivemos um esperançar...”. 

Já Zélia Profeta avalia que, com as múltiplas crises, o sanitarista precisa ser capaz de pensar saídas de forma crítica, contribuindo para o bem-estar e para o bem-viver. “Hoje, é grande a complexidade dos problemas dentro do modelo de desenvolvimento que temos. Por isso, é preciso um outro modelo de desenvolvimento que não contribua para as desigualdades”, analisa Zélia. 

De acordo com Marismary e Zélia em relação à importância da formação crítica dos sanitaristas num momento marcado por instabilidades e crises de diferentes tipos, Gideon Borges acrescentou que o “campo da Saúde Coletiva tem um compromisso seminal com essa agenda pelo interesse nas determinações socioambientais do processo saúde-doença e pelos impactos que esse cenário de crises provoca na saúde das populações”. 

Expectativas por resultados após a oficina

O objetivo é que a oficina seja um primeiro passo no delineamento de uma agenda para a formação – não só na dimensão acadêmica –, a pesquisa e a cooperação, para ser desdobrada e ampliada nos próximos anos. “Apostamos que a construção coletiva dessa agenda, e sua implementação em parceira, nos permitirá o desenvolvimento futuro, em diálogo com a sociedade, da formação de sanitaristas que o atual contexto socioambiental está a exigir”, resume Marismary. 

Para Zélia Profeta, uma agenda que também envolva pesquisa “é fundamental para resolver várias lacunas de hoje no país”. Gideon Borges faz coro: “em termos ainda mais concretos, que consigamos elaborar uma carta endereçada às instituições de ensino e pesquisa do país, cujo conteúdo deve expressar um pensamento comum e vigoroso para o campo da Saúde Coletiva, pactuado por um plantel de especialistas”.

A comissão organizadora da oficina é formada por Marismary De Seta (ENSP), Rosa Souza (ENSP), Gideon Borges (ENSP), Renata Collazos (ENSP), Eduarda Cesse (VPEIC), Isabela Delgado (VPEIC) e Zélia Profeta (CEIRN).

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