Mesa destaca ineditismo da formação para os movimentos sociais
Isabela Schincariol
“Rompemos com a lógica da ciência clássica e começamos a pensar na produção de conhecimentos em articulação com os movimentos sociais”, disse o pesquisador da ENSP Ary Carvalho de Miranda, durante a mesa sobre experiências de formação para o SUS. Na ocasião, ele expôs detalhes do processo de elaboração e realização do curso de mestrado profissional em Trabalho, Saúde, Ambiente e Movimentos Sociais da ENSP. O debate aconteceu no terceiro dia do 2º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente e fez parte do eixo estruturante A função social da ciência, ecologia de saberes, e outras experiências de produção compartilhada de conhecimento.
“Rompemos com a lógica da ciência clássica e começamos a pensar na produção de conhecimentos em articulação com os movimentos sociais”, disse o pesquisador da ENSP Ary Carvalho de Miranda, durante a mesa sobre experiências de formação para o SUS. Na ocasião, ele expôs detalhes do processo de elaboração e realização do curso de mestrado profissional em Trabalho, Saúde, Ambiente e Movimentos Sociais da ENSP. O debate aconteceu no terceiro dia do 2º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente e fez parte do eixo estruturante A função social da ciência, ecologia de saberes, e outras experiências de produção compartilhada de conhecimento.
Ary explicou que esta formação foge à regularidade e aos compromissos acadêmicos, pois está imbuída de compromissos políticos. “A ENSP tem 60 anos de experiência na formação de profissionais para o Sistema Único de Saúde, e possuiu significativo papel na construção da reforma sanitária brasileira. No entanto, até hoje, ela nunca formou para os movimentos sociais. É a primeira vez, em seis décadas, que acontece isso. É um passo fundamental para tal desafio e, para nós, é imprescindível a ressonância desse processo. Esperamos consolidá-lo no âmbito da Escola, assim como na relação com o Ministério da Saúde”, ressaltou.
Segundo ele, o mestrado profissional tem como base a análise do quadro brasileiro no contexto internacional, em especial a partir da década de 1970, quando o Brasil passou a lidar com processos produtivos de baixo valor agregado e o alto impacto socioambiental na lógica internacional capitalista. “Isso gerou um movimento maior de confronto e, na medida em que esse nível de conflito se acentuou, fomentou no conjunto de movimentos sociais uma necessidade importante de enfrentamento do capital nesse campo. Diante deste cenário, definiu-se a necessidade de um curso dessa natureza”, explicou Ary.
Dentro da sua concepção, disse o pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador da ENSP, ele foi pensado na mesma lógica na qual este simpósio foi construído: com a participação real dos movimentos sociais. “Rompemos com a lógica da ciência clássica e passamos a pensar na produção de conhecimentos em articulação com os movimentos sociais. Vivenciamos muitas dificuldades e resistências da academia clássica para a realização de uma formação dessa natureza, inclusive dentro da Fiocruz. Nosso curso tem compromissos políticos e ideológicos claros. Enfrentamos as dificuldades e vamos formar mestres engajados, com uma luta pela construção de um outro país; que não este”, defendeu.
Uma formação que se baseia na solidariedade e agregação das pessoas
O mestrado profissional é coordenado por Ary e pelo também pesquisador da ENSP Marcelo Firpo. Ele é voltado para a formação de pessoas que estão na luta pela reforma agrária e conta com 28 alunos, sendo oito profissionais das secretarias municipais e estaduais de saúde, cujo trabalho é articulado com a luta pela reforma agrária. Ele é estruturado em oito disciplinas, a metodologia e concepção pedagógica funcionam em alternância de ‘tempo escola’ e ‘tempo comunidade’ e ele se inscreve dentro das normas estritas estabelecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
“Existe uma preocupação fundamental com a vida dos alunos que vai muito além do aprendizado. O mestrado conta com outra concepção de formação que se baseia na solidariedade e agregação das pessoas e não no valor de mercado dessa formação”, ressaltou o palestrante. No entanto, continuou, trata-se de um curso de fortíssima exigência científica, pois seu desafio fundamental é oferecer aos alunos uma densidade científica maior para o enfrentamento da luta política. “Para nós, é fundamental que ele tenha sucesso, pois é o primeiro passo em uma perspectiva de colocar a academia a partir de um outro compromisso político e ideológico”.
O curso foi desenvolvido pela ENSP, mas teve participação fundamental da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde. Segundo Ary, sem este apoio, em especial da secretária Kátia Souto, o mestrado não seria possível. “Este setor do Ministério não entrou apenas com auxílio financeiro, o curso se insere no contexto da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, Floresta e Águas do MS”.
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