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Hora de ouvir e ser ouvido: debate aberto na ENSP falará da crise política no dia 30/3

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Publicado em:29/03/2016

A Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca abrirá suas portas, na próxima quarta-feira, dia 30 de março, a partir das 9 horas, para um amplo debate sobre a atual conjuntura política. Tribuna livre, em defesa da democracia e dos direitos sociais é o nome do evento, que contará com a presença de sanitaristas, cientistas sociais, artistas e de quem mais quiser se expressar sobre a crise política e econômica que está convulsionando a vida nacional. Participe. O encontro é aberto ao público e não será necessária inscrição.

Partindo da compreensão de que são as pessoas mais pobres e vulneráveis que sofrem as piores consequências quando a democracia é atacada, a ideia da tribuna é articular uma rede de resistência. As conquistas constitucionais, como o direito a voto, saúde e às políticas de distribuição de renda, custaram o sangue e o suor de muitos brasileiros e não podem ficar desprotegidas em um momento como esse.

Já confirmaram presença no evento os seguintes nomes:

- José Gomes Temporão, sanitarista e ex-ministro da Saúde, atualmente diretor executivo do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde (Isags);
- Paulo Amarante; pesquisador da ENSP;
- Marcelo Freixo, deputado estadual pelo PSOL-RJ;
- Eliomar Coelho, deputado estadual pelo PSOL-RJ;
- Carlos Minc, deputado estadual sem partido;
- Mauro Iasi, pesquisador e integrante do PCB;
- Ana Tereza da Silva, do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes);
- José Carvalho de Noronha (Icict/Fiocruz);
- Roberto Medronho, diretor da Faculdade de Medicina da UFRJ;
- Pablo Vasquez (Cremerj);
- Paulo Pinheiro, vereador pelo PSOL/RJ;
- Reimont Otoni, vereador pelo PT/RJ;
- Maria Inês Bravo, do Fórum de Saúde do RJ;
- Lúcia Souto (Frente Brasil Popular);
- Luís Tenório;
- Lígia Bahia (UFRJ);
- Antônio Modesto da Silveira (advogado e defensor dos direitos humanos e de vítimas da ditadura militar);
- Thiago França (vice-presidente do Coren);
- Enfermeira Rejane (deputada estadual do PC do B);
- Roberto Leher (reitor da UFRJ);
- Flavio Serafini (deputado estadual do PSOL);
- Juliana Fiúza (Nova Organização Socialista);
- Leandro Farias (Movimento Chega de Descaso);
- Rodrigo Lima (CRESS-RJ);
- Maria Inês Bravo (Frente Nacional contra a Privatização da Saúde);
- Marília Guimarães (presidente da Rede de intelectuais, artistas e movimentos sociais em defesa da humaidade - capítulo Brasil);
- Gisele Martins (Núcleo Piratininga de Comunicação - NPC);
- Monica Mourão (Intervozes);
- Carlos Gonçalves (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré – CEASM);
- Claudia Rosé (Museu da Maré);
- Leonardo Mattos (Setorial de Saúde do PSOL);
- Mel Oliveira (Movimento Nacional da Luta Antimanicomial – Núcleo RJ);
- Marcelo de Luca (Sindicato dos Nutricionistas do RJ – SINERJ)
- Jane Camilo e Darcilia (Conselheiras do CGI):
- Turia Matos (ONG Mulheres de Atitude).

O evento também terá intervenções artísticas. A ideia é promover um debate o mais amplo possível, com o microfone franqueado a todos que quiserem contribuir sobre os rumos da crise política. Na certeza de que a democracia se constrói de mãos dadas e ouvidos abertos, a tribuna livre do dia 30 de março pretende se juntar a outros atos, Brasil afora, na intenção de demonstrar que a sociedade brasileira não aceita retrocessos em seus direitos conquistados.

Serviço:
Tribuna livre: em defesa da democracia e dos direitos sociais
9 horas
Auditório térreo da ENSP
R. Leopoldo Bulhões, 1.480 - Manguinhos - RJ

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10 comentários
EDUARDO S. PONCE MARANHÃO
30/03/2016 13:27
Entrevista concedida a Zuenir Ventura em 1998 para o livro ?1968: o que fizeram de nós? ZUENIR VENTURA -- Você tem sido muito coerente com os princípios da sua juventude. Como foi sua trajetória pós-68? CÉSAR BENJAMIN ? A idade talvez tenha me diferenciado um pouco. Pode ser que eu tenha vivido mais intensamente o sonho de 68 porque tinha 14 anos e não 20 ou 21. É uma diferença grande, nessa fase da vida. Não era sequer universitário, estava terminando o que hoje se chama o primeiro grau. Além disso, para mim, 68 durou 10 anos. Vivi na clandestinidade a partir de 69, até agosto de 71, quando fui preso. Em seguida, tive uma experiência muito marcante, que foi um longo período em solitária. Passei mais de três anos e meio sem ver ou falar com ninguém, sem olhar uma paisagem, sem ter uma notícia do mundo. Enquanto meus amigos viviam outras experiências, como o exílio, eu era confrontado com o silêncio. Isso me conduziu ao limiar de sentimentos e percepções que estão presentes na minha vida até hoje, para o bem e para o mal. ZUENIR VENTURA -- O psicanalista Helio Pellegrino dizia que você só não enlouqueceu porque tem uma cabeça muito boa. Dá para você verbalizar a experiência? CÉSAR BENJAMIN ? Não. É a experiência do silêncio. Como nunca fui condenado, não sabia quanto tempo permaneceria preso. Fiquei cinco anos na prisão, entre 71 e 76, a maior parte no período Médici. A ditadura estava fortíssima, inabalável. Eu era muito jovem, nunca tinha visto a mudança de um ciclo político. Só conhecia a própria ditadura. Estava convencido de que ia ficar pelo menos 20 anos naquela pequena cela. Talvez fosse viver toda a minha vida ali. Me preparei para isso. ZUENIR VENTURA -- Quais foram os momentos mais difíceis? CÉSAR BENJAMIN ? A fase de interrogatórios é sempre muito difícil. Quando eu estava saindo da Polícia do Exército da Barão de Mesquita, um oficial comentou que meu primeiro interrogatório havia durado trinta horas, ininterruptamente. Minha grande lembrança desse período é a sede. Você grita muito e não recebe água, e tudo recomeça. Vi meu corpo secar. É uma lembrança assustadora. Até hoje, quando bebo um copo d´água, faço uma espécie de ritual interior de agradecimento, silenciosamente. Depois, já na CEZINHA - 2 - solitária, um momento difícil foi a noite do golpe militar no Chile, em 73. Os militares vieram comemorar a morte de Allende na minha cela. Foi assim que tive a notícia. Foi o fundo do poço. Depois dos golpes no Uruguai, na Argentina e no Brasil, o Chile era o bastião da resistência. Fiquei muito abalado, chorei. Mas também houve gestos de grande humanidade, que eu gosto de lembrar. Na Polícia do Exército da Vila Militar, eu ficava nu na cela completamente vazia. Os ladrilhos eram muito frios, de modo que eu passava as noites em pé. Com alguma freqüência, os sentinelas me emprestavam mantas nas madrugadas, o que lhes poderia custar a prisão. Eu devolvia as mantas antes do dia clarear. Depois, nesses anos todos, de vez em quando alguém enfiava um jornal por baixo da porta. Isso me permitia recordar em que data estava, pois não era fácil manter a noção do tempo, que é psicologicamente importante. Eu não chegava a ver quem fazia isso, e essas pessoas não poderiam esperar qualquer retribuição minha. Eram gestos gratuitos, de pura bondade. Havia duas datas muito emotivas para mim: o meu aniversário e o Natal. Sempre me esforcei para não deixá-las passar sem que eu percebesse. ZUENIR VENTURA -- Seu aniversário quando é? CÉSAR BENJAMIN ? Cinco de maio. Nesses dias, eu me lembrava muito de uma poesia do Fernando Pessoa chamada ?Aniversário?, que começa assim: ?No tempo em que festejavam o dia dos meus anos / Eu era feliz e ninguém estava morto?. Sempre fui um leitor de Pessoa. Um verso resumia exatamente o que eu sentia: ?O que sou hoje é estar eu sobrevivente a mim mesmo como um fósforo frio.? Tenho também a lembrança forte de um Natal. Eu estava no Batalhão de Manutenção de Armamentos, onde passei a maior parte do tempo, uns três anos. Minha cela era pequena e encravada no chão, sem nenhuma vista para fora. Havia três portas até se chegar nela, duas de grade e uma maciça, a da própria cela. Quando se está preso, é engraçado, a visão tem pouca importância, porque quando se vê uma coisa ela já está junto. Você só vê o que já está acontecendo ao seu lado. Em compensação, a audição se desenvolve de maneira espetacular. Mais do que a audição (pois eu fiquei surdo de um ouvido durante os interrogatórios), é a capacidade de interpretar sons. Eu sabia o que acontecia em volta, fora da cela, interpretando sons. Nessa noite de Natal, pressenti que vinham pessoas em minha direção, porque ouvi o barulho do molho de chaves que abria as três portas. Eu reconhecia esse molho, especificamente, e sabia diferenciá-lo dos outros. ?Vai chegar gente.? Fiquei esperando. Abriram a primeira porta, a segunda, a terceira e entraram na minha cela uns dez ou doze soldados, um CEZINHA - 3 - sargento, um tenente, trazendo uma bandeja de latão com avelãs, aquelas coisas de Natal. Um deles disse: ?Nós estamos de serviço e o quartel nos deu uma ceia. Viemos aqui dividir com você.? Eu tive vontade de chorar ali mesmo, na hora, mas me segurei, sem conseguir dizer nada. Fiquei mudo. Só quando saíram eu me permiti chorar. Foi um desses gestos gratuitos de solidariedade, a que me referi. [nesse momento do relato, Cesinha faz um grande esforço para não chorar] Em outra noite, aconteceu uma coisa parecida, mas engraçada: começaram a abrir as portas de madrugada e eu me levantei do colchão. Entrou uma comitiva militar na cela, fardada, bastante formal, liderada por um general. Ficaram me olhando, sem dizer nada, até que o general perguntou: ?Você está desgostoso da vida?? Eu disse: ?Não.? Todos foram embora, imediatamente. O único diálogo foi esse. Nunca entendi por que um general foi me visitar de madrugada para fazer essa pergunta. ZUENIR VENTURA ? Você nunca pensou em contar essa experiência em livro? CÉSAR BENJAMIN ? Acho que nunca vou contar, porque só escreveria no momento em que me achasse suficientemente maduro para isso. Um homem que consegue contar a sua vida, com algum valor, é um sábio. Acho que nunca vou ser tão sábio. Poderia sair uma coisa mistificada: um menino que lutou, que foi meio herói. A minha vida, porém, é muito mais complexa do que isso. Não saberia contá-la. Preferi continuar em silêncio. ZUENIR VENTURA ? Quando você saiu do PT e por quê? CÉSAR BENJAMIN ? Fui expulso do Brasil em 76 e voltei em 78, antes da anistia, animado com o avanço do movimento pela redemocratização e o ressurgimento do movimento operário. Ajudei a fundar o PT e militei nele, intensamente, até 95. Saí quando comecei a ver coisas muito estranhas. Na verdade, foi um processo que culminou em 94, mas começou em 89. Você deve se lembrar como foi aquela campanha. Aliás, não foi uma campanha, mas um movimento no Brasil inteiro: primeira eleição presidencial depois de décadas! O Lula começou com 2,5%. Não tínhamos nada, mas éramos milhares, cheios de garra. O povo foi entendendo isso. Me lembro de uma noite ali no Catete, em frente a uma loja de televisores, uma pequena multidão de umas 50 pessoas vendo o horário eleitoral, e eu no meio. Eu participava da coordenação do programa de governo da campanha, e naquela noite o nosso programa de TV estava especialmente bem-feito, transmitindo muita autenticidade. Senti uma eletricidade percorrendo as pessoas, uma emoção, um silêncio profundo, emotivo e respeitoso. Cheguei em casa e disse para a minha mulher: CEZINHA - 4 - ?Nós vamos ganhar a eleição?. E ela: ?Você está louco?. Praticamente ganhamos, pois saímos de 2,5% e chegamos a 49%. Paradoxalmente, foi no fim dessa campanha que me acendeu a luz amarela com o Lula. ZUENIR VENTURA ? Como assim? CÉSAR BENJAMIN ? Na reta final, houve o episódio da grosseira manipulação do debate Lula versus Collor na Globo. No dia seguinte, fizemos uma manifestação de protesto na porta da emissora, uns oito mil militantes. A edição do debate foi numa sexta à noite; a manifestação foi no sábado; no domingo foi a eleição. Collor venceu por pequena margem, e a edição do debate foi decisiva para esse resultado. Nos dias seguintes, fui para São Paulo. Lá, logo depois dessa seqüência de eventos, encontrei o Lula, que me disse: ?Cesinha, sabe quem me ligou anteontem?? Como eu não sabia, ele completou: ?O Alberico, da Globo.? Justamente quem tinha feito a montagem do debate, conforme os jornais haviam noticiado. Fiquei calado e o Lula prosseguiu: ?Jantei com eles ontem. Derrubamos três litros de uísque?. Aquilo doeu. Enquanto colocávamos oito mil militantes na porta da Globo, a nossa maior liderança jantava e bebia com a direção da emissora. Ele se justificou: ?Não vou brigar com a Globo, não é, Cesinha?? Ali me acendeu uma luz amarela: algo estava muito errado. O Brizola estava se expondo publicamente, contestando a Globo e defendendo o Lula, enquanto o Lula jantava com a direção da Globo, escondido. Hoje compreendo que, naquele momento, o Brizola começou a ser destruído definitivamente, e o Lula, demonstrando uma espinha muito flexível, começou a desbloquear sua carreira política. Eu não exigiria que ele hostilizasse a Globo, poderia fazer qualquer coisa, mas não derrubar três litros de uísque com eles naqueles dias. Isso me pareceu falta de dignidade pessoal. ZUENIR VENTURA ? Você tem uma explicação para isso? CÉSAR BENJAMIN ? Hoje eu compreendo o que aconteceu. A partir de 89, o Lula passou a ter uma difícil equação política para resolver. Queria ser presidente, e para isso precisava ter um partido político suficientemente forte para sustentar essa pretensão. Mas esse partido não podia ser aquele que havíamos construído, um partido vivo e militante. Com aquele PT, ele seria sempre vetado pela elite do país, como foi em 89. Se queria chegar à presidência, demonstrando-se confiável, precisava transformar o partido em outra coisa. O CEZINHA - 5 - Zé Dirceu ganhou importância porque se tornou o grande operador dessa transformação. O Lula não é um operador. A dobradinha que se formou atendia aos dois: ao Lula, porque a destruição do PT militante pavimentaria o seu caminho à presidência, já na condição de um candidato dos de cima, o que ele sempre quis ser; e ao Zé Dirceu, pois, se tudo desse certo, ele seria o sucessor natural do Lula. Houve uma combinação de interesses. Isso exigia um processo de desmontagem do PT, de transformação do partido numa máquina eleitoral poderosa, mas inofensiva. Foi nessa operação que os dois se lançaram, conjuntamente. Mas a luta política é algo vivo. Em 93 o PT fez um congresso e a nossa chapa ganhou, contra a Articulação. Foi então que eles se deram conta ? isso é uma interpretação minha ? de que o projeto não podia ficar ao sabor do debate de idéias, sempre sujeito a tantas incertezas. Eles teriam que ter algo mais poderoso do que o convencimento. Introduziram no PT uma arma nova: dinheiro. Quem, numa disputa ou numa guerra, introduz uma arma nova, desconhecida, adquire uma superioridade monumental sobre o adversário. É por isso que os chamados ?operadores? ganharam importância: nessa época, Delúbio Soares, por exemplo, era o obscuro representante da CUT no FAT, que é uma enorme fonte de dinheiro. Nenhum de nós pôde perceber, em tempo real, a dimensão da mudança que estava acontecendo, até porque tudo se passava nas sombras. O fato é que a Articulação começou a manejar recursos crescentes. Isso absorveu muitas prefeituras do PT ? Santo André, Ribeirão Preto, muitas outras. Os esquemas foram se multiplicando. Marx tem uma frase em que ele fala no ?poder dissolvente? do dinheiro. Onde o dinheiro domina, as qualidades se dissolvem. Lula e Zé Dirceu foram dissolvendo o PT em um banho de dinheiro, cooptando todos os que podiam cooptar. Patrocinaram uma seleção negativa, que favorecia os piores. ZUENIR VENTURA ? Você não pensou em denunciar ao Lula? CÉSAR BENJAMIN ? Quando comecei a ver gente lombrosiana ganhando cada vez mais importância, procurei o Lula e ele disse para eu não me meter. Foi quando decidi debater na direção nacional o que estava acontecendo: era muito grave! Mas, naquele momento, ninguém mais se propunha a enfrentar o Lula e o Zé Dirceu. ZUENIR VENTURA ? Você tinha provas? CÉSAR BENJAMIN ? Àquela altura, isso não era mais novidade. Na medida em que os esquemas se tornam grandes e influentes, deixam sinais, seus efeitos são percebidos, CEZINHA - 6 - mesmo por quem não tem provas materiais. As notícias começam a circular nos corredores. Decidi então que o gesto que me restava, em nome de 16 anos de militância no PT e em nome da história da esquerda, era fazer um alerta na instância máxima do partido, o Encontro Nacional. Lá, em Vitória, comecei a tratar do assunto da tribuna, de onde eu avistava o plenário e a mesa. Quando comecei a falar, vi o Zé Dirceu se levantar, ficar de costas para a mesa e de frente para o plenário. Enquanto eu falava, ele fazia sinais para a turma de Santo André. De repente, meu pronunciamento foi interrompido de maneira violentíssima. Vieram para me espancar, diante de todo mundo. O meu discurso foi interrompido e instaurou-se o caos. Depois, alguns me contaram por que eles agiram com tanta violência: acharam que eu ia abrir os esquemas. Não ia, simplesmente porque não os conhecia. Mas, como levantei o assunto, eles se apavoraram e partiram para a porrada. Ali foi meu último momento no PT. Como não consegui da direção nacional nenhum debate, escrevi uma carta de desfiliação e saí do partido. Eu nunca me profissionalizei na política, sempre trabalhei como qualquer cidadão e vivi do meu trabalho. Isso garantiu minha autonomia diante da máquina burocrática. Muitos não tiveram essa possibilidade. ZUENIR VENTURA ? Como você está vendo o Brasil? CÉSAR BENJAMIN ? Com pessimismo. Tive uma forte ligação intelectual e afetiva com uma geração de grandes brasileiros, que vem dos anos 30, mais ou menos de Gilberto Freyre até Darcy Ribeiro. Entre eles, temos Sérgio Buarque, Caio Prado, Álvaro Vieira Pinto, Roland Corbisier, que eu não conheci; Celso Furtado, Inácio Rangel e Darcy, que foram meus amigos. São uns 10 ou 12 intelectuais de grande estatura, trabalhando com diferentes perspectivas, freqüentemente divergindo entre si, mas com algo em comum: todos gostavam muito do Brasil e tentavam decifrar o nosso enigma. O horizonte de Furtado era transformar o Brasil em uma economia industrial desenvolvida. O do Caio Prado era completar a transição do Brasil-colônia ao Brasil-nação, processo que ele chamava de revolução brasileira. O do Gilberto Freyre era a potencialidade da cultura de síntese que se formara aqui. O do Darcy, o mais utópico de todos, era o do Brasil como um novo projeto civilizatório para substituir a civilização fria e triste dos países desenvolvidos, que está chegando ao fim. ZUENIR VENTURA ? Era uma geração de otimistas, não?. CEZINHA - 7 - CÉSAR BENJAMIN ? Mas não era um otimismo bobo. Decorria de um enorme trabalho intelectual e de uma inteireza moral. Era um otimismo construído pelo esforço de decifrar o enigma brasileiro e sinalizar caminhos. Até os anos 20 acreditava-se que o Brasil não teria futuro. Havia uma série de argumentos para mostrar isso. A construção da idéia de que somos um país viável, com futuro, é uma reviravolta importante em nossa história. Hoje, estamos perdendo o contato com essa herança. O que me manteve nessa longa militância, dos meus longínquos 13 anos até os meus 53 atuais, foi a crença de que o Brasil vai dar certo. O Darcy dizia: ?Quando o Brasil der certo, vai dar muito certo. Isso aqui vai ser a nova Roma.? Exageros à parte, ele tinha certa razão, porque basta conseguirmos meia dúzia de coisas mais ou menos fáceis e triviais para garantir dignidade a todos e, a partir daí, construir um projeto civilizatório novo. Temos sol, alegria, música, sensualidade, sincretismo, coisas que os países lá de cima não têm. O Darcy inverteu todos os argumentos que eram jogados contra nós: ?Vocês são mestiços, tropicais, resultado da reunião de gente desgarrada do mundo inteiro. Isso aí não pode dar certo.? Ele respondia: ?Isso é que é bom, isso é que vai dar certo!? Eu acho estimulante esse ponto de vista. Mas ele nos incita a buscar caminhos próprios. ZUENIR VENTURA ? Mas pelo jeito, você acha que o Brasil está longe de dar certo, não? CÉSAR BENJAMIN_ A atual crise brasileira é muito grave. E, lamentavelmente, o sistema político que substituiu o regime militar falhou, pois não é capaz de gestar alternativas nacionais consistentes. É comandado, de um lado, por forças supranacionais, que controlam a formulação e a execução da política econômica; de outro, por forças subnacionais, que formam bancadas no Congresso Nacional ? a bancada do agronegócio, da construção civil, das escolas privadas ? e recebem pedaços do Estado em concessão. Fazer política, no Brasil, é gerenciar esse arranjo. Não há nenhuma instância pensando a dimensão nacional e o longo prazo. Não ouvimos falar mais na esperança-Brasil, mas sim no custo-Brasil. Estamos saindo da história. Isso me dói. ZUENIR VENTURA ? Mas e o Bolsa Família e o PAC? CÉSAR BENJAMIN ? Ô, Zuenir! O Bolsa Família é uma migalha: transfere 0,3% do PIB. Dá 60 reais a cada família, em média. Isso representa 15 reais por mês por pessoa, 50 centavos por dia, um pãozinho! Se o nosso horizonte de expectativas passou a ser esse, se consideramos isso uma grande conquista, então nos tornamos um povo de quinta CEZINHA - 8 - categoria. O sistema distributivo relevante no Brasil é a Previdência Social, nascida na Constituição de 88, que transfere 8,2% do PIB na forma de direitos, não de favores. Ela está sendo desmontada, gradativamente substituída por esse programa baratinho, que nega direitos e distribui favores, sob aplausos do Banco Mundial. Isso é uma merda. Você fala do PAC. Muitas críticas se podem fazer ao plano de metas do Juscelino ou ao II PND do Geisel, mas eles mudaram o Brasil. Traduziam um esforço intelectual sério, buscavam levar a economia brasileira a novos patamares. O PAC é intelectualmente indigente, é uma reunião de projetos que já estão aí rolando há anos. Juntaram os projetos numa apostila e chamaram de plano. Mas ele não tem visão de futuro, não propõe nenhuma mutação, não tem qualidade. Serve para o Lula viajar, inaugurando insignificâncias e promessas. O aspecto mais relevante, no Brasil contemporâneo, é a ascensão da mediocridade como valor. Não me refiro apenas ao governo, mas à sociedade. Pensamos pequeno, fazemos tudo malfeito e compensamos isso com doses cavalares de marketing. Nem sempre foi assim. No início da década de 1950, o Brasil contratou uma equipe de geólogos, chefiada por um norte-americano, para descobrir petróleo aqui. Eles escreveram um parecer, dizendo que não tínhamos petróleo. O país ficou indignado. Getúlio respondeu, criando a Petrobrás. Hoje sabemos que o laudo não era uma sacanagem, como na época se pensou, pois o Brasil tem petróleo no mar. O laudo estava certo, para os padrões técnicos da época. Mesmo assim, nós reagimos com base na nossa auto-estima, em uma visão de futuro, na crença de que éramos capazes de fazer, e acertamos na mosca. Achamos petróleo inverossímil, a dois mil metros abaixo do nível do mar. O país criou a Petrobrás em 53, quando não tinha técnica, não tinha quadros, era uma economia fraquíssima. Mas ousava. Eu poderia dar muitos exemplos assim. Quando terminou a Segunda Guerra Mundial houve a expectativa de um Plano Marshall para a América Latina, que não veio. Sabe o que o Brasil fez? Criou o BNDES! Havia uma idéia de Brasil que nos permitia reagir ativamente aos desafios vindos do sistema internacional. Nosso lugar natural é muito periférico, Zuenir. Sempre que deixamos o sistema-mundo definir o nosso lugar, fomos para o fim da fila. Só evitamos isso, no século XX, com um grande esforço endógeno. O que perdemos nos últimos vinte anos foi justamente a capacidade de sustentar esse esforço, até mesmo de concebê-lo ou simplesmente imaginá- lo. Estamos indo para o nosso lugar natural. CEZINHA - 9 - ZUENIR VENTURA ? O que seria hoje uma visão de longo prazo? CÉSAR BENJAMIN ? Deixe-me dar um exemplo. Estamos vivendo o fim do ciclo do petróleo, que no século XX se associou às técnicas metal-mecânicas. Há uma nova família de técnicas que será decisiva no século XXI: as biotecnologias. A grande matéria-prima das biotecnologias é a diversidade genética, e o Brasil dispõe de 60% da diversidade genética do mundo. Não precisamos procurá-la sob a terra ou o mar. Ela está, basicamente, na Amazônia, expondo-se de modo exuberante. Hoje, porém, não somos capazes de fazer, em relação às biotecnologias, o que o Getúlio fez em relação ao petróleo. Por que a Petrobrás é poderosa? Porque reúne um núcleo de mais ou menos sete mil brasileiros de alto nível técnico _ especialistas em robótica, em eletrônica, em química, em geologia, em todas as engenharias _ organizados numa estrutura que tem uma sinergia de saberes. O Brasil precisaria criar hoje uma ?Petrobrás? da biotecnologia, para, daqui a dez ou quinze anos, ter sete mil zoólogos, geneticistas, meteorologistas, biólogos, bioquímicos trabalhando juntos, tendo em vista assumirmos a vanguarda em um setor novo, de ponta. Mas o sistema político brasileiro sequer percebe que esse tipo de questão existe. Nos limitamos a medir, a cada ano, quanto destruímos da floresta para extrair madeira e plantar soja ou pastagem, atividades que são do período Neolítico. É desesperador. Eu poderia te dar inúmeros exemplos do que seria um projeto nacional para o século XXI, mas me sinto falando sozinho. Os partidos estão preocupados em costurar alianças para as eleições municipais de 2008. O horizonte deles termina aí. ZUENIR VENTURA ? Que passa por um projeto de educação, não? CÉSAR BENJAMIN ? Todos sabem que a educação brasileira é um desastre. A cada ano, jogamos na rua multidões de analfabetos funcionais. Aprendem a soletrar o nome, a ler o letreiro de um ônibus, mas não são capazes de escrever uma carta dizendo: ?Prezada mãe, estou aqui?. Há tempos, uma notícia chamou minha atenção. Um rapaz de 20 anos foi preso em São Paulo por furto. Ele estava na escola desde os oito anos, e na delegacia mandou um bilhete para a mãe. O jornal publicou uma foto do que ele escreveu. O bilhete era quase indecifrável, parecia escrito em língua estrangeira. Estava na escola há doze anos e não conseguia escrever quatro linhas! Coloque-se na posição desse rapaz. Que sentido tem a vida dele? Ano após ano numa escola que não lhe ensina nada, enquanto os meios de comunicação só falam em competitividade! A vida se transforma numa enorme perda de CEZINHA - 10 - tempo. Nesse vazio de possibilidades, tudo é igual, tudo é possível, não há horizontes de crescimento e de transcendência, não há futuro, e o próprio crime se banaliza. ZUENIR VENTURA ? O que de mais urgente precisaria ser feito nesse campo? CÉSAR BENJAMIN ? O economista Márcio Pochmann, da Unicamp, fez um cálculo interessante: que esforço o Brasil teria que fazer para atingir, em dez anos, o nível que o Chile tem hoje na escola de segundo grau? O resultado é o seguinte: teríamos que criar cinco milhões e 700 mil novas vagas no ensino médio, formar 120 mil professores, criar 100 mil novas turmas, construir 50 mil salas de aula. Se o governo Lula dissesse: ?Eu não vou fazer isso tudo, mas vou começar a fazer, vou começar uma revolução na educação?, eu o apoiaria. Bastaria isso. Mas o que ele faz? Faz o Pro-Uni, um engodo. Como as faculdades privadas cresceram muito no governo Fernando Henrique e ficaram com capacidade ociosa, o governo Lula compra vagas nessas escolas de péssima qualidade e as oferece para cursos à noite. Isso é brincar com o Brasil. A estrutura do ensino superior brasileiro não é adequada às necessidades do país, pois as faculdades privadas se multiplicaram sem controle, sempre oferecendo os cursos que têm menos custos. Seria preciso alterar a estrutura do ensino superior, mas enfrentar isso exige uma grandeza que perdermos. Estamos sempre em busca das soluções mais fáceis, que invariavelmente desembocam no marketing. Enquanto oferecemos cursos ruins e de baixo custo, com professores desestimulados, a China está formando 80 mil doutores em Física, a Finlândia assumiu a ponta em telecomunicações, a Índia é o novo pólo mundial da informática. ZUENIR VENTURA ? Qual a sua maior crítica ao governo Lula? CÉSAR BENJAMIN ? É ter rebaixado os horizontes de expectativa da nação. Um povo não se define tanto pelo que é, mas pelo que quer vir a ser. Nosso horizonte está muito rebaixado, ficou pequenininho. Os políticos se apresentam como campeões da caridade, e não como portadores de projetos para o país. O Lula disseminou isso, com sua enorme capacidade de nivelar por baixo e cooptar. O MST tem convênios com o Incra, o PC do B tem o Ministério dos Esportes, o banqueiro tem o juro, o pobre tem o Bolsa Família. Todo mundo se dá um pouquinho bem, enquanto o Brasil caminha alegremente para o cu do mundo. Estamos virando um país em que tudo é malfeitinho: o professor não dá uma aula decente, passa trabalho; o aluno não aprende, faz trabalho para ganhar a nota; o Congresso Nacional vira uma casa de despachantes; a polícia arma o bandido. As instituições estão CEZINHA - 11 - deixando de funcionar, substituídas por uma enorme farsa. Taí outra coisa que me faria apoiar o governo: ?Eu vou convocar a sociedade para, juntos, fazermos as coisas funcionarem. Professor vai dar aula de boa qualidade, congressista vai debater questões relevantes e fazer leis, juiz vai julgar e polícia vai combater o crime.? Já seria um bom programa de governo... Mas o exemplo teria que vir, é claro, do próprio governo. ZUENIR VENTURA ? Otimista por natureza, você parece ter feito a opção pelo pessimismo. CÉSAR BENJAMIN ? Não sou pessimista. Mas também não quero aderir ao otimismo idiota do marketing. Com todas as minhas imensas limitações, quero ajudar a reconstruir um otimismo que decorra de um pensamento robusto e de uma vontade vigorosa. Eu não acho que o Brasil não vai dar certo. Mas, para que dê certo, precisamos fazer um imenso esforço intelectual, político e moral. Precisamos pensar e trabalhar seriamente. Sinto-me mais próximo da geração a que me referi e mais afastado da esquerda atual. Nosso povo não tem motivos para seguir a esquerda que está aí. Ela não se mostrou à altura da sua própria utopia, mergulhou no terreno da hipocrisia. E a política institucional brasileira faliu. Estamos vivendo o fim do impulso que a sociedade teve nos anos 80, com o fim do regime militar e a redemocratização, que construiu atores, esperanças e instrumentos novos, como a Constituição de 88, o Ministério Público, as eleições diretas, movimentos sociais, PT, MST, CUT, etc. Esse processo deu, à minha geração, a esperança de conseguir fundir democracia e justiça social. O Lula de 89 representava esse impulso renovador, que sofreu um baque com a eleição de Collor. Mas o impulso permaneceu vivo enquanto existiu uma oposição pulsante ao projeto de desconstrução de Collor e Fernando Henrique. Permaneceu existindo uma esperança, a idéia de que um dia isso ia chegar lá! Quando o Lula ganha em 2002 e, junto com o PT, rasga a fantasia, integrando-se ao sistema tradicional de poder, o impulso reformador dos anos 80 realmente se esgota. Começa a anomia. Hoje, os partidos só discutem o loteamento de cargos, muitos dos quais, aliás, perfeitamente medíocres. ZUENIR VENTURA ? Por que há tanto interesse em nomear um diretor do DNER? CÉSAR BENJAMIN ? Porque cada órgão, cada diretoria, gerencia orçamentos, organiza licitações, faz compras, atende ou deixa de atender pedidos, e é isso que interessa. A CEZINHA - 12 - democracia recente brasileira ? o governo Lula acelerou esse processo ? criou lobbies que pilham sistematicamente o Estado nacional. O Estado deixou de ser um espaço organizador de um projeto e se transformou em um terreno aberto à acumulação primitiva. O presidente do Brasil tem 25 mil cargos para nomear, enquanto o presidente da França tem 300. Com isso, ele quebra a espinha do Congresso, que se apequena e passa a viver em torno dessas negociatas. Tem gente boa lá, mas a banda podre é que se sente prestigiada e cresce. Estabelecem-se relações cínicas, que contaminam toda a nação. ZUENIR VENTURA ? Você ainda acredita no estado nacional? CÉSAR BENJAMIN ? Tempos atrás, li no jornal que dona Marisa tinha feito uma viagem de Brasília por terra e, ao voltar, disse para o marido: ?Luiz Inácio, as estradas estão muito esburacadas!? Aí o presidente da República foi pessoalmente lançar a operação tapa buraco. Disse publicamente que dona Marisa o alertara para o problema. Isso foi notícia durante semanas. Fiquei deprimido. Você consegue imaginar o presidente da França cuidando de tapar buracos? O presidente da China? O dos Estados Unidos? O primeiroministro da Alemanha? Isso é uma atividade rotineira do oitavo escalão. Aqui, para minha surpresa, ninguém gargalhou quando o presidente foi cuidar de buracos! Não há mais Estado, Zuenir, estamos em vôo cego. Povos sem estado se lascam. ZUENIR VENTURA ? Você acha que estamos nos lascando? CÉSAR BENJAMIN ? Isso só não é ainda claro porque a conjuntura internacional está muito favorável. Nossa economia é muito sensível aos choques internacionais, e vivemos atualmente um choque positivo. Mas, em algum momento, o ciclo se reverterá. Aí os capitais voláteis irão embora. Vamos descobrir que somos exportadores de soja e minério de ferro e que 96% dos empregos que criamos nos últimos seis anos foram de empregada doméstica, balconista, vigilante e moto-boy. Nossa população está virando a massa trabalhadora desqualificada do século XXI. O governo Lula anuncia um saldo comercial de US$ 149 bilhões em quatro anos, magnífico para o padrão brasileiro. Agora, pegue o balanço de pagamentos como um todo. Você vai ver que US$ 149 bilhões entraram pelo saldo comercial, mas US$ 119 bilhões saíram como remessas de serviços e rendas. Não fica quase nada aqui. É uma pilhagem. O Brasil é um ótimo lugar para se ganhar dinheiro e um péssimo lugar para se investir. O que as multinacionais fazem? Aplicam aqui na produção de commodities, nas quais temos grandes vantagens comparativas, ou nos mercados CEZINHA - 13 - financeiros. Depois tiram o dinheiro e investem na China. Esse processo está mascarado pelo marketing, pelos pequenos favores e pela melhor conjuntura internacional dos últimos 50 anos. ZUENIR VENTURA ? Quer dizer que o sucesso de Lula no exterior também é marketing? CÉSAR BENJAMIN ? Fico espantado quando ouço dizer que o Brasil está promovendo a integração sul-americana. Do ponto de vista econômico, o Brasil está desagregando a América do Sul. Ele tem superávit com todos os países do continente, isto é, drena recursos deles. Como a conta financeira do nosso balanço de pagamentos foi desregulamentada, esses recursos saem daqui com extrema facilidade, sem controle. Ou seja, nós somos a grande porta de saída dos recursos da América do Sul para o mundo. Quem quer integrar e é o mais forte não pode agir assim, tem que fazer déficit com o mais fraco, ou pelo menos buscar formas de compensação com ele. A China tem superávit com os Estados Unidos e déficit com seus vizinhos, para ligá-los a ela em torno de um projeto regional. Para constituir um bloco sólido depois da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos se esforçaram para criar déficit com os aliados (o Plano Marshall e a construção de bases militares faziam parte dessa política), irrigaram seus parceiros e conseguiram integrá-los ao seu projeto geopolítico. O Brasil faz o contrário: drena recursos de todo o continente, joga para fora e diz que tem uma política integradora. A esquerda fica repetindo isso. ZUENIR VENTURA ? Voltando a 68, qual foi o maior legado político do movimento? CÉSAR BENJAMIN ? Não consigo ver nenhum legado, digamos, orgânico por causa da própria natureza do movimento. Mas em algumas áreas ou frentes houve um legado significativo, sim. Por exemplo, a mudança de condição da mulher. A geração das nossas mães é completamente diferente da de nossas amigas e dos nossos filhos. Minha filha, como você viu, acaba de entrar com o namorado em casa e vai para o quarto com ele. Acho que houve um questionamento de estruturas que estavam esclerosadas, não só no mundo capitalista, mas também no bloco soviético. Foi uma fissura. Houve em 68 a explosão de uma energia que disse ao poder que o poder não podia tudo. ZUENIR VENTURA ? Você acha que os governos de FH e Lula levaram valores de 68 ao poder? CEZINHA - 14 - CÉSAR BENJAMIN ? O Fernando Henrique está muito longe de ter a estatura intelectual que lhe dão. Quando se tornou presidente, fui reler seus textos, como um dever de ofício. São uma fraseologia que não diz nada, um sociologuês que não leva a lugar nenhum. Quanto ao Lula, ele se destacou como sindicalista no melhor momento para se fazer política sindical: uma ditadura fraca, caminhando para o fim, uma economia crescendo em altas taxas, com pleno emprego, salário muito achatado e com as multinacionais prontas para dar aumento salarial. As filiais brasileiras estavam assumindo papéis importantes nas estratégias internacionais dessas empresas, e o trabalho no Brasil era baratíssimo. As multinacionais do ABC paulista tinham muita folga para negociar. O Lula teve méritos, senão não teria aproveitado esse bom momento. Mas também deu a sorte de pegar uma conjuntura sindical extremamente favorável. Quando ele surgiu no cenário nacional, encontrou uma oposição crescente, porém ainda dispersa, que precisava de um pólo de aglutinação. Dentro dessa oposição havia setores marxistas que sonhavam com a revolução operária. O Lula foi a chegada do Messias. Era o que a esquerda esperava: a idéia de um operário metalúrgico liderando uma revolução socialista se encaixava direitinho na doutrina. ZUENIR VENTURA ? Sem falar nos intelectuais, não é? CÉSAR BENJAMIN ? A junção de pessoas e movimentos, que estavam relativamente dispersos, gerou o PT e criou um impulso que durou até, pelo menos, 89. Um partido jovem, militante, aglutinando católicos, marxistas, sindicalistas. Foi um sonho que eu sonhei. Hoje eu vejo que foi um grande erro. ZUENIR VENTURA ? Você acha? Por quê? CÉSAR BENJAMIN ? O PT nasceu querendo reinventar a história, dizendo que ela começava com ele. O que acontecera para trás não tinha valor. Renegou a mais brilhante geração de intelectuais brasileiros e não compreendeu o movimento endógeno do Brasil. Tudo era impuro e ele era puro. Como não foi capaz de construir uma doutrina em bases sólidas, acabou facilmente cooptado pelo que há de pior. Não se constituiu nem mesmo como um partido reformista sério, o que já estaria de bom tamanho. Num partido arrogante e frágil, sem história, Lula e Zé Dirceu encontraram um campo fértil para implantar a estratégia desagregadora que conceberam. CEZINHA -
EDUARDO S. PONCE MARANHÃO
30/03/2016 13:17
Voltamos a repetir => É necessário bom senso !!! A Ensp e a Fiocruz é formada de várias pessoas .É uma instituição multifacetada , com variadas visões, conscientizações e atuações políticas diferentes !!! Este tipo de debate numa instituição pública e de saúde pública é inoportuna !!! Ele fratura e segmenta mais o corpo docente, discente , e os funcionários em geral .=> As discussões e análises da situação e posicionamentos políticos, já estão acontecendo nas ruas, nas mídias, nos lares, nas instituições, nos espaços políticos e na sociedade como um todo !!! Então, esse debate não acrescenta nada a nada ! Tudo está sendo e vai ser dentro da democracia e respeitando a justiça e os direitos sociais !!! NÃO VAI TER GOLPE NENHUM...................... !!! Nota=Vendo as fotos do anfiteatro da Ensp , conseguimos contar cerca de 82 pessoas . A Ensp e a Fiocruz tem muitíssimo mais funcionários . A maioria dos participantes que aparecem na foto não são da Ensp e nem da Fiocruz !!! Nota= A lista acima dos que confirmaram presença no evento é viciada(sesgada) todos sempre tem a mesma posição ,o que não permite o contraditório !!! São os mesmo falando para os mesmos................................................... !!!
EDUARDO S. PONCE MARANHÃO
30/03/2016 13:07
A Escola Nacional de Saúde Pública "Sergio Arouca" da Fiocruz não tem nada a ver com o real Sergio Arouca !!! O Arouca era do PPS e muito ligado ao Roberto Freire. Possivelmente se estivesse vivo estaria contra o governo Dilma ( pedindo o impedimento da presidenta) e esperando a prisão do "jararaca" =>o Lula !!!
EDUARDO S. PONCE MARANHÃO
30/03/2016 13:05
Cesar Benjamin 10 h · Rio de Janeiro, RJ, Brasil · O impedimento da presidente é bom para o PMDB, o PSDB e outros partidos, num momento em que as investigações estão chegando neles. As expectativas com a formação do novo governo e com suas primeiras medidas passarão a predominar. A Lava Jato poderá perder o ímpeto, enquadrando-se no esotérico rito judicial e emergindo de vez em quando no noticiário policial. Assim, talvez se criem condições para um grande acordo que preserve os de sempre. O impedimento é bom para o PT, que no dia seguinte, na condição de vítima de um golpe, estará gritando contra a recessão, o desemprego, os cortes nos gastos públicos e nos direitos sociais, a corrupção, como se não tivesse nada a ver com isso. Seus desmemoriados seguidores ? e a desmemória, neste caso, é apenas uma forma de cinismo -- passarão a se opor de maneira estridente ao que apoiaram até hoje. Na oposição, recobrarão o ânimo militante. O impedimento poderá ser ruim para o Brasil, pois não porá fim a esse embate político enlouquecido e sem sentido que tem predominado entre nós. Um embate que serve a gente neurótica ou simplesmente mal-intencionada, mas não à construção da Nação. O Brasil está girando em falso e ficando para trás. Estamos no meio de uma nova década perdida. O mundo não vai esperar por nós. Anotem aí: independentemente de quem estiver no governo, ainda teremos bastante recessão, desemprego e queda de renda pela frente. Precisamos, urgentemente, debater o que importa: a construção de um novo projeto nacional.
JOSÉ FRANCISCO PEDRA MARTINS
30/03/2016 08:31
Um pequeno acréscimo para evitar mal-entendidos, quero deixar claro que o Sindicato de Nutricionistas é bem vindo como parceiro a ESNP.
JOSÉ FRANCISCO PEDRA MARTINS
30/03/2016 08:18
A solução da barbárie criada pelos governos de direita que se sucedem no Brasil após o Governo de Jango Goulart só será conquistada com a intensa mobilização dos trabalhadores organizados nas ruas, nas fábricas, nas empresas em geral, liderando uma ampla aliança de forças interessadas em proteger os ataques das piranhas vorazes que fazem o pais sangrar por todas as veias. As Centrais Sindicais Brasileiras que representam millhoes de trabalhadores nao estao presentes na lista de convidados para esta "Tribuna Livre". Apenas um sindicato de classe média foi convidado. Este evento configura claramente como um painel onde os servidores da ENSP não terão espaço para falar e ouvir uns aos outros, ficando no papel passivo de platéia para ouvir lideranças que podem ser conhecidas por seus proprios canais de comunicação em primeiro lugar, quando poderiam ser convidados num 2º momento. Para ouvirmos cada um dos 35 convidados com um tempo mínimo de 5 minutos, gastaremos 175 minutos, restando apenas 5 minutos para os funcionários se manifestarem. Entendo que a direção da ENSP tem pleno direito e é desejavel que se manifeste politicamente divulgando sua propria análise, mas deixando bem claro que numa "Tribuna Livre" entre servidores, representará uma visao entre outras que seriam apresentadas. Se nao fosse assim , não faria sentido um evento cujo resultado final - uma visão representativa dos servidores - já está previamente determinado. Temos um governo de direita - não há nada que a direita faça que o PT não faça, e outros 2 partidos de direita, igualmente indejesados, cujo projeto politico é absolutamente o mesmo: entregar nossas riquezas ao mercado financeiro e das multinacionais, como as montadoras de automoveis. A economia de Dilma foi comandada pois dois representantes diretos deste mercado financeiro expoliador: Joaquim Levy e Barbosa, do mesmo modo que no governo Lula. Por que a sociedade veria Temer de forma diferente de Dilma, Cunha, Renan, Alckmin ou Aécio? Num eventual governo Temer, seu Ministro da Fazenda seria José Serra, e o Presidente do BC seria o empregado do sistema financeiro Arminio Fraga. O Progama proposto pelo PMDB-PSDB resumido: 1) cortar mais ainda os gastos públicos; 2) eliminar a verba mínima constitucional para a Educação e a Saúde; 3) permitir aposentadorias abaixo do salário mínimo; 4) eliminar os direitos trabalhistas, ao "permitir que as convenções coletivas prevaleçam sobre as normas legais"; 5) aumentar os repasses de juros para os bancos privados; 6) privatização de "todas as áreas de logística e infraestrutura"; 7) fim da lei de partilha no pré-sal para entregá-lo mais rapidamente às multinacionais; 8) submeter o país aos interesses comerciais dos EUA ? a bem dizer, dos monopólios privados e cartéis norte-americanos; 9) entregar ao "mercado" a administração das empresas estatais; 10) sob pretexto de "segurança jurídica para a criação de empresas e para a realização de investimentos", conceder impunidade a cartéis do tipo que assaltou a Petrobrás (cf. PMDB, "Uma ponte para o futuro", pp. 18 e 19). Alcançar o impeachment de Dilma, e deixar seus iguais no poder seria um caminho certo para uma convulsão social, o caos, e a confusão no pais. Eles devem renunciar, como o PMDB ja caminha, e abrir caminho para Eleições gerais. Me ausentarei dessa Tribuna "livre" por essas razões.
EDUARDO S. PONCE MARANHÃO
29/03/2016 20:54
Este evento quebra e fragmenta as relações internas entre as pessoas ,e funcionários da Fiocruz como um todo e principalmente na Ensp !!! Nós da saúde precisamos trabalhar em conjunto e em harmonia, para o bem da população brasileira !!! É necessário unir a instituição , polarizar as pessoas e os funcionários , pois , esses trabalham , pensam e pesquisam juntos !!! Não existe nenhuma vantagem nesse evento ! A única coisa que vai provocar mais e fazer, é desunir ! A chamada da tribuna livre é viciada , já apresenta uma posição a priori .....!!! Eduardo S. Ponce Maranhão - médico, clínica médica/medicina interna, MSF, medicina social , sanitarista, epidemiologista -Depto de epidemiologia e métodos quantitativos em saúde-Ensp-Fiocruz - pesquisador titular
EDUARDO S. PONCE MARANHÃO
29/03/2016 20:51
É necessário bom senso !!! A Ensp e a Fiocruz é formada de várias pessoas .É uma instituição multifacetada , com variadas visões, conscientizações e atuações políticas diferentes !!! Este tipo de debate numa instituição pública e de saúde pública é inoportuna !!! Ele fratura e segmenta mais o corpo docente, discente , e os funcionários em geral . As discussões e análises da situação e posicionamentos políticos, já estão acontecendo nas ruas, nas mídias, nos lares, nas instituições, nos espaços políticos e na sociedade como um todo !!! Então, esse debate não acrescenta nada a nada ! Tudo está sendo e vai ser dentro da democracia e respeitando a justiça e os direitos sociais !!! NÃO VAI TER GOLPE NENHUM...................... !!! E a lista de adesões é muito enviesada(sesgada)=> Só um lado os mesmos de sempre, que se dizem de "esquerda"( quando tal definição, já não se aplica na atual situação do Brasil) . Não vai haver diálogo , nem contraditório !!! Vão ser os mesmo falando para eles próprios = monólogo Eduardo S. Ponce Maranhão - médico, clínica médica/medicina interna, MSF, medicina social , sanitarista, epidemiologista -Depto de epidemiologia e métodos quantitativos em saúde-Ensp-Fiocruz - pesquisador titular
JOSÉ FRANCISCO PEDRA MARTINS
29/03/2016 19:47
Existem varias maneiras institucionais de afastar o pior governo da nossa historia. Se nao houver, cabe uma rebelião ou revoluçao !! Nao podemos suportar mais 3 anos desse governo. Não vai sobrar mais nada no país. A enorme maioria do povo não quer ajuste fiscal, nao quer entregar nosso petroleo para multinacionais, nao quer arrocho salarial - 15% em apenas 15 meses, não quer juros gigantescos que sangram metade do orçamento do país. 90% está insatisfeito. Considero o debate muito oportuno por que neste momento não é hora de agirmos como tecnocratas, mas sim atuarmos como cidadãos brasileiros. Mas o título, o texto convocatório, o perfil dos convidados tudo isso anuncia obviamente um alinhamento PREVIO da direção com uma das visões politicas em confronto no cenario nacional. No caso, privilegiando o aspecto formal da democracia, em detrimento da democracia real que é aquela que representa o povo !! Outras opçoes como exigir a renuncia da Dilma e do Temer estao colocadas no cenário - a própria Dilma se pronuncia diariamente sobre isso !! Convocação de eleiçoes. Argumentar que nao temos uma alternativa - um candidato - e por isso nao podemos tirar este governo é uma falacia capciosa: temos que ir passo a passo. Primeiro esse governo destruidor sai. Depois abre-se o debate eleitoral. Temos milhares de brasileiros honestos, com profundidade de conhecimento da realidade nacional, experiencia politica, compromisso com a nação. A eleição é uma oportunidade para que elas disputem à luz do dia as alternativas. As crises profundas produzem alternativas com rapidez !! Na Russia ocorreu uma revolução burguesa em fevereiro e uma revolução operária em outubro do mesmo ano ! Outro aspecto da organização que eu considero francamente infeliz é convidar uma lista numerosa de lideranças, que certamente terão privilégio do uso da palavra - assim não fosse, não faria sentido convidá-las - em detrimento de ouvirmos uns aos outros, do corpo de funcionarios que é quem precisa falar no momento. Poderíamos chamar lideranças para ouvi-las em outro momento.
EDUARDO S. PONCE MARANHÃO
26/03/2016 18:52
=>Não está tendo, nem vai ter golpe !!! Tudo está sendo feito, respeitando a Constituição , a Justiça e dentro do Estado de Direito !!! NÃO VAI TER GOLPE .........!!! Eduardo S. Ponce Maranhão - médico, clínica médica/medicina interna, MSF, medicina social , sanitarista, epidemiologista -Depto de epidemiologia e métodos quantitativos em saúde-Ensp-Fiocruz - pesquisador titular