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Região do RJ é mais suscetível aos impactos do clima

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Publicado em:12/08/2013
* Cristiane Albuquerque

Região do RJ é mais suscetível aos impactos do climaO aumento de eventos climáticos, como tempestades tropicais, secas e ondas de calor, é um dos indícios das mudanças do clima sentidas em diversas partes do planeta. Segundo especialistas, se a liberação de gases do efeito estufa na atmosfera, como o gás carbônico, permanecer de forma continuada, o cenário mundial tende a ser agravado. No Estado do Rio de Janeiro, essas alterações climáticas podem ser observadas, entre outros aspectos, na elevação da ocorrência de catástrofes naturais, como as chuvas mais intensas - que resultam em inundações e alagamentos -, além de problemas de saúde da população, tais como o crescimento do número de casos de dengue e leptospirose e, também, das mortes ocasionadas pela intensificação das chuvas. Atentos a essa realidade, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e a Fiocruz Minas, desenvolveram o Mapa de vulnerabilidade da população dos municípios do Estado do Rio de Janeiro frente às mudanças climáticas. A iniciativa, que teve seus resultados anunciados na quinta-feira (8/8), tem como objetivo indicar a exposição dos municípios do Rio de Janeiro às mudanças climáticas previstas para os próximos 30 anos.
 
De acordo com a coordenadora-geral do projeto e pesquisadora em clima do IOC, Martha Barata, o mapa foi estabelecido a partir do Índice de Vulnerabilidade Municipal (IVM) às mudanças do clima. “Esse índice é resultado da agregação do Índice de Cenários Climáticos (ICC/RJ) e do Índice de Vulnerabilidade Geral (IVG), formados por componentes de saúde, ambiental e social, como, por exemplo, o número de doenças infecciosas influenciadas pelo clima, as características de cobertura vegetal e da fauna, além do acesso a trabalho, habitação e renda”, explica. Os índices são apresentados em uma escala que varia de zero (0) a um (1), atribuídos aos municípios com menor ou maior vulnerabilidade, respectivamente.
 
Para Ulisses Confalonieri, pesquisador do Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz-MG) que participou do desenvolvimento do estudo, as áreas com maior índice de vulnerabilidade são mais propensas a sofrer danos, por isso a necessidade de avaliá-las. “O mapa de vulnerabilidade tem a preocupação de dizer quais são as áreas mais vulneráveis e por que estão mais vulneráveis. A partir desses dados, é possível promover, de forma mais eficiente, as adaptações nessas áreas frente às mudanças climáticas”, esclarece o pesquisador.
 
O estudo, realizado pela Fiocruz a partir de demanda da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, é resultado da atualização do Mapa de vulnerabilidade da população do Estado do Rio de Janeiro aos impactos das mudanças climáticas nas áreas social, da saúde e ambiental, encomendado pela Secretaria de Estado e Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, em 2011.
 
Políticas Públicas
 
Durante o anúncio dos resultados, em sessão do Centro de Estudos do IOC, o destaque ficou por conta dos desdobramentos práticos dos dados da realidade de cada município. Na mesa de abertura, a possibilidade do desenvolvimento de políticas públicas a partir dos resultados do Mapa de vulnerabilidade da população dos municípios do Estado do Rio de Janeiro frente às mudanças climáticas foi enfatizada pelo vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/ Fiocruz), Valcler Rangel Fernandes, pela vice-diretora de Serviços de Referência e Coleções Biológicas do IOC, Eliane Veiga Costa, e pelo secretário de Estado do Meio Ambiente, Carlos Minc.
 
De acordo com Valcler, a instituição está empenhada no desenvolvimento de pesquisas inovadoras, com novas metodologias, para o enfrentamento das mudanças climáticas e suas relações com a saúde. Ele reforçou, ainda, que o trabalho pode servir como base para o desenvolvimento de políticas públicas não somente no Estado do Rio de Janeiro, mas em todo o país. “Diante dos benefícios que os resultados do mapa da vulnerabilidade do Rio de Janeiro podem trazer para seus municípios e suas populações, o desafio que temos, a partir de agora, é o de nacionalizar esse estudo, aplicando a metodologia em outras regiões do país”, destaca o vice-pesquisador.
 
O secretário de Estado do Ambiente também aponta que o diagnóstico da situação de vulnerabilidade dos municípios do Rio de Janeiro será fundamental para a aplicação de políticas públicas em diferentes regiões do estado. Ele lembrou, ainda, que, a partir da primeira etapa do estudo, apresentada em 2011, à Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) do Rio de Janeiro, iniciou ações no noroeste fluminense, a região de maior vulnerabilidade, priorizando o reflorestamento, a desativação de lixões e a construção de aterros sanitários, além da implementação de barreiras para o escoamento da vazão excedente dos rios em épocas de chuva. “A importância de ser ter um estudo que aborda a vulnerabilidade dos municípios frente às mudanças climáticas é que ele pode efetivamente mudar a vida das populações que se encontram nessas áreas. Graças a esse estudo, o mapeamento dos municípios foi reforçado e podemos estimulá-los a desenvolverem políticas públicas e reduzirem suas vulnerabilidades”, esclarece o secretário.
 
Para a vice-diretora de Serviços de Referência e Coleções Biológicas do IOC, Eliane Veiga Costa, o mapa da vulnerabilidade poderá servir como instrumento de apoio no desenvolvimento de políticas públicas nas áreas de meio ambiente e saúde. “Um estudo que combina clima, saúde e meio ambiente, que são áreas tão específicas, porém interligadas, é muito importante para os tomadores de decisões, que poderão desenvolver mais rapidamente ações e políticas públicas”, opina a vice-diretora.
 
Resultados
 
O IVM classifica os municípios quanto ao grau de atenção que terá de ser dado ante as esperadas mudanças climáticas. Para o cenário climático mais pessimista, ou seja, com maiores emissões de gases do efeito estufa, foi identificado no conjunto de municípios da Macrorregião Metropolitana do Rio de Janeiro e o seu entorno como o mais suscetível de sofrer os impactos do clima.
 
“Em relação aos demais municípios do estado, a população do município do Rio está entre os mais vulneráveis. Isso acontece em face aos seus elevados índices de vulnerabilidade da saúde e do ambiente quando comparado ao dos demais municípios do Estado”, destaca. “A cidade de Niterói apresenta o menor Índice de Vulnerabilidade Social. No entanto, o IVG é elevado em face à maior vulnerabilidade da saúde e do ambiente”, assinala.
 
O estudo aponta, ainda, que os municípios de Magé e Campos dos Goytacazes também apresentam vulnerabilidade acima de 0,50, que é a média estadual, para os três indicadores que compõem o IVG. “Esses resultados mostram a relevância de ações integradas nos setores da saúde, social e ambiental para a promoção da resiliência da população municipal”, ressalta a pesquisadora. Já o município de Nilópolis apresentou-se como o menos vulnerável na escala, seguido de São Pedro da Aldeia (localizado na Macrorregião das Baixadas Litorâneas) e Volta Redonda (Macrorregião Sul-Fluminense), que também apresentaram baixa vulnerabilidade para três indicadores.
 
A especialista alerta, no entanto, que o baixo índice apresentado por determinados municípios não significa a ausência de risco. “O fato de o município ter recebido valor zero (0) para o IVM indica que esse índice é o menor entre todos os municípios, assim como o valor um (1) não significa que o município seja o mais vulnerável, mas que há uma instabilidade relativamente maior que os demais, devendo ser, portanto, objeto de atenção prioritária na implantação de políticas, planos e programas de adaptação à mudança climática”, afirma.
 
Os municípios da Macrorregião Costa Verde, como Angra dos Reis e Paraty, e da Macrorregião Serrana, como Petrópolis e Teresópolis, por sua vez, destacam-se pela elevada vulnerabilidade ambiental. “Essas macrorregiões devem estar atentas aos cuidados necessários para a proteção das florestas”, diz.
 
A especialista destacou a importância do estudo para a orientação de políticas públicas, a fim de apoiar as decisões estratégicas de adaptação aos efeitos projetados das mudanças do clima. “Tal conjunto de informações permite a identificação desse ‘hotspot’ metropolitano, mas os indicadores parciais também podem ser utilizados para a orientação de políticas setoriais, sejam de saúde, socioeconômicas ou de proteção ambiental”, finaliza.

Fotos: Gutemberg Brito/IOC
 
(*Cristiane Albuquerque é jornalista do Instituto Oswaldo Cruz)

Fonte: Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)
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