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Atuação no território e compromisso com o SUS: Residência em Saúde da Família celebra 20 anos

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Publicado em:19/12/2025

Por Bruna Abinara e Danielle Monteiro

Duas décadas de formação, prática no território e compromisso com o SUS marcaram a celebração dos 20 anos do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (PRMSF) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). O evento, realizado nesta quinta-feira (18/12), reuniu diferentes gerações de residentes, gestores e parceiros em um encontro de memória, reconhecimento e projeção de futuros. A cerimônia completa está disponível no canal da ENSP no Youtube; assista.  

“É um prazer e uma honra para esta Escola celebrar o PRMSF. Essa formação foi uma decisão muito acertada, com um compromisso que se renova a cada turma, em direção ao fortalecimento do SUS, da Atenção Primária e da Estratégia de Saúde da Família”, afirmou o diretor da ENSP. Marco Menezes ressaltou que o curso alia experiência prática, atuação no território e formação acadêmica na perspectiva de transformar a realidade e enfrentar os desafios na luta por um país socioambientalmente mais justo. O diretor defendeu o multilateralismo para a democracia e destacou os estágios internacionais oferecidos pelo curso. Para ele, a ENSP avançou muito a partir do fazer com os movimentos sociais e da luta no território, um dos aspectos centrais da residência. “Vocês chegam, dialogam conosco, vão para outros espaços do Sistema Único de Saúde e da sociedade e levam um pouco da ENSP e da Fiocruz. Isso faz parte da luta por uma sociedade mais justa e equânime.” 

A coordenadora do PRMSF, Ana Laura Brandão, destacou a alegria de comemorar as duas décadas do programa. “Que possamos continuar apostando na importância desse modelo de formação para o SUS e para o enfrentamento dos desafios da saúde pública, da democracia e do combate às desigualdades”, desejou. Ela ainda citou um texto de Antônio Bispo dos Santos para trazer a ideia de confluência: “Um rio não deixa de ser um rio porque conflui com outros. Ao contrário, ele se fortalece. A confluência é uma força que rende, aumenta e amplia. Para mim, a Residência é essa confluência”. 

A coordenadora de pós-graduação lato sensu, Patcia Way, celebrou a existência de “um programa deste tamanho, em um país de tantas iniquidades, em que lutamos muito para manter o número de vagas, os postos de trabalho e as parcerias”. A pesquisadora destacou o protagonismo dos residentes como base do curso e contou que a Residência em Saúde da Família é o maior processo seletivo da ENSP.Patrícia ainda parabenizou os estudantes pela dedicação ao intenso ritmo da formação, que tem, no total, mais de 5 mil horas. “Aproveitem essa Escola; por onde forem, vocês são parte dessa família e nos representam. Esse legado é nosso, vamos celebrá-lo”, concluiu.

O vice-diretor de Ensino da ENSP/Fiocruz fez uma analogia ao comparar os 20 anos do PRMSF com o início da vida adulta, um momento em que considerou importante pensar no futuro. Para Gideon Borges, para traçar os próximos passos do curso e da instituição, é preciso refletir sobre o cenário social atual e a demanda urgente de olhar para os grupos historicamente vulnerabilizados, como as pessoas com deficiência, as populações negras e indígenas, as questões LGBTIAPN+ e o aumento da violência contra a mulher e dos feminicídios. “A Residência atualiza o enfrentamento desses desafios pela proximidade com o campo. Como ela vive o cotidiano das unidades de saúde e percebe o que acontece na prática, tensiona e atualiza a instituição”, afirmou.

Representando o secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, a assessora da Subsecretaria-Geral da SMS-RJ, Clara Carneiro, também esteve presente na mesa institucional para celebrar a parceria do programa com a SMS-RJ. “Essa parceria é extremamente valiosa para nós. Vemos a potência de vocês, residentes, estarem nas nossas unidades. A saúde pública carioca é melhor porque existe esse programa, que, em duas décadas, já se mostra sólido e sustentável”, declarou. A gestora encerrou sua fala com um conselho: “Não se limitem. Quando sentirem que há mais a ser feito, façam”. 

Após a mesa institucional de abertura, foi exibido o vídeo "O que é o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família (PRMSF) para você?", composto por relatos de alunos, egressos, professores e colaboradores, que registram lembranças, desafios e conquistas. “As vozes que compõem esse vídeo revelam a força coletiva que sustentou o programa ao longo desses 20 anos”, destacou a coordenadora Ana Laura Brandão. 

As experiências de egressos do PRMSF

A mesa ‘Onde estamos e o que fazemos no PRMSF’ trouxe experiências relatas por egressos do programa, que discorreram sobre o dia a dia nas Unidades Básicas de Saúde e o trabalho interprofissional.

Estagiário em uma equipe de consultório de rua no Jacarezinho, Rio de Janeiro, quando era residente do PRMSF, o cirurgião-dentista Pedro Antunes contou como desenvolveu seu trabalho de conclusão de curso, que envolveu a elaboração de um fluxograma que contempla a saúde bucal e as demais categorias profissionais, visando a ampliação do acesso ao serviço a pessoas em situação de rua. A iniciativa foi levada à Secretaria Municipal de Saúde e Pedro foi posteriormente contratado para trabalhar em uma equipe de consultório de rua. “O estágio pode ser um determinante para a carreira do residente”, refletiu. Ele também alertou para a importância de se tratar cada paciente conforme suas necessidades e especificidades, mesmo quando todos pertencem a um mesmo grupo de vulnerabilidade. 

A partir de sua experiência também no Jacarezinho enquanto residente do PRMSF, a nutricionista Clarice Miranda destacou o programa e o território como importantes campos de aprendizagem e mostrou como a Comunicação e Saúde, tema de seu trabalho de conclusão de curso, podem ser importantes aliadas na construção e compreensão do campo prático enquanto um pilar. “Não há como ‘fazer’ Atenção Primária em Saúde sem comunicação”, frisou. A iniciativa resultou em um diagnóstico situacional, utilizado até hoje por profissionais de saúde, culminando em dois capítulos de livros.

Os egressos do PRMSF Letícia Guimarães e Júlio Padilha relataram sua experiência em Aceguá, na fronteira entre Brasil e Uruguai. Eles abordaram as semelhanças entre os sistemas de saúde dos dois países e destacaram a relevância da atuação multidisciplinar e do programa, que, segundo eles, vislumbra sistemas de saúde compartilhados, baseados na cooperação transfronteiriça. “Nas fronteiras urbanas, reconhecer a realidade local e compreender os fluxos populacionais, as barreiras de acesso e os arranjos institucionais é fundamental para a construção de práticas de cuidado mais integradas, resolutivas e culturalmente complementares, conforme vivenciamos lá. São dois sistemas que dependem dessa relação de troca entre os profissionais”, refletiu Júlio.

Coordenadora-geral do PRMSF e mediadora da mesa, Ana Laura Brandão definiu a residência como um espaço de formação pelo trabalho, que atravessa o cotidiano das vidas dos profissionais: “Os residentes, assim como os egressos, nos mostram, com suas próprias histórias, que, mesmo em meio às contradições e às dores do dia-a-dia, as quais existem e são muitas, a residência é um espaço onde os sonhos se tornam possíveis”, afirmou.

Memórias e horizontes para as residências multiprofissionais

A mesa ‘Vinte anos de formação no SUS e para o SUS: memórias e horizontes para as residências multiprofissionais em saúde’ rememorou a história do PRMSF.

Gerente de Desenvolvimento Técnico Acadêmico da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Vânia Monteiro frisou que o PRMSF é um programa de vanguarda, que gera conexões e traz parcerias em sua multidisciplinaridade. Entre os destaques de seus 20 anos de história, Vânia citou a ampliação do escopo do programa para outras formações, além do R3, que corresponde a um ano adicional de aprofundamento em uma especialidade para médicos que já concluíram o R1 e R2 em uma área-base. Como expectativas para o programa, Vânia destacou a configuração do Ano Opcional em Gestão na normativa. “O PRMSF sempre foi um programa de diálogos plurais e soube, de maneira muito exemplar, lidar e dialogar com todos os espaços e pluralidade”, complementou.

Coordenadora-adjunta dos Programas de Residência em Saúde da Fiocruz, Maria Alice Pessanha narrou a história do PRMSF desde o seu nascimento. Ela citou marcos do programa, falou sobre o desenvolvimento de seu sistema de avaliação e destacou os desafios vivenciados ao longo de sua trajetória. Entre eles, a necessidade de ampliação de Unidades de Saúde da Família, as indefinições normativas, a complexidade na criação de um novo modelo, entre outros. Ela também elencou as inovações desenvolvidas durante o período, como a formação de preceptores, a elaboração do Manual da Residência e de um mapa conceitual como estratégia de avaliação, além do desenvolvimento do processo de acolhimento da equipe. “Participar do SUS é algo que fica dentro do Programa de Residência. Os egressos são eternos residentes”, concluiu.

Representando os egressos da primeira turma do programa (2005–2007), o coordenador de área programática na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-RJ), Jubemar Lima, fez uma reflexão sobre os caminhos profissionais que pôde trilhar a partir da Residência e agradeceu a todos os alunos, professores e trabalhadores que conheceu durante e por causa do curso. 

“Nunca se deixa de ser residente”, afirmou Rayane Fernandes, que concluiu a formação em fevereiro deste ano. A cirurgiã-dentista ressaltou que o diferencial do curso começa ainda durante o processo seletivo, com a escolha de alunos que, para além do conhecimento teórico, são engajados com a prática cotidiana da saúde pública. A egressa também destacou a união entre as equipes e o foco no cuidado compartilhado: “O curso possibilita que profissionais de diversas categorias se transformem em equipe. A partir de um momento, não faz mais sentido cuidar sozinha. O ‘eu categoria profissional’ se soma ao ‘eu multiprofissional’”. 

Por fim, a coordenadora adjunta do PRMSF, Karla Meneses, comentou sobre a emoção de ver tantas vidas marcadas pelo programa, que já se consolidou como referência. Para a mediadora da mesa, um ponto central da residência é permitir que os estudantes conheçam a Atenção Primária à Saúde a partir das perspectivas daqueles que buscam seus serviços. “Não resta dúvida sobre o papel estruturante de um espaço formativo como esse no conjunto de estratégias para o fortalecimento de programas de saúde no SUS”, declarou. Emocionada, Karla desejou vida longa ao programa: “Que esse programa siga formando, ano após ano, sanitaristas comprometidos com os princípios do SUS e que reafirmem, cotidianamente em sua prática, o caráter humanista do cuidado na Saúde da Família”. 

+ Assista na íntegra pelo canal da ENSP no Youtube

+ Confira alguns registros do evento: 

Fotos: Gabriel Vieira e Guilherme de Souza Auatt Pessanha


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