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Contaminação por mercúrio se alastra na população Yanomami

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Publicado em:16/08/2019
Filipe Leonel

Contaminação por mercúrio se alastra na população YanomamiUm novo estudo realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) na população indígena Yanomami constatou presença de mercúrio em 56% das mulheres e crianças da região de Maturacá, no Amazonas. As 272 amostras de cabelo analisadas superaram o limite de 2 microgramas de mercúrio por grama de cabelo tolerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2018, o Brasil promulgou a Convenção de Minamata, um acordo global que não estabelece limite seguro de exposição.
 
O metal faz parte de um processo tradicional utilizado no garimpo para viabilizar a separação do ouro dos demais sedimentos. A TI Yanomami, que possui 9 milhões de hectares, cerca de 27 mil pessoas, e mais de 300 aldeias distribuídas pelo território, concentra atualmente mais de 15 mil garimpeiros ilegais, segundo reportagem da Agência Pública.
 
“O mercúrio é disseminado pelas águas dos rios, e a contaminação de seres humanos se dá especialmente por meio da ingestão de peixes contaminados. O trabalho na região de Maturacá partiu uma demanda da própria comunidade, que ficou sabendo da pesquisa realizada em 2016 que revelou altos níveis de contaminação”, afirmou o coordenador da pesquisa, Paulo Basta, lembrando que, há três anos, estudo da ENSP na comunidade Yanomami de Aracaçá, na região de Waikás, em Roraima, chegou a encontrar contaminação em mais de 90% das pessoas examinadas. Vale lembrar que a aldeia de Aracaçá encontra-se às margens do Rio Uraricoera, o mais atingido pela nova febre do ouro.
 
O mercúrio provoca alterações diretas no sistema nervoso central, causando problemas de ordem cognitiva e motora, perda de visão, doenças cardíacas entre outras debilidades. A susceptibilidade infantil é grande em função da imaturidade do sistema imunológico e do sistema nervoso central, principalmente durante a fase intrauterina. 
 
De acordo com a pesquisadora Sandra Hacon, integrante do grupo de pesquisa, o metal age no metabolismo celular, nas organelas celulares e, por isso, tem efeito difuso. “Todos os órgãos podem ser afetados. Em relação às crianças que estão em processo de formação, os danos são ainda maiores. No adulto, com a contaminação crônica, há tremores, disfunções de sensibilidade, dificuldade para caminhar, segurar objetos, perda de visão e audição, alteração no paladar. Esses sintomas são genéricos. Os profissionais de saúde desconfiam de qualquer coisa, menos da contaminação de mercúrio”.      
 
O coordenador da pesquisa, além de lamentar a ausência de diretrizes para caracterizar o estado clínico da população contaminada, enfatizou a necessidade de implementar ações de conscientização entre os profissionais de saúde para melhor entendimento do diagnóstico da contaminação de mercúrio. 
 
“Diferente de outras doenças de notificação compulsória, por meio das quais o sistema de saúde toma conhecimento do evento, gera uma ficha de notificação e contabiliza estatisticamente o caso, a contaminação por mercúrio não dispõe de um sistema oficial de registro. Já existe uma farta literatura demonstrando a contaminação na região amazônica, inclusive nas populações indígenas, mas falta estabelecer a relação entre os níveis de contaminação e os sintomas”, esclareceu. 
 
Com o intuito de avançar nessa lacuna do conhecimento, o grupo de pesquisa está montando um projeto mais amplo em Munduruku, na bacia do Rio Tapajós do Pará, em outubro, onde serão agregados avaliação clínica neurológica, aplicação de testes rápidos para diagnóstico de outras doenças transmissíveis, investigação de polimorfismos genéticos em genes envolvidos com a metabolização do mercúrio entre outras ações. “Toda essa estratégia tem a finalidade de avançar no conjunto do conhecimento para ser utilizado em ações em prol da população indígena”, afirmou Paulo.
 
A pesquisa é realizada em parceria com o Laboratório de Toxicologia do Mercúrio da Sessão de Meio Ambiente do Instituto Evandro Chagas, no Pará, com Unicef, Sesai e Funai. 

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