"Primeira turma do programa é uma conquista da Fiocruz": ENSP inaugura doutorado profissional em Saúde Pública
Por Barbara Souza, Bruna Abinara e Danielle Monteiro
Uma conquista para o fortalecimento do SUS, um rompimento com uma hegemonia acadêmica, fruto de um trabalho coletivo. Foi com essas palavras que os gestores da ENSP, presentes à aula inaugural da primeira turma do Doutorado Profissional em Saúde Pública da Escola, promovida na última sexta-feira (2/08), definiram e celebraram a iniciativa. O evento contou com uma palestra sobre Ciência, Saúde e Desenvolvimento, proferida pelo secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo Econômico Industrial da Saúde do Ministério da Saúde (SECTICS/MS), Carlos Gadelha.
Na mesa institucional de abertura do evento, o diretor da ENSP, Marco Menezes, destacou a importância do Doutorado Profissional em Saúde Pública para enfrentar desafios atuais no SUS. "Sempre que se inicia uma nova turma é um momento de alegria e acolhimento, mas também de motivação para enfrentar os grandes desafios que temos pela frente para a sociedade, para a saúde coletiva e para o SUS", declarou. Menezes lembrou que o enfrentamento das desigualdades socioambientais é uma diretriz institucional da Escola e citou, dentre os desafios atuais, a emergência climática, a preparação para novas pandemias e a transição demográfica.
Para o diretor, a primeira turma do programa é uma conquista da Fiocruz na direção do fortalecimento do sistema de saúde público, o que é um importante desafio. "Esse momento de focar na formação de trabalhadoras e trabalhadores é muito importante para enfrentar um dos grandes desafios do SUS hoje: a gestão de pessoas e de trabalho, falar de trabalho e formação de forma integrada", afirmou.
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Em seguida, a vice-diretora de Ensino da Escola (VDE/ENSP), Enirtes Caetano, ressaltou a relevância do Programa de Saúde Pública da ENSP, que, ao longo dos seus 48 anos, formou grande parte dos sanitaristas brasileiros. A vice-diretora reforçou o comprometimento da Escola com o futuro do SUS e da ciência. "São programas voltados para oferecer respostas, é uma ciência comprometida com o cotidiano das instituições e da população brasileira, que precisa oferecer respostas em um patamar de excelência", afirmou. Segunda a vice-diretora, há um compromisso do corpo discente e da Escola em oferecer o que há de melhor no momento.
Para a coordenadora do Programa Profissional de Saúde Pública, Gisela Cardoso, o Doutorado Profissional rompe com a hegemonia do Acadêmico como produtor do conhecimento. "As instituições de pesquisa e ensino se aproximam da sociedade no sentido de dar uma resposta às questões e problemas que ela identifica no campo da saúde pública e coletiva", declarou Gisela.
Coordenadora-geral de Educação da Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz destacou a característica vanguardista da instituição ao dar as boas-vindas à nova turma. Eduarda Cesse celebrou o novo curso como um “feito”. “A Fiocruz é uma das instituições que lideraram o início da formação profissional na pós-graduação do país. Quando essa modalidade surgiu no Brasil, ao final da década de 1990, a Fundação saiu na frente”, recordou. Cesse chamou a atenção também para a articulação entre teorias e práticas no campo da saúde coletiva e saudou os novos alunos: “É mais uma turma que vai desbravar caminhos”.
Vice-Presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado declarou que o Doutorado Profissional da ENSP foi construído “a muitas mãos, com amor, carinho e trabalho coletivo”. Também pesquisadora da ENSP, a vice-presidente lembrou que, neste ano, a Escola está completando 70 anos de trajetória de formação de quadros para a saúde pública, o que torna a nova turma ainda mais especial. “Além disso, é especial por envolver profissionais da Atenção Primária e da gestão da Ciência e Tecnologia da própria Fiocruz. Não existe SUS integral, público e gratuito sem a reflexão crítica sobre os determinantes sociais da saúde, nem sem a promoção da saúde, a atenção à saúde em vários níveis e o acesso a medicamentos, a vacinas, à tecnologia”.
O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, convocou os novos alunos a contribuírem no enfrentamento ao desafio de pensar o SUS numa perspectiva atualizada, diante da nova realidade do país. “O sistema datado do final da década de 1980 encontra um país totalmente diferente hoje. É outra realidade ambiental, social e sanitária. O país envelheceu e isso traz desafios imensos. Temos uma população importante que sofre de agravos próprios do envelhecimento, como doenças cardíacas, neurodegenerativas, metabólicas”, destacou. O presidente acrescentou ainda o incremento das doenças e mortes ligados à violência, “o que requer de nós um esforço também de atualização das políticas, dos programas e, quem sabe, mesmo do próprio sistema”, disse Mario Moreira, sublinhando a necessidade de cultivar e fortalecer os princípios e valores do SUS. Por fim, ele citou a questão climática, o pensamento em perspectiva global e também com os territórios como aspectos estratégicos da agenda da saúde atualmente.
O Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico Industrial da Saúde do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, destacou a relevância da Escola e do Programa de Saúde Pública. "Eu vejo esta turma como parte da reconstrução que estamos fazendo no país e acho importante como o Ministério e as políticas de saúde precisam desses programas de formação, qualificação e educação da Fiocruz", afirmou. Carlos defendeu a importância de profissionais que saibam fazer a translação do conhecimento acadêmico em políticas públicas e institucionais. Para o secretário, os futuros doutores devem ser agentes de transformação na Saúde Pública para que seja possível fortalecer, ampliar, modernizar e avançar no SUS.
Encerrando a mesa de abertura da aula inaugural, foi realizada a apresentação do ‘Rap da Saúde SMS’, uma rede de adolescentes e jovens promotores da saúde, que fazem parte do curso desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde da cidade do Rio de Janeiro.
Ciência, Saúde e Desenvolvimento
Em seguida, o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e do Complexo Econômico Industrial da Saúde do Ministério da Saúde (SECTICS/MS), Carlos Gadelha, iniciou sua apresentação sobre Ciência, Saúde e Desenvolvimento, chamando a atenção para o conceito amplo de ‘saúde’, que está relacionado à qualidade de vida e a políticas sociais e econômicas, e não apenas à ausência de doença. Na ocasião, Gadelha também destacou o conceito abrangente de ‘desenvolvimento’, o qual é “um processo de mudança social pelo qual um número crescente de necessidades humanas são satisfeitas por meio de uma diferenciação no sistema produtivo, gerada pela introdução de inovações tecnológicas”.
Posteriormente, Gadelha discorreu sobre as ações do governo contempladas pelas Políticas Nacionais de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico Industrial da Saúde. Ele lembrou que, em 2023, a C&T&I voltou a ser prioridade do governo e reforçou que a Ciência, Tecnologia e Inovação são essenciais para o futuro sustentável e soberano ao SUS. Segundo ele, o orçamento de C&T&I, no ano passo, foi três vezes superior e, em 2024, aumentou cinco vezes. A previsão de investimentos na área, para o período de 2023 a 2026, é de 2,2 bilhões, o que representa um recorde histórico desde a criação da Secretaria de Ciência e Tecnologia, conforme informado por Gadelha.
Ele também destacou que, em 2023, o governo lançou chamadas públicas na área de C&T&I em Saúde, com o orçamento total de R$ 357 milhões, focadas nos campos de saúde pública de precisão; estudos transdisciplinares em saúde coletiva; pesquisa de tuberculose e fortalecimento da vigilância; ciência de dados; mudanças climáticas e saúde; e evidências em saúde. “A estratégia de pesquisa e de um gestor público envolve sempre a criação de viabilidades e projetos que gerem consenso para mudarmos a realidade”, frisou.
Gadelha anunciou que, em breve, será lançado o Programa Pesquisa para o SUS, que envolve os 27 estados da federação, para o enfrentamento conjunto de grandes problemas da saúde coletiva e do SUS, sob os princípios de transdisciplinaridade, redes de pesquisa, equidade de gênero e de raça.
Conforme destacado pelo secretário, para 2024, o governo lançará nove chamadas públicas, com investimento de 234 milhões de reais, com ênfase nas áreas de genômica e saúde de precisão; doenças determinadas socialmente; doenças e agravos não transmissíveis; prevenção e enfrentamento à desinformação; pesquisas pré-clínicas e clínicas para o SUS; entre outras.
Gadelha destacou o Complexo Econômico Industrial da Saúde (CEIS) como uma nova aposta para o Brasil e frisou que o campo da saúde nacional é sistêmico, envolvendo Indústria, Subsistema de Informação e, ainda, um Subsistema de Serviços, o qual contempla desde a Atenção Primária até hospitais de alta complexidade.
O secretário também defendeu a articulação entre políticas de diversos campos, desenvolvidas pelos Ministérios, e uma nova geração de políticas públicas e institucionais que “olhem para fora das caixas setoriais”, em nome de grandes desafios da sociedade brasileira e global.
Ele também afirmou que o governo busca, nas Políticas Nacionais de C&T&I e do Complexo Econômico Industrial da Saúde, articular dois universos: o mundo da Ciência, Tecnologia e Inovação, da reindustrialização, da produção local e soberania nacional e da cooperação global com o mundo da transformação social, ecológica e digital.
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