Fortalecer vínculos entre APS e Atenção Especializada: pesquisadoras falam sobre novo estudo da ENSP
Por Danielle Monteiro
A coordenadora da pesquisa, Gisele Odwyer, a vice-coordenadora do estudo, Catia Oliveira, e a pesquisadora convidada, Maria Fernanda Coutinho, contam como a iniciativa será desenvolvida e comentam os resultados esperados, além dos desafios na coordenação do cuidado entre APS e Atenção Especializada. Confira, abaixo:
Quais são os objetivos da pesquisa, como ela será desenvolvida e quais são os principais resultados (apontamentos) esperados?
Gisele Odwyer e Catia Oliveira: O objetivo é avaliar o desempenho da coordenação do cuidado com base na articulação da Atenção Primária à Saúde (APS) e Atenção Especializada em Saúde (AES). A pesquisa será desenvolvida em todo o território nacional a partir de duas estratégias. Começamos investigando como essa coordenação vem ocorrendo nos estados e capitais brasileiras, entrevistando coordenadores de APS estaduais e das capitais, totalizando 53 entrevistas.
A partir desse cenário nacional, que vai representar a totalidade do país e suas diferenças e especificidades, vamos nos concentrar em cinco estados, um de cada região brasileira. Nestes estados, vamos explorar a gestão, não só da APS, mas de todos os envolvidos da atenção especializada, escolhendo a capital e um município do interior, distante da capital. Nesses dez municípios, vamos fazer uma intervenção de melhoria da coordenação em unidades de saúde da APS. Este conjunto de técnicas visa avaliar o desempenho da APS na coordenação do cuidado, gerando uma classificação deste desempenho, que pode ser satisfatório, parcialmente satisfatório, baixo ou muito baixo.
Como se dá o processo de coordenação do cuidado entre APS e Atenção Especializada e qual a sua importância para o SUS?
Gisele Odwyer e Catia Oliveira: Em uma rede de atenção bem organizada, a APS é o principal centro de comunicação da Rede, cabendo à Atenção Especializada (AE) desempenhar um papel de apoio à APS. A APS, que é responsável pelas pessoas de uma determinada área de abrangência, resolve a maioria dos problemas de saúde da população. Sua responsabilidade não se restringe às suas atividades, já que ela é coordenadora do cuidado. Por isso, ao identificar uma necessidade em saúde que não é competência da APS, cabe a ela encaminhar o paciente para estre cuidado especializado, além de acompanhar o que acontece com esse paciente.
Normalmente esse processo exige um sistema de regulação. O atual sistema disponibilizado pelo governo federal é o SISREG. Mas, as experiências são muito diversas no país, assim como as estratégias de regulação, onde ocorre o agendamento da consulta, exame, cirurgia, a partir de uma fila de prioridades. A importância da pesquisa para o SUS é garantir o acesso do paciente conforme as necessidades de cada um, garantindo condições igualitárias de acesso e evitando gastos desnecessários.
Quais são os principais desafios na coordenação do cuidado entre APS e Atenção Especializada e como a pesquisa pode ajudar a vencê-los?
Gisele Odwyer e Catia Oliveira: Um desafio é falta de especialistas e serviços especializados. Outros são a distância entre a residência das pessoas e os serviços; o tempo que leva para conseguir acessar o especialista; a comunicação entre os serviços; e a fragilidade do sistema de informação, que dificulta a comunicação.
A pesquisa vai elaborar o diagnóstico situacional da coordenação do cuidado pela APS; mapear as estratégias de acesso para os gargalos; caracterizar tecnologias informacionais empregadas e demandas relacionadas; identificar experiências positivas no emprego de tecnologias informacionais; e produzir uma matriz de desempenho da coordenação do cuidado.
O país teve avanços recentes na coordenação do cuidado no SUS? Se sim, quais?
Gisele Odwyer e Catia Oliveira: Muitos avanços, mas ainda sem superar todas as dificuldades. O avanço tecnológico é visível: a informatização dos serviços e o uso de telemedicina, por exemplo. O governo federal lançou o programa ‘Agora tem Especialistas’, visando superar gargalos históricos entre especialidades médicas. A APS vem aumentando sua cobertura nacional, podendo se responsabilizar por um percentual maior da população.
Conte sobre a sua atuação e o trabalho que você vem desenvolvendo na pesquisa e na ENSP.
Maria Fernanda: No estudo em que participo, desenvolvo atividades gerais de pesquisa, como a revisão da literatura; análise documental; mapeamento dos gestores para a realização de entrevistas semiestruturadas e grupos focais, além da organização de todas essas informações. Quando iniciado o campo propriamente dito, atuarei na coleta de dados qualitativos e quantitativos e na análise dos dados obtidos. Também contribuo com a área de saúde mental, uma das condições traçadoras utilizadas para avaliar a coordenação do cuidado na Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil.
A integração da saúde mental na APS é fundamental diante da crescente demanda por atenção ao sofrimento psíquico. Essa integração garante cuidado territorial e abrangente, contemplando necessidades físicas e mentais. Minha experiência na área contribui para definir o campo de estudo e para analisar os resultados sobre coordenação do cuidado.
Além da pesquisa, atuo no Observatório do SUS da ENSP, participando de reuniões regulares sobre políticas de saúde, especialmente na interface com a APS. Sou responsável pelo acompanhamento das políticas de saúde mental durante o período da pesquisa, apresentando dados para discussão em grupo.
Colaboro no ensino, preparando aulas para disciplinas da ENSP, participando de bancas de qualificação de mestrado e compondo mesas com institutos parceiros, como o INI e o INCA.
Estamos dedicando atenção especial à comunicação dos resultados para gestores, profissionais e usuários. Para isso, serão elaborados relatórios individuais e policy briefs, documentos sintéticos que divulgam os principais achados e contribuem para o debate público sobre a coordenação da rede a partir da APS. Esperamos que esses resultados apoiem as ações governamentais e fortaleçam a legitimidade da atuação do Estado no SUS por meio da APS.
Assista à entrevista com as pesquisadoras envolvidas no estudo:
+ Confira o portfólio de apresentação do estudo
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