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Perguntar é preciso

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Publicado em:23/09/2014
 
Perguntar é precisoCuriosas e cheias de perguntas, não é raro ouvir de uma criança que seu desejo é se tornar cientista. Desiludidos e realistas, também não é incomum que a resposta dos adultos seja desanimadora: "Ih, cientista, no Brasil, é difícil". As dificuldades, mas também os avanços da iniciação científica em nosso país foram tema do último Ceensp, realizado em 17 de setembro. Para debater o tema, a atividade recebeu  a pesquisadora do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Recursos Humanos para a Saúde da ENSP Márcia Teixeira e a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Vivian Mary Barral Dodd Rumjanek.

Primeira a falar, Vivian explicou que embora estejamos numa fase exponencial, a história das ciências no Brasil é recente. Além disso, a professora ressaltou o que o aumento do número de pessoas capazes de publicar artigos não necessariamente significa um aumento do número de cientistas.

Outro ponto crítico, segundo a pesquisadora, é o fato de a maioria dos alunos que enveredam pelo mundo das ciências querem concluir mestrado, doutorado e depois pesquisar e lecionar em institutos públicos nos mesmos moldes daqueles em que se formaram. ”Será que não seriam capazes de fazer outra coisa?”, perguntou a professora.

Se na porta de saída do caminho da ciência encontram-se as dificuldades profissionais, na de entrada estariam os defeitos de uma educação de base que não incentiva os alunos a formularem perguntas, de acordo com Vivian. Por isso se tornam louváveis inciativas como a do professor Leopoldo Meis, bioquímico da UFRJ. A professora relatou a história do pesquisador que ainda nos anos 80, ao fechar os vidros se seu carro para uma criança que pedia dinheiro no trânsito, se deu conta da gravidade de nossos problemas sociais. Comovido com a experiência, Leopoldo passou a desenvolver um projeto para a formação de cientistas, trabalhando com crianças de baixa renda. Desde então, 400 ex-alunos seus já ingressaram em universidades. Um deles, Wagner Seixas da Silva, se pós-graduou na universidade americana de Havard. Como nos mais bem sucedidos experimentos científicos, o inesperado. O professor Leopoldo não imaginaria, certamente, que o fechar de um vidro abriria tantas portas.

Já a fala de Marcia Teixeira, pesquisadora da ENSP, foi voltada para os programas de iniciação científica brasileiros. Para a professora, falta discussão sobre o tema. “Precisamos nos questionar para qual projeto de país estão voltados programas como o Pibic (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica) ou o Ciências Sem Fronteiras”. Desde os anos 80, o Pibic tem sido bem sucedido ao criar uma ponte entre a graduação e a pós-graduação, mas se para fazer ciência é preciso inovar sempre, é importante desconfiar de modelos que “dão certo”, porque impedem a formulação de novas perguntas, lembrou Marcia. Entre os pontos críticos do PIBIC, segundo a pesquisadora, estariam a especialização precoce, o vínculo dos cursos somente às pesquisas dos professores e a dificuldade de relacionar o que se pesquisa com as necessidades profissionais dos alunos.

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