Entrevista: Conheça mais sobre a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) oferecida na ENSP
Terapia Comunitária Integrativa (TCI) é uma prática integrativa e sistêmica genuinamente brasileira e faz parte da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC) do SUS desde 2017. Sua metodologia foi criada em 1987 por Adalberto Barreto, doutor em antropologia e psiquiatria e professor do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade do Ceará. A TCI tem construído sua identidade alicerçada em cinco eixos teóricos: o Pensamento Sistêmico; a Teoria da Comunicação; a Antropologia Cultural; a Pedagogia de Paulo Freire e a Resiliência. Enquanto muitos modelos centram suas atenções na patologia, nas relações individuais, privadas, a TCI nos convida a uma mudança de olhar, de enfoque, sem querer desqualificar as contribuições de outras abordagens, mas ampliar seu ângulo de ação, que são: ir além do unitário para atingir o comunitário; sair da dependência para autonomia e a co-responsabilidade; ver além da carência para ressaltar a competência; sair da verticalidade das relações para a horizontalidade; da descrença na capacidade do outro, passar a acreditar no potencial de cada um; ir além do privado para o público; romper com o clientelismo para chegarmos à cidadania; e romper como modelo que concentra informação para fazê-la circular.
A TCI tem como objetivo principal a criação de redes solidárias e de vínculos afetivos, por meio de partilhas de estratégias de superação e ou enfrentamento diante de dores emocionais e existenciais, onde a escuta ativa e acolhedora e o poder da expressão da fala exercem um protagonismo. Deste modo, consiste em uma atividade aberta, em grupo, estruturada em etapas com começo meio e fim, com regras claras e conduzidas somente por terapeutas comunitários integrativos, capacitados por um Polo Formador reconhecido pela Associação Brasileira de Terapia Comunitária Integrativa (ABRATECOM).
Para ampliar a oferta de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) na Ensp, aos trabalhadores, estudantes, estagiários e usuários dos serviços de saúde, o Espaço PICS Ensp contratou a Formação de Terapeutas em TCI para profissionais se capacitarem e organizarem rodas de conversas semeando na Escola as Práticas Integrativas em Saúde. O curso está sendo oferecido pelo Polo Formador de Terapia Comunitária Integrativa do Rio de Janeiro. Ao todo, 12 trabalhadores participam desta primeira turma com formação híbrida, com aulas presenciais e on-line. O Informe ENSP conversou com a pesquisadora em Saúde Pública do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF) e integrante do Espaço PICS da Ensp Zelia Andrade, que explicou que o objetivo do curso é “fortalecer as PICS de modo que possam atuar integrado ao ensino, pesquisa e assistência à saúde”.
Leia a entrevista onde a pesquisadora salienta a importância da capacitação de profissionais da Escola, contribuindo para o aumento de número de adeptos das práticas dentro da ENSP.
Informe ENSP: Desde quando a Terapia Comunitária Integrativa (TCI) é politica pública do SUS? Qual é e abrangência da sua atuação?
Zelia Andrade: ATCI é uma Prática Integrativa e Complementar em Saúde (PICS), considerada uma abordagem psicossocial avançada pelo Ministério da Saúde desdes 2017.Está presente em 24 países distribuídos pela América do Sul, Europa e África, atuando em diversas áreas, como saúde, educação, assistência social, comunidades e setor privado.
Informe ENSP: Como a TCI ajuda e atua na vida dos participantes?
Zelia Andrade: a TCI como prática coletiva com metodologia freiriana e promotora de saúde usa o acolhimento e a escuta qualificada para facilitar a expressão dos sentimentos gerados pelas inquietações do cotidiano. A troca de experiências e a forma de superar as inquietações geram sentimento de pertencimento e propiciam a criação de redes sociais solidárias. Estudos e as práticas em TCI identificam benefícios à saude, como: melhora da autoestima, autonomia, autocontrole e empatia; estimula o empoderamento e a resiliência; fortalecimento de vínculo social; ameniza o sofrimento, o medo e a tristeza, sendo tais benefícios evidenciados tanto ao nível dos terapeutas quanto dos participantes da roda. As estratégias que se apresentam durante a roda de TCI levam os participantes a uma reflexão crítica sobre os problemas vivenciados e às mudanças em seu cotidiano, contribuindo para o bem-estar e a melhoria da qualidade da saúde mental.
Informe ENSP: Quando a Terapia Comunitária Integrativa foi implementada dentro da Escola Nacional de Saúde Pública?
Zelia Andrade: A TCI acontece na ENSP há mais de uma década com poucos profissionais atuando. Desde então, ocorre com regularidade no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), continuando de modo remoto a partir do isolamento social pela Covid-19.
Informe ENSP: Está acontecendo o primeiro curso de Formação em TCI organizado pelo Espaço PICS Ensp. Onde estão sendo realizadas as aulas do curso? Quantos profissionais estão se formando nesta primeira turma? Qual o tempo de duração do curso? Onde esses formandos irão atuar?
Zelia Andrade: Essa é a primeira capacitação organizada pelo Espaço PICS ENSP, que foi criado no 1º semestre de 2020 para agregar os profissionais dos departamentos com formações em PICS para a assistência aos trabalhadores, estudantes, estagiários e usuários dos serviços de saúde da ENSP, além de ensino e pesquisa. O curso é na modalidade híbrida, sendo que as aulas presenciais aconteceram no Cesteh e, atualmente na EPSJV pelas dificuldades de acesso às salas do prédio principal da Ensp no contexto da pandemia da Covid-19. São 12 os profissionais inscritos e contamos que todos possam concluir. O curso teve início em novembro de 2021 e vai até junho de 2022. A carga horária é de 240 horas e para a certificação são necessárias a realização de 30 rodas, por cada aluno. Os formandos assinaram um termo de compromisso para atuarem em quaisquer departamentos e serviços da ENSP por um período mínimo de dois anos.
Informe ENSP: Quais os planos para a Terapia Comunitária Integrativa na ENSP?
Zelia Andrade: O planejamento é que com o aumento do número de terapeutas comunitários as rodas de TCI sejam ofertadas com regularidade e para todos os públicos da Ensp. O CSEGSF oferece rodas para usuários da ESF e rodas específicas para mulheres de Manguinhos onde lideranças comunitárias compartilham as inquietações causadas pelos problemas sociais perenes. Em parceria com o Espaço PICS, o SGT por meio do Programa de Qualidade de Vida vem ofertando rodas para os trabalhadores e a Vice-Direção de Ensino para estudantes.
Informe ENSP: Quando as novas terapeutas irão ofertar rodas na ENSP?
Zelia Andrade: Logo após o início do curso já podem começar o treinamento ofertando rodas e isso já está acontecendo, sendo que as rodas on-line têm a supervisão de professores do curso.
Para saber mais sobre a TCI é só acompanhar o Informe ENSP. O gestor que desejar a realização de rodas podem solicitar pelo e-mail pics@ensp.fiocruz.br
*Texto escrito pela pesquisadora, terapeuta e integrante do GT PICS Zelia Pimentel Andrade
*Entrevista realizada por Thamiris Carvalho
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