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No Dia Nacional da Ciência, pesquisadores refletem sobre os desafios na C&T

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Publicado em:08/07/2021
 Neste 8 de julho, dia Nacional da Ciência e do(a) Pesquisador(a), a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) convida a sociedade a refletir sobre a importância da ciência para o futuro do país. Em um difícil contexto acentuado pela pandemia de Covid-19, são enormes os desafios para a ciência e a tecnologia no Brasil e inúmeras as adversidades. Em depoimento ao Informe ENSP, os pesquisadores Ricardo Ventura, Sergio Rego e Luciana Dias Lima discorrem a respeito do impacto dos cortes orçamentários, da onda negacionista, da precarização do trabalho e do desmonte das universidades na produção da ciência.


Ricardo Ventura Santos, pesquisador do Departamento de Endemias Samuel Pessoa e membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

“Ironicamente, é justamente quando vivenciamos um período da história do país em que o convívio com o negacionismo científico se transformou em rotina, cabe a todos nós, pesquisadoras e pesquisadores, nos dedicarmos mais e mais às nossas investigações científicas, o que é intrinsecamente ligado à formação de recursos humanos, como vivenciamos na ENSP e em todas as unidades da Fiocruz. Transbordam as evidências de que os conhecimentos científicos, em diálogo com as demandas da sociedade, são elementos absolutamente fundamentais para a implementação de políticas públicas efetivas e eficientes. Sob condições tão adversas para a prática científica, o que envolve a questão do financiamento e outras modalidades de apoio, a importância da reflexão baseada na ciência nunca esteve tão presente no cotidiano da sociedade brasileira. Sou confiante de que, não muito adiante, recuperaremos e experimentaremos, em nossos cotidianos, valores e perspectivas que, em um passado recente, sequer imaginávamos que poderiam vir a ser tão vilipendiados"

Sergio Rego, pesquisador do Departamento de Ciências Sociais da ENSP, docente do Programa de Pós-graduação em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva da Fiocruz e coordenador do GT de Bioética da Abrasco.
 
Salve o dia 08 de julho, Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico. A data, criada apenas no século XXI, celebra a fundação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e, assim, homenageia todos os que se dedicam à produção do conhecimento científico. É estranho que ainda seja necessário, a essa altura do campeonato chamado vida humana, reafirmar a importância da ciência e daqueles que se dedicam a entender o universo, o mundo, as sociedades humanas e não humanas, os indivíduos, as células e assim por diante.

Mas sim, conhecer melhor a humanidade em todas as dimensões é indispensável para que possamos tentar melhorar a vida e a sobrevida de indivíduos, comunidades e mesmo do planeta. É assustador que vejamos pessoas que, sinceramente ou não, ainda se comportam como os membros da Inquisição católica medieval que condenaram as ideias de Galileu. É imprescindível que os processos educativos, em todos os níveis, se dediquem a estimular a formação de indivíduos com consciência crítica e questionadores, que não se conformem com ilusões e se dediquem a compreender o mundo, as sociedades e os humanos em toda sua complexidade.
 
Luciana Dias Lima, vice-diretora de Pesquisa e Inovação da ENSP, pesquisadora do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde e co-editora chefe da revista científica Cadernos de Saúde Pública.

Vivemos um contexto de enormes desafios para a Ciência e a Tecnologia no Brasil. Desde 2015, observamos cortes orçamentários significativos e progressivos, que restringem os investimentos necessários para suprir as necessidades de uma comunidade científica que se expandiu nas últimas décadas. Isso compromete a situação financeira de diversas agências e fundos – Capes, CNPq, Finep, FNDCT – e impacta na formação de alunos e pesquisadores. Na área da saúde, as dificuldades orçamentárias têm gerado grandes problemas, como a interrupção de pesquisas, a saída de pesquisadores do país, o aumento da taxa de desemprego de mestres e doutores, e a precarização da infraestrutura de pesquisa, envolvendo laboratórios e equipamentos. Podemos ainda acrescentar os movimentos de negação da ciência, o processo de precarização das condições de trabalho e de aumento de aposentadorias sem reposição adequada da força de trabalho. Tudo isso configura um cenário de enormes restrições para o avanço do conhecimento científico, tecnológico e a inovação no país, que exige investimentos sustentados e duradouros.
 
Ainda assim, é preciso enfatizar que os esforços empreendidos pelas instituições acadêmicas e científicas brasileiras têm sido muito significativos. Mesmo sem uma estratégia nacional coordenada para responder de forma satisfatória à crise gerada pela COVID-19, o Brasil se destaca entre os países que mais publicaram sobre o tema. Além disso, cada vez mais cientistas têm procurado sair do diálogo centrado entre pares, adotando outros formatos, linguagens e meios de comunicação, que promovam uma maior aproximação com a sociedade. Não sem razão, estudos mostram uma maior valorização da Ciência por parte significativa da sociedade, que requer cada vez mais informações qualificadas decorrentes de estudos científicos. Recentemente, também tivemos uma boa notícia com a proibição do contingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) pelo Congresso Nacional, principal instrumento de fomento à ciência, à tecnologia e à inovação no país.
 
No dia nacional da Ciência e do(a) Pesquisador(a) precisamos refletir sobre a importância da ciência para o futuro do nosso país. São muitos os desafios que temos pela frente. É necessário investir em educação de qualidade e na educação voltada para a formação de pesquisadores, ampliar os recursos e recompor a força de trabalho no setor, criar estratégias de fomento e incentivo e marcos legais adequados, melhorar a qualidade da pesquisa, e reforçar a inovação socialmente e ambientalmente responsável e comprometida. Uma ciência que contribua para a redução das desigualdades, e para a melhoria das condições de vida e saúde em nosso país.


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