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'Radis' relata histórias de resistência às políticas de devastação ambiental e preservação da biodiversidade brasileira

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Publicado em:01/09/2021

No discurso oficial, uma floresta que tomba e dá lugar a pastagens e plantações de soja recebe o nome de progresso. É a ampliação das fronteiras agrícolas, o Brasil que precisa crescer. Mas, para povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outras populações tradicionais do campo e da floresta, esses são sinais de devastação e morte. Vistas por vezes como entraves ao desenvolvimento econômico, as comunidades tradicionais atuam na busca de alternativas e soluções que reduzam o impacto do desmatamento, da degradação ambiental e de incêndios criminosos e garantam a sobrevivência de seus territórios. Indígenas e quilombolas são guardiões da floresta contra o avanço da soja, do boi, do garimpo e do fogo. Na reportagem de Luiz Felipe Stevanim, a Radis traz algumas histórias que mostram como esses povos têm se organizado para resistir às políticas de devastação ambiental e preservar a biodiversidade brasileira.

Amazônia pede socorro

Alessandra Korap é filha dos igarapés. Como uma mulher-peixe, ela cresceu nas águas que cortam a Reserva Praia do Índio e alimentam o curso médio do Rio Tapajós, na altura do município de Itaituba, no Sudoeste do Pará. Seus filhos e parentes também nasceram ali e se banharam no mesmo rio e nos mesmos igarapés, assim como seus antepassados. São águas que carregam memórias. Indígena do povo Munduruku e mãe de dois filhos, ela narra que viu a chegada de garimpeiros, madeireiros e grandes empreendimentos como portos graneleiros — “as dragas mexem no fundo da água” e arrastam sujeira e lama para dentro das terras indígenas. “Todos esses empreendimentos estão deixando a água suja, matando os nossos peixes, contaminando os rios e trazendo pessoas para invadir cada vez mais as terras com olhar de ambição”, alerta.

Os invasores chegam como se aquela fosse “uma terra sem lei”, conta Alessandra — ocupam territórios indígenas ou unidades de conservação para atividades de garimpo ou extração ilegal de madeira. “A Amazônia não é mais aquela floresta toda limpa e bonita”, afirma. Leia a reportagem completa.

Estamos de frente a uma ofensiva

Franciléia Paula aprendeu a colher as histórias de seus avós e pais como quem retira uma fruta do pé. Nos relatos que falavam de solidariedade e partilha nas comunidades quilombolas do Pantanal mato-grossense, desde criança ela foi entendendo que o preparo do alimento — do plantio até a colheita, passando ainda pela elaboração de receitas e pelo despertar dos sabores — era uma prática coletiva. “Nos meses de julho a agosto era o tempo de preparar a roça de toco ou coivara, e depois esperar a primeira chuva de outubro para plantio do arroz de noventa dias que era colhido em janeiro”, escreve, recuperando as memórias de infância. O “muxirum” — palavra de origem indígena que foi incorporada nas roças quilombolas — marca todo o percurso do alimento, em que a comunidade se reúne, em mutirão, para o trabalho com a terra.

Práticas ancestrais de agricultura dos povos pantaneiros, como o muxirum e as roças de toco, são fundamentais para o manejo agroecológico dos sistemas agrícolas, explica Fran, como é conhecida, engenharia agrônoma, quilombola, pantaneira e educadora popular da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase) no Mato Grosso. Saiba mais.

De cara com as chamas

Wa?kairo Xerente aprendeu a conhecer cada sinal dado pelo fogo. As mesmas chamas que deixam um rastro de destruição e morte podem ser aliadas na prevenção dos grandes incêndios florestais. Segundo o costume tradicional do povo Xerente, no Tocantins, o fogo de baixa intensidade é utilizado nos meses que antecedem a estação seca — geralmente entre abril e junho, quando há mais umidade no ar — para queimar palhas e capim seco e evitar que grandes incêndios aconteçam nos meses mais secos do ano. O uso do chamado fogo preventivo, tradição passada pelos anciãos, é uma técnica utilizada pelas brigadas indígenas de combate às queimadas e reconhecida pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), por meio do Programa PrevFogo.

A cada ano, no entanto, as queimadas têm se tornado mais intensas e exigido mais esforços das brigadas. “O fogo vem com mais força a cada ano, devido ao tempo mais seco. A gente atribui isso às mudanças climáticas. Muitos rios secando, como consequência da mão do homem. E esse é um grande desafio: a gente conseguir ter força, equipamentos e acesso à tecnologia para poder conseguir amenizar os impactos causados pelo fogo”, conta Wa?kairo, presidente da Associação dos Brigadistas Xerente, em Tocantínia, no estado do Tocantins.

Segundo ele, para lidar com o fogo é preciso sabedoria, pois enquanto algumas coisas podem ser resolvidas com um passo a passo, o fogo é diferente: “Nós estamos falando de algo que não tem uma receita para se resolver”. Leia mais.

Para acessar a edição de agosto da Radis na íntegra, clique aqui.



Fonte: Radis
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