Confira entrevista sobre novo e-book que traz relatos de experiências de profissionais do SUS
Publicado em:13/05/2021
A Escola de Saúde Pública do Estado de Minas Gerais (ESP-MG) formou sua 39ª turma do curso de especialização em Saúde Pública. Para celebrar a conquista, a instituição promoveu o webinário Quando a experiência move a formação para o SUS: a força da Educação Permanente em Saúde, no dia 20 de abril. Na ocasião, foi lançado o novo e-book da editora ESP-MG, intitulado Tecendo experiências no SUS: narrativas de profissionais da Saúde Pública de Minas Gerais, de autoria dos estudantes do curso de especialização, organizado pelas professoras e coordenadoras do curso, Amanda Soares e Thais Silva. A obra teve posfácio redigido pela vice-diretora da Escola de Governo em Saúde da ENSP e coordenadora da Secretaria Técnica e Executiva da Rede Brasileira de Escolas de Saúde Pública (RedEscola), Rosa Souza. Ela falou sobre o livro ao Informe ENSP, juntamente com as organizadoras da obra e os formandos do curso de especialização em Saúde Pública da ESP-MG. Confira a seguir:Como os relatos de sanitaristas recém-formados, enquanto trabalhadores do SUS, podem contribuir para o fortalecimento da Saúde Pública? E como a importância da formação em Saúde Pública com abordagem interprofissional se reflete nas narrativas apresentadas no livro?
Rosa Souza: A bela tessitura com a qual nos brindam as/os sanitaristas formadas/os pela Escola de Saúde Pública de Minas Gerais, dentro do escopo da parceria firmada entre a ENSP e a Secretaria de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde (SGTES/MS), coordenado nacionalmente pela Rede Brasileira de Escolas de Saúde Pùblica (RedEscola), corresponde a uma síntese do cotidiano do trabalho vivo dos profissionais que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS), no estado de Minas Gerais.
A obra Tecendo experiência no SUS: narrativas de profissionais da Saúde Pública de Minas Gerais, organizada por Amanda Nathale Soares e Thais Lacerda, nos desperta um misto de encantamento e reflexão que ao mesmo tempo nos convida a conjugar racionalidade e subjetividade e nos (en) leva a sentir a vida que permeia a formação em articulação com o cotidiano do trabalho em saúde.
Os encontros e a dinâmica presentes nos territórios são descortinados a cada narrativa com as singularidades presentes nos retalhos que se unem em uma costura coletiva, que contribui significativamente para que o Sistema Único de Saúde (SUS), patrimônio da sociedade brasileira, continue vivo, pulsando, existindo e resistindo como um direito de cidadania para todas as brasileiras e brasileiros.
O contato com a riqueza das experiências oferecidas nessa obra traz aconchego, conforto, esperança e a certeza de que a aposta na defesa da Saúde Pública é mais necessária do que nunca!
Diante do cenário complexo marcado pela grave crise sanitária, social e econômica, jamais vista em nosso país e no mundo, esta iniciativa toma a aproximação com as vivências na diversidade como um dispositivo onde a educação e a saúde se entrelaçam, entremeadas pelo afeto. A força criativa de cada retalho, traduzida pelas experiências e vivências trazidas nas distintas narrativas, reforçam a potente força transformadora que habita nos sujeitos que atravessam e são atravessados pelo SUS no campo da Saúde Pública.
Aproveitando parte do título da obra, é possível perceber a abordagem da interprofissionalidade, desde as diversas práticas compartilhadas, pelos autores de distintas graduações, até a força das interações e dos vínculos com os usuários, com as famílias do sistema de saúde, apresentadas na delicadeza das costuras que unem a estética, a diversidade e a identidade dos retalhos tecidos no mundo do trabalho, espaço privilegiado de produção de conhecimento e de cuidado. É especialmente neste universo que observamos o reflexo da educação interprofissional na saúde, pois, só é possível promover trocas efetivas a partir de uma construção coletiva do aprendizado e do exercício da prática do cuidado.
A Escola de Saúde Pública de Minas Gerais (ESPMG) é uma instituição reconhecida na formação de trabalhadores no e para o SUS. O curso de especialização em Saúde Pública é uma oferta educacional de referência nacional que, em 2017, recebeu o certificado de acreditação pedagógica conferido pelo Comitê de Acreditação Pedagógica da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). A introdução de práticas pedagógicas inovadoras, no sentido de qualificar cada vez mais os processos formativos, integra um conjunto de iniciativas que vêm sendo empreendidas pela ESP-MG visando melhorar a qualidade da Atenção à Saúde.
Finalizo reforçando o quanto as narrativas compartilhadas pelas alunas/os do curso de especialização em Saúde Pública, agora sanitaristas, contribuem para o fortalecimento da Saúde Pública no estado de Minas Gerais, especialmente pelo rico aprendizado que nasce das experiências apresentadas.
Por que o conceito de ‘experiência’ foi escolhido como linha condutora da narrativa do livro e linha principal da metodologia do curso de especialização em Saúde Pública? E qual a importância do relato de experiências de profissionais de saúde na formação de sanitaristas para o SUS?
Amanda Soares: Juntamente ao referencial da Educação Permanente em Saúde, escolhemos o conceito de experiência, sob a perspectiva de Jorge Larrosa Bondía, como ideia-força da disciplina de Metodologia Científica do curso, durante a qual os relatos que compõem o livro foram elaborados. A escolha nasceu diante do desejo e da necessidade de rompermos com modos de produção de conhecimento instituídos no meio acadêmico, considerando que atuamos em uma escola cuja constituição identitária ampara-se no compromisso com a valorização dos saberes e das práticas dos trabalhadores do SUS. O conceito de experiência nos ajudou a discutir com as/os alunas/os as diferentes situações que as/os tocavam/afetavam no cotidiano de trabalho no SUS e a construir a compreensão de que elas/es, alunas/os-trabalhadoras/es do SUS, são como um território de passagem, no qual uma experiência acontece e produz distintos efeitos. Além disso, no contexto da disciplina, o conceito de experiência nos ajudou a constituir um exercício contínuo de problematização sobre o lugar dos trabalhadores do SUS na produção de conhecimento.
Conte como surgiu a ideia de lançar o livro Tecendo experiências no SUS: narrativas de profissionais da Saúde Pública de Minas Gerais.
Thais Lacerda: Podemos dizer que a ideia surge do fascínio e do encanto com as experiências de trabalho compartilhadas com e entre trabalhadores do SUS na sala de aula. Ouvir relatos de encontros que transformam e dão sentidos distintos para o trabalhador, em sua relação com o usuário, com a família e/ou com colegas de trabalho, movimentou em nós o desejo de ampliar as possibilidades de compartilhamento de experiências que são construídas ali, no dia a dia de trabalho. A questão-convite para a produção das narrativas pelos trabalhadores do SUS foi: o que “as/os passaram, as/os tocaram” no cotidiano de trabalho no SUS? A proposta do livro é dar visibilidade a diferentes experiências vivenciadas por trabalhadoras/es no SUS, com destaque para suas composições mais sensíveis, e convidar os leitores-interlocutores a construírem processos reflexivos sobre o cuidado, a gestão e a educação no SUS.
O livro busca, ainda, se somar à intencionalidade da Rede Brasileira de Escolas de Saúde Pública (RedEscola) de fortalecer a formação do sanitarista e de compartilhar diferentes experiências das escolas na formação no e para o SUS. A ESP-MG, como integrante da RedEscola, é sempre muito mobilizada pelas discussões realizadas na Rede a construir e compartilhar processos de formação que valorizem os saberes dos trabalhadores e que deem lugar para as diferentes experiências vivenciadas no cotidiano do SUS.
Como vocês acham que o curso de especialização em Saúde Pública poderá contribuir para o exercício de sua profissão enquanto trabalhador do SUS? E como vocês avaliariam a metodologia aplicada no curso?
Sanitaristas da 39ª Turma do curso de especialização em Saúde Pública da ESP-MG: O curso nos possibilitou aprofundar nossa compreensão sobre o campo da Saúde Pública, sobre o SUS e sobre a atuação como sanitarista, nos fazendo repensar nossos processos de trabalho e buscar uma atuação mais integrada, amparada no reconhecimento de todos os saberes e na importância dos diferentes profissionais para a construção do cuidado em saúde. As discussões realizadas nas diversas disciplinas contribuíram para expandirmos nossos conhecimentos sobre o trabalho em saúde, em um diálogo contínuo com as nossas experiências e com os nossos saberes. A partir da Educação Permanente em Saúde e com ênfase na interdisciplinaridade, fomos muito motivados a discutir e construir novas práticas de trabalho, mais fundamentadas nos referenciais da saúde coletiva, mais inspirados nos princípios do SUS e mais direcionadas para as necessidades de saúde da população. Pudemos compreender que o SUS só se faz vivo e efetivo se contar com a participação ativa de trabalhadores, usuários e gestores. Nesse sentido, a ESP-MG, ao ofertar uma formação tão potente, nos permite fortalecer o cuidado no SUS-MG e nos convida a atuarmos mais ativamente no importante processo de construção e de defesa do SUS!
Acesse aqui o e-book Tecendo experiências no SUS: narrativas de profissionais da Saúde Pública de Minas Gerais
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