Em artigo, pesquisadora fala sobre vulnerabilização de sujeitos na produção de conhecimento

Sobre a recente polêmica, a pesquisadora nos convida a pensar acerca de quais corpos se mantêm, em parte do imaginário social, político e científico, como passíveis de serem manuseados e objetificados em estágios de experimentações em variados sentidos. “Destituídos de um mesmo valor, e assimetricamente colocados nos termos de raça, “são os corpos negros, sobre os quais é negado o estatuto de sujeito, pois que entendidos como 'não ser'”, como nos propõe pensar o filósofo, psiquiatra e ensaísta marxista francês, Frantz Fanon”, recomenda Roberta.
No artigo, escrito em 2018 e intitulado Sentidos das doenças negligenciadas na agenda da Saúde Global: o lugar de populações e territórios, ela observa que “o antigo projeto da colonização assume, na contemporaneidade, uma roupagem atualizada, nos termos da colonialidade, pois preserva e carrega elementos coloniais classificatórios do mundo, atualizando-os na dinâmica histórica”, alertando ainda que a noção de negligência tem que ser assumida, não apenas em termos de doenças, mas também de pessoas e seus corpos.
Segundo a pesquisadora, na perspectiva das doenças negligenciadas, “reconhecer a verdadeira dimensão da negligência deve pressupor questionar criticamente racionalidades que informam modos de operar políticas que, a despeito de indiscutíveis avanços em termos de saúde pública, mantêm regras e contornos nos marcos da subalternidade e da dependência”.
Baseada em dados do Observatório da Saúde Global, da Organização Mundial da Saúde (GHO/WHO – na sigla em inglês), no texto, Roberta aponta que "em países do continente africano, há o mais baixo porcentual de gasto em saúde, sendo que considerável parte das ações é financiada por doadores externos, que pautam diretrizes e prioridades, conformando as agendas nacionais". Ela ressalta ainda que, mesmo o debate sobre negligência de doenças tendo sido incluído positivamente, “argumenta-se a favor de uma agenda da Saúde Global que assuma e evoque, com mais vigor teórico e metodológico, a dimensão da negligência de corpos e populações, aprofundando o debate com as matrizes biomédica e político-econômica”.
No texto, a pesquisadora destaca que cerca de 90% da carga de doenças no mundo está concentrada em países pobres, que dispõem não mais que 10% dos recursos globais de saúde. “Uma média de 20% da população mundial não tem acesso a sistemas e serviços de saúde, incluindo medicamentos essenciais. A cobertura mundial de serviços básicos de saneamento é de 64%, cobrindo por volta de um terço da população mundial, ou seja, em torno de 2.500 milhões de seres humanos destituídos dos mais básicos serviços em pleno Século XXI.”
“A designação e localização das doenças negligenciadas em determinados territórios e populações guarda relação histórica com algumas dinâmicas, como as de natureza colonial e capitalista. Informam linhas de continuidades na racionalidade de políticas e ações, operadas na assimetria entre povos, instituições e nações”, indica Roberta.
O artigo, na íntegra, pode ser lido on-line na Revista Ciência & Saúde Coletiva, na base Scielo.
Nenhum comentário para: Em artigo, pesquisadora fala sobre vulnerabilização de sujeitos na produção de conhecimento
Comente essa matéria: