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Evento expõe desafios dos Trabalhadores da Saúde Indígena

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Publicado em:10/12/2021
“Somos trabalhadores da saúde indígena. Sabemos da nossa invisibilidade, temos consciência disso. Somos quase 20 mil trabalhadores, dos quais 52% aproximadamente não têm reconhecimento como categoria profissional. Somos invisibilizados pelo espaço onde trabalhamos, pela dificuldade de acesso, pela ausência de informações e de tudo o que é necessário para se desenvolver um bom trabalho”. A fala da indígena Carmem Pankararu, presidente do Sindicato dos Profissionais e Trabalhadores da Saúde Indígena (SindCopsi), não só expôs a difícil realidade do contingente de trabalhadores que prestam assistência aos povos indígenas, como também evidenciou os inúmeros desafios que a pesquisa “Os Trabalhadores da Saúde Indígena: Condições de Trabalho e Saúde Mental no Contexto da Covid-19 no Brasil”,  lançada pela Fiocruz, terá pela frente. O evento de apresentação do estudo aconteceu na terça-feira (7/12), com transmissão da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz.



Lançada no dia 2 de dezembro, a pesquisa revelará o perfil sociodemográfico, a jornada de trabalho, as condições, o nível de proteção durante o exercício da atividade, além das alterações provocadas pela pandemia na vida pessoal e profissional de mais de 20 categorias profissionais que atuam na saúde indígena. No evento, pesquisadores, gestores, representantes dos trabalhadores e da sociedade civil organizada estimaram os desafios da rede de atenção à saúde dos povos indígenas e falaram sobre as expectativas em relação à pesquisa realizada pela Fiocruz.

“A partir dessa pesquisa, poderemos, de fato, traçar a situação das condições de trabalho, vida e saúde mental de todos os trabalhadores de saúde do Brasil no contexto da Covid-19. Os resultados nos permitirão traçar um panorama, em especial, desse contingente de trabalhadores que possui uma realidade difícil e tão necessária para os povos da nossa terra”, afirmou Maria Helena Machado, coordenadora do estudo.

Carmem Pankarau completou: “Temos a expectativa de que a pesquisa revele a necessidade de se discutir a política de recursos humanos e quantifique as vítimas da Covid-19. Até hoje, não sabemos quantos foram acometidos, quantos se contaminaram, quantos morreram e qual foi o estrago da pandemia nos trabalhadores da saúde indígena. Nós, que fazemos parte desse coletivo, estamos empenhados em trazer o melhor resultado possível para a pesquisa. Juntos somos mais fortes”.

Momento de aprender

O coordenador do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, Carlos Gadelha, destacou que a saúde do trabalhador é um tema prioritário para a instituição. Em relação às populações em condições de vulnerabilidade, disse que deve haver uma mudança de perspectiva na forma de enxergá-las. “Nossas populações vulnerabilizadas não são vulneráveis e invisíveis; nós é que não temos mecanismos políticos e institucionais para vê-los e aprender com eles. A forma como se cuida da população originária e a forma como se cuida de quem cuida dessa população, de alguma forma, retrata essa sociedade atual”, admitiu.

Gadelha reforçou que a equipe responsável pela pesquisa deve ter habilidade para ouvir e aprender em conjunto com os povos indígenas e os trabalhadores que os assistem. “Não se trata de ensinarmos o que se deve fazer, mas de dialogarmos com as populações e com quem as cuida, para aprendermos. Se tivéssemos aprendido com a população indígena a relação homem-natureza e sobre como devemos conviver com o planeta, não estaríamos sofrendo com um modelo excludente e insustentável. Esse projeto é um projeto de escuta, de aprendizado comum, de construção coletiva. E isso é a cara do CEE e da Fiocruz do futuro. É um projeto singelo com um objeto específico, uma metodologia específica, mas estamos falando de democracia, de SUS e de equidade, que são as bandeiras de nosso congresso interno”.

O Congresso Interno também pautou a fala do diretor da ENSP, Marco Menezes. Ele destacou a importância do lançamento da pesquisa na véspera de abertura de um dos momentos mais importantes da Fundação. “Devemos olhar para dentro e para fora da nossa instituição. A Fiocruz vive um momento importante do seu processo democrático participativo, o que valoriza o lançamento da pesquisa. A forma como será realizada defende, valoriza a democracia do nosso país e dialoga com a sociedade civil organizada. E falamos de uma democracia em defesa de uma ciência livre. E essa é uma mensagem que a pesquisa nos deixa”. 


Antonio Alves, gerente de Saúde do SindCopsi, revelou que a pesquisa é estratégica para dar visibilidade à atuação de um grupo de profissionais invisibilizados e que trabalha com uma população invisível e cercada de preconceitos. “O estudo mostrará a realidade desses trabalhadores. A partir dos resultados, o Estado brasileiro tem que implementar políticas que melhorem a contratação precarizada, que gera uma condição de instabilidade capaz de afetar a saúde e a segurança desses trabalhadores”.

Um povo explorado e violentado

O Vice-presidente da Asfoc, Paulo Garrido, declarou apoio do Sindicato da Fiocruz e da Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid19 - Vida e Justiça ao do estudo. “A situação dos povos originários é um sensível termômetro da realidade de um processo de séculos de destruição. Reafirmo nossa militância e total disponibilidade e interesse em apoiar, divulgar e trabalhar em conjunto com essa inciativa fundamental para reparar danos e formular políticas públicas que possam contribuir para um país socialmente mais justo”, salientou.

Já o diretor de Saúde do Trabalhador da Federação Interestadual dos Odontologistas (FIO), Anselmo Dantas, colocou todas as entidades à disposição do estudo que, segundo ele, está sendo lançado no momento em que o sofrimento psíquico no Brasil alcançou “níveis estratosféricos”. “Os povos indígenas são sentinelas desse nível de deterioração, exploração e violência em nosso país. Cumprimento a Fiocruz pela série de estudos sobre as Condições de Trabalho, em especial sobre os trabalhadores invisíveis. O SUS precisa, e muito, desse tipo de pesquisa porque são espaços para expressar nossas angustias, sofrimentos e nos colocarmos como cidadãos desse país. Reitero o apoio da Fio e todos os nossos companheiros para essa importante tarefa”

Antonio Marcos Freire, vice-presidente Conselho Federal de Enfermagem, enalteceu a parceria de longa data com a Fiocruz. Ele revelou que a enfermagem possui aproximadamente 2 milhões e 600 mil profissionais no Brasil, e que parcela significativa desses profissionais atua na assistência da área indígena. “A pesquisa traz luz a dois pontos importantes. O primeiro, já mencionado, é a questão indígena. E a segunda refere-se aos trabalhadores que prestam serviço a uma área tão discriminada no Brasil. Tivemos, em função da pandemia, um acentuado problema no que diz respeito à saúde dos profissionais de enfermagem, muitas mortes, muitos trabalhadores doentes e vários precisam de assistência complementar pelas sequelas da pandemia. E o que observamos é um descaso por parte das autoridades públicas, em relação aos profissionais de enfermagem. Apostamos nessa pesquisa e vamos investir pesadamente no sistema Cofen e conselhos regionais para que seja exitosa e podermos saber, em curto tempo, o que acontece como a saúde indígena do país”. 

Denise Motta Dau, secretária da Internacional de Serviços Públicos (ISP) Brasil, comentou a relevância de construir mais uma etapa sobre as condições de trabalho dos profissionais da saúde, com foco agora nos trabalhadores que atuam na atenção aos povos indígenas. “Trata-se de mais uma pesquisa densa e aprofundada que a Fiocruz vem gradualmente implementando. É fundamental para que tenhamos dados objetivos e concretos que subsidiem e sensibilizem a sociedade, empregadores, gestores sobre as condições de trabalho em saúde. A Fiocruz pode contar com a Internacional de Serviços Públicos para divulgar a pesquisa para que ela chegue aos profissionais que estão atendendo a população indígena”. 

O coordenador adjunto da pesquisa, Swedenberger Barbosa, finalizou o evento destacando que a pesquisa traz o resgate da dignidade dos povos indígenas. E refletiu lembrando que não é possível ter um mundo melhor sem repensarmos as questões éticas, e a equidade pública, das políticas e a democracia. “É luta. É perseverança, é lutar juntos e estarmos coletivamente nesse projeto como estamos aqui”.


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