Em nova parceria, ENSP analisará contaminação por mercúrio em indígenas e povos tradicionais da floresta no Amapá
A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, em parceria com a Universidade Federal do Amapá (Unifap), a Pontifícia Universidade Católica, a WWF-Brasil e o Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), analisará a contaminação ambiental por mercúrio e os impactos à saúde em comunidades tradicionais e áreas indígenas do Amapá, provocada pela exploração do garimpo na região. O novo trabalho tem como base a pesquisa desenvolvida pela ENSP na Terra Indígena (TI) Yanomami, divulgada no primeiro semestre deste ano. Numa determinada aldeia da TI Yanomami, todos os indígenas avaliados apresentaram níveis de mercúrio em amostras de cabelo acima dos níveis aceitáveis pela OMS. O trabalho que se desdobra agora, coordenado na ENSP pelos pesquisadores Paulo Basta, Sandra Hacon e Claudia Vega, tem como meta a construção de um Observatório de Mercúrio na Amazônia, cujo propósito é divulgar as pesquisas desenvolvidas na região, sobretudo em comunidades tradicionais, além de dar suporte à elaboração de políticas públicas.
No último dia 5 de outubro, o grupo de pesquisa da ENSP reuniu-se com Décio Yokota, coordenador executivo adjunto do Iepé, Marcelo Oliveira, especialista de conservação da WWF-Brasil, e os professores Carlos Sanchez e Myriam Mendes, da Unifap, para traçar o planejamento de trabalho. As análises serão realizadas no interior das Unidades de Conservação do Amapá, que englobam um parque nacional, uma reserva de desenvolvimento sustentável e uma floresta nacional, além de duas terras indígenas. Segundo estimativa do Iepé, 7 mil indígenas vivem no Amapá.
O representante da WWF-Brasil revelou a existência de pesquisas, elaboradas pela própria organização, com foco na contaminação de peixes por mercúrio. Um desses estudos apontou presença do metal pesado em 81% das amostras analisadas. Esses dados podem indicar a contaminação em humanos. “Nas amostras de peixe em que se detectou presença de mercúrio, mais de 50% possuíam níveis acima do indicado pela Organização Mundial da Saúde como tolerante ou não prejudicial”, relatou.
Ainda de acordo com Oliveira, o Brasil, como signatário da Convenção de Minamata, tem investido muito pouco no controle do uso do mercúrio. “Nossa proposta de trabalho é construir uma agenda positiva. O passo, agora, é entender a contaminação nas populações tradicionais daquela região. Não propomos uma agenda crítica ao governo, ao garimpo, nem coibir totalmente a exploração. Queremos encontrar alternativas positivas para todos, e, nesse contexto, o link com a saúde pública é fundamental”, ponderou.
O coordenador adjunto do Iepé destacou a principal semelhança do atual estudo com a pesquisa desenvolvida na TI Yanomami. “O interesse em entender a contaminação por mercúrio nessa região surgiu a partir da demanda dos próprios indígenas. Eles têm interesse em compreender o impacto do garimpo e como isso pode trazer consequências à sua saúde, até porque há o entendimento espiritual da contaminação daquele lugar. Nas primeiras conversas para a elaboração dessa proposta, fomos informados que não há esse tipo de levantamento para essas populações no Amapá, o que aumenta o interesse da parceria com a ENSP/Fiocruz para trabalharmos na região e respondermos às demandas da população”, explicou Décio.
Os professores da Universidade Federal do Amapá destacaram sua aproximação com os povos indígenas e reiteraram a importância em responder às demandas da população. “Esse retorno à população, previsto no trabalho, é fundamental, uma vez que, por estarmos presentes na região, possuímos grande vínculo com os povos indígenas”, afirmou Sanchez.
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