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Ceensp debate a importância de melhorias na vida de quebradeiras de coco babaçu

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Publicado em:05/10/2021
O Centro de Estudos Miguel Murat de Vasconcellos (Ceensp) teve como tema Babaçu livre, produção inclusiva e sustentável: modos de vida e trabalho tradicional das quebradeiras de coco babaçu. O evento contou com palestras da pesquisadora do Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA/Ministério da Educação) Sheila Regina Gomes, da professora e educadora do Campo-Caxias/Maranhão Maria da Consolação Gonçalves e do designer e ergonomista do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Luiz Ricardo Moreira. A responsável pela coordenação e moderação da atividade foi a pesquisadora do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP) Liliane Teixeira.

Liliane, em sua fala de abertura, afirmou que esse é um dos casos de sucesso do Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente, pois a pesquisa, a extensão, aproximação com os movimentos sociais e a inclusão das quebradeiras de coco deram certo. O projeto foi iniciado com a ideia de mestrado da pesquisadora Scheila Mendonça, orientado pela pesquisadora do Cesteh. 

A pesquisadora Scheila começou seu trabalho com as quebradeiras de coco em 2013, quando deu início a seu mestrado, por intermédio de colegas da Embrapa, que já estavam com o mesmo projeto desde 2010, sempre focados na melhoria relacionada às produções. ‘’É muito diferente o trabalho delas, com muitas particularidades, pela lógica de produção manual e no chão, ao contrário do contexto em que vivemos. Minha pesquisa foi para fazer a compreensão desse trabalho’’, diz a pesquisadora, explicando o motivo de sua escolha por tal tema.

O objetivo do estudo foi rastrear, no Estado do Maranhão, as diferentes formas de quebra de coco babaçu, realizar análise da atividade de quebra de coco não manual, comparar análise da atividade de quebra nas diferentes formas existentes, implantar intervenções para melhoria nas condições de trabalho e acompanhar e reavaliar as intervenções para melhoria nas condições de trabalho. Além disso, o estudo buscou coprodução com as quebradeiras de coco para o guia de autocuidado da dor e a promoção da articulação política entre o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), os Clubes de Mães, os sindicatos, as associações, a Embrapa e as empresas parceiras financiadoras. 

As coletas de dados tiveram início em novembro de 2017, e a pesquisa aconteceu de março de 2018 a dezembro de 2019. O instrumento de coleta foram três questionários sobre condição de vida, de saúde e características de saúde. Uma das intervenções do estudo para as quebradeiras foi a proposta de uma pausa de dez minutos a cada duas horas de trabalho, para prática de exercícios de autocuidado da dor como extensão lombar em pé, extensão lombar deitada, retração e extensão cervical sentada e extensão dos ombros para essas trabalhadoras. Todos os exercícios foram selecionados e explicados por uma fisioterapeuta, também integrante do projeto, que demonstrava os exercícios por meio de videoaulas, salientou a pesquisadora. 

A professora e educadora do Campo-Caxias/Maranhão Maria da Consolação se dispôs a acompanhar a pesquisadora Scheila em seu trabalho, além de enaltecer a importância da pesquisa para essas trabalhadoras. ‘’Para mim, é de suma importância a participação delas, pois a pesquisa ajudou a amenizar a questão das dores e também os exercícios, melhorando o desenvolvimento de seus trabalhos (das quebradeiras). Isso foi o divisor de águas na vida dessas mulheres esquecidas. Estou satisfeita de ver esse evento mostrando o que foi feito e o que se pode fazer por elas’’, declara a professora. 

Segundo a professora, a pesquisa não ajudou somente as quebradeiras em relação à sua forma de trabalho, mas também à vida de seus filhos, alguns deles portadores de necessidades especiais. Maria relatou que muitas crianças terminavam a primeira parte do ensino básico e ficavam na zona rural, pois onde moravam não tinham como completar os estudos, um problema que assolava tanto as crianças como suas mães. Mas, com o projeto sendo realizado na região, algumas soluções apareceram.  “A partir dessa situação, foi feito um levantamento e entregue às autoridades, para que pudessem ficar cientes desse problema que afetava essa classe de trabalhadoras.

Outra melhoria apontada pela professora foi a inclusão de mais de 500 quebradeiras no programa "Brasil Sem Miséria", bem como o debate da inserção dos produtos da cadeia de babaçu, que consta nos programas de aquisição de alimentos e de alimentação escolar - que conta com mais de 36 mil alunos na Rede Municipal de Ensino -, dependendo apenas da certificação sanitária.

Mesa ergonômica de trabalho 

O designer e ergonomista Luiz Ricardo Moreira, por sua vez, tratou da intervenção ergonômica do projeto. Para ele, a união dos ergonomistas com as trabalhadoras é de suma importância, pois as quebradeiras são especialistas a respeito de suas condições de trabalho, enquanto eles possuem conhecimento insuficiente acerca da realidade onde devem intervir.

Para falar de sua intervenção, Luiz explicou que analisou a forma como as quebradeiras desenvolviam seu trabalho para encontrar uma solução. “Elas ficavam sentadas no chão e sem nenhum apoio, colocando um machado debaixo das pernas, para poderem quebrar o coco. Com isso, as dores nas costas eram recorrentes. Para esse problema, encontramos uma solução: uma cadeira específica para o tipo de trabalho, com espaço para lâmina de cortes e descarte das cascas", explicou ele. 
 
A recepção por partes das quebradeiras, segundo o designer, foi positiva. “Foi muito gratificante, e não tem como não se apaixonar quando vejo a fala de uma pessoa que vive disso, não tem como não se comover como essas mulheres vivem. E a melhor é quando se faz as coisas por prazer’’, acrescenta o ergonomista, salientando a importância de um instrumento de trabalho que facilite os exercícios da profissão desses trabalhadores. 

A análise de dados realizada pelo projeto constatou que de oito dimensões avaliadas – entre pré-intervenção e pós-intervenção –, houve melhoria em cinco delas: limitação por aspectos físicos, dor, aspectos sociais, limitação por aspectos emocionais e saúde mental.



Quebradeiras de coco foi divulgado no Divulga ENSP

A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) criou o “Divulga ENSP”, um projeto que visa apresentar, de maneira mais acessível, alguns resultados e produtos das suas pesquisas com a prerrogativa de aproximar e fazer com que a sociedade, cada vez mais, se apodere deles.

O projeto Ação Educativa Integradora das Quebradeiras do Coco Babaçu do Maranhão dirigida à Formação, ao Fortalecimento da Cadeia de Valor e ao Autocuidado da Saúde foi a primeira pesquisa a ser divulgada pelo projeto. A pesquisa contou com financiamento do Edital Inova Fiocruz - Geração de Conhecimento e foi coordenada pela pesquisadora da ENSP Liliane Teixeira. Trata-se de um estudo cujo resultado gerou vários outros produtos para beneficiar o trabalho dessas mulheres quebradeiras de coco.  
 
Um dos objetivos da pesquisa foi identificar e analisar as características de vida e trabalho das quebradeiras de coco babaçu, o que gerou o conhecimento do histórico organizacional, perfil socioeconômico, condições de vida e de trabalho das quebradeiras e sua rede de apoio.  Esses resultados geraram um novo produto, a Tese de Doutorado de Scheila Regina Gomes Alves Vale, do Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente da ENSP, intitulada “Intervenção Ergonômica nas Situações de Trabalho de Quebradeiras de Coco Babaçu no Estado do Maranhão do Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente”, que avaliou o trabalho de 275 quebradeiras de coco babaçu no município de Itapecuru-Mirim/MA por meio da Análise Ergonômica do Trabalho (AET).




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