Atuação no território e compromisso com o SUS: Residência em Saúde da Família celebra 20 anos
Por Bruna Abinara e Danielle Monteiro
Duas décadas de formação, prática no território e compromisso com o SUS marcaram a celebração dos 20 anos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (PRMSF) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). O evento, realizado nesta quinta-feira (18/12), reuniu diferentes gerações de residentes, gestores e parceiros em um encontro de memória, reconhecimento e projeção de futuros. A cerimônia completa está disponível no canal da ENSP no Youtube; assista.
“É um prazer e uma honra para esta Escola celebrar o PRMSF. Essa formação foi uma decisão muito acertada, com um compromisso que se renova a cada turma, em direção ao fortalecimento do SUS, da Atenção Primária e da Estratégia de Saúde da Família”, afirmou o diretor da ENSP. Marco Menezes ressaltou que o curso alia experiência prática, atuação no território e formação acadêmica na perspectiva de transformar a realidade e enfrentar os desafios na luta por um país socioambientalmente mais justo. O diretor defendeu o multilateralismo para a democracia e destacou os estágios internacionais oferecidos pelo curso. Para ele, a ENSP avançou muito a partir do fazer com os movimentos sociais e da luta no território, um dos aspectos centrais da residência. “Vocês chegam, dialogam conosco, vão para outros espaços do Sistema Único de Saúde e da sociedade e levam um pouco da ENSP e da Fiocruz. Isso faz parte da luta por uma sociedade mais justa e equânime.”
A coordenadora do PRMSF, Ana Laura Brandão, destacou a alegria de comemorar as duas décadas do programa. “Que possamos continuar apostando na importância desse modelo de formação para o SUS e para o enfrentamento dos desafios da saúde pública, da democracia e do combate às desigualdades”, desejou. Ela ainda citou um texto de Antônio Bispo dos Santos para trazer a ideia de confluência: “Um rio não deixa de ser um rio porque conflui com outros. Ao contrário, ele se fortalece. A confluência é uma força que rende, aumenta e amplia. Para mim, a Residência é essa confluência”.
A coordenadora de pós-graduação lato sensu, Patrícia Way, celebrou a existência de “um programa deste tamanho, em um país de tantas iniquidades, em que lutamos muito para manter o número de vagas, os postos de trabalho e as parcerias”. A pesquisadora destacou o protagonismo dos residentes como base do curso e contou que a Residência em Saúde da Família é o maior processo seletivo da ENSP.Patrícia ainda parabenizou os estudantes pela dedicação ao intenso ritmo da formação, que tem, no total, mais de 5 mil horas. “Aproveitem essa Escola; por onde forem, vocês são parte dessa família e nos representam. Esse legado é nosso, vamos celebrá-lo”, concluiu.
O vice-diretor de Ensino da ENSP/Fiocruz fez uma analogia ao comparar os 20 anos do PRMSF com o início da vida adulta, um momento em que considerou importante pensar no futuro. Para Gideon Borges, para traçar os próximos passos do curso e da instituição, é preciso refletir sobre o cenário social atual e a demanda urgente de olhar para os grupos historicamente vulnerabilizados, como as pessoas com deficiência, as populações negras e indígenas, as questões LGBTIAPN+ e o aumento da violência contra a mulher e dos feminicídios. “A Residência atualiza o enfrentamento desses desafios pela proximidade com o campo. Como ela vive o cotidiano das unidades de saúde e percebe o que acontece na prática, tensiona e atualiza a instituição”, afirmou.
Representando o secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, a assessora da Subsecretaria-Geral da SMS-RJ, Clara Carneiro, também esteve presente na mesa institucional para celebrar a parceria do programa com a SMS-RJ. “Essa parceria é extremamente valiosa para nós. Vemos a potência de vocês, residentes, estarem nas nossas unidades. A saúde pública carioca é melhor porque existe esse programa, que, em duas décadas, já se mostra sólido e sustentável”, declarou. A gestora encerrou sua fala com um conselho: “Não se limitem. Quando sentirem que há mais a ser feito, façam”.
Após a mesa institucional de abertura, foi exibido o vídeo "O que é o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (PRMSF) para você?", composto por relatos de alunos, egressos, professores e colaboradores, que registram lembranças, desafios e conquistas. “As vozes que compõem esse vídeo revelam a força coletiva que sustentou o programa ao longo desses 20 anos”, destacou a coordenadora Ana Laura Brandão.
“Nunca se deixa de ser residente”, afirmou Rayane Fernandes, que concluiu a formação em fevereiro deste ano. A cirurgiã-dentista ressaltou que o diferencial do curso começa ainda durante o processo seletivo, com a escolha de alunos que, para além do conhecimento teórico, são engajados com a prática cotidiana da saúde pública. A egressa também destacou a união entre as equipes e o foco no cuidado compartilhado: “O curso possibilita que profissionais de diversas categorias se transformem em equipe. A partir de um momento, não faz mais sentido cuidar sozinha. O ‘eu categoria profissional’ se soma ao ‘eu multiprofissional’”.
Por fim, a coordenadora adjunta do PRMSF, Karla Meneses, comentou sobre a emoção de ver tantas vidas marcadas pelo programa, que já se consolidou como referência. Para a mediadora da mesa, um ponto central da residência é permitir que os estudantes conheçam a Atenção Primária à Saúde a partir das perspectivas daqueles que buscam seus serviços. “Não resta dúvida sobre o papel estruturante de um espaço formativo como esse no conjunto de estratégias para o fortalecimento de programas de saúde no SUS”, declarou. Emocionada, Karla desejou vida longa ao programa: “Que esse programa siga formando, ano após ano, sanitaristas comprometidos com os princípios do SUS e que reafirmem, cotidianamente em sua prática, o caráter humanista do cuidado na Saúde da Família”.
+ Assista na íntegra pelo canal da ENSP no Youtube
+ Confira alguns registros do evento:
Fotos: Gabriel Vieira e Guilherme de Souza Auatt Pessanha



