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Contratação na ENSP/Fiocruz impulsiona debate sobre inclusão de pessoas com deficiência na Bahia

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Publicado em:06/10/2025
Por Bruna Abinara 

A inclusão de pessoas com deficiência no mundo do trabalho foi o foco de uma reunião na Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (SETRE) da Bahia. O encontro é uma repercussão da contratação de duas mulheres com deficiência intelectual como facilitadoras-docentes na Especialização em Qualificação da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência no SUS da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). A contratação delas como docentes de pós-graduação é algo inédito, mas alinhado com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), que determina o direito da pessoa com deficiência ao trabalho, em ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades. 
 


O evento contou com a presença do secretário da SETRE, Augusto Vasconcelos; da assessora da pauta na SETRE, Marleide Nogueira; do coordenador da Agenda Bahia do Trabalho Descente da SETRE, Álvaro Gomes; da diretora da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD) e coordenadora SerDown Bahia, Lívia Borges; da psicopedagoga e mediadora do grupo de autodefensoria Nordeste FBASD, Rosângela Régia; do campeão baiano de jiu-jitsu, diretor de Relações Públicas da Associação Baiana de Síndrome de Down (Ser Down) e membro autodefensor da FBASD, Álvaro Borges Neto; da autodefensora da FBASD pela região Nordeste e uma das selecionadas como facilitadoras-docentes da ENSP, Amanda Amaral Lopes; e da pesquisadora da ENSP Laís Silveira Costa.  

O secretário já pensava em estruturar uma iniciativa estadual para promover o emprego apoiado de pessoas com deficiência. Com as contratações para o curso de especialização da ENSP, a reunião na Secretaria da Bahia foi organizada como um espaço de compartilhamento de ideias e troca de experiências para desenhar iniciativas possíveis.  

"Um dos eixos da Agenda Bahia do Trabalho Decente é a inclusão das pessoas com deficiência no mundo do trabalho. Conversamos sobre um projeto que tramita no Congresso Nacional sobre emprego apoiado, que viabilizaria, com mais condições de autonomia, a inserção dessas pessoas no mundo do trabalho, que são pessoas capazes e que precisam de oportunidades, apoio, inclusão, para enfrentar os estigmas na sociedade, que ainda é muito capacitista. Recebemos, na SETRE, Amanda Amaral Lopes, a primeira professora de pós-graduação com síndrome de Down. Nessa visita, abordamos a importância da inserção das pessoas com deficiência no mundo do trabalho", contextualizou Vasconcelos. 

A pesquisadora Laís Costa explica que, apesar de haver evidência científica de que o emprego apoiado traz bons resultados para a inclusão de pessoas com deficiência intelectual no ambiente de trabalho, existem poucas iniciativas nesse sentido. Além disso, a maioria das medidas parte das famílias ou das empresas, e não são estruturadas pelo estado, como deveriam ser para efetivar um direito legal. "A LBI é maravilhosa, mas, se os direitos não saírem do papel, ela é só bonita de ler", criticou a pesquisadora. 

Para Costa, a presença de pessoas com deficiência intelectual nos espaços já produz um tensionamento na corponormatividade e desconstrói uma variedade de estigmas. “Estamos acostumados a olhar a pessoa com deficiência intelectual pelo que ela não pode fazer, mas tem coisas que ela consegue muito melhor do que os outros. Essa própria necessidade de um linguajar mais simples, com palavras menos abstratas, produz um espaço de reflexão e tradução no grupo que objetiva a tarefa e produz soluções mais eficazes”, destacou. 

Como exemplo, citou as experiências das duas turmas da formação realizadas em Salvador. A turma que teve uma professora com deficiência intelectual optou por desenvolver a solução em linguagem simples. Já a outra turma adotou uma linguagem mais tradicional, acadêmica, que dialoga menos com a população brasileira. “O relato mostra que a proposta em linguagem simples tem uma comunicação mais efetiva, pois permite identificar com facilidade os problemas, seus condicionantes e as soluções propostas", comentou. 

A autodefensora Amanda Lopes destaca que pessoas com deficiência intelectual atuarem como docentes é um marco importante para a história da inclusão. "Pela primeira vez, uma pessoa com Síndrome de Down e deficiência intelectual ministrou uma aula em um curso de pós-graduação, representando uma instituição conceituada como a ENSP/FIOCRUZ. Tudo isso só foi possível graças a um processo seletivo justo, igualitário e inclusivo. Senti-me imensamente feliz, ansiosa e determinada por fazer parte dessa equipe. Minhas expectativas foram de muita emoção e, acima de tudo, de ter a oportunidade de estar em um espaço que valoriza a diversidade e reconhece capacidades", declarou. 

A psicopedagoga Rosângela Régia, que participou do evento como mediadora assistiva de Amanda, reforçou que promover ações para a contratação de pessoas com deficiência é essencial para garantir igualdade de oportunidades e combater barreiras que, historicamente, afastaram essas pessoas de ambientes de ensino e trabalho qualificado. "A iniciativa da Fiocruz é especialmente relevante porque vai além do discurso quando já no edital de seleção, foram definidos critérios que favoreciam o desenvolvimento e a atuação docente de pessoas com deficiência, tornando o processo realmente inclusivo e acessível", afirmou. Régia ainda apontou para a necessidade de uma mudança cultural permanente. Para tal, defendeu editais acessíveis, oferta de apoio adequado, investimento em acessibilidade, formação de equipes para o combate ao capacitismo e valorização das trajetórias de sucesso de pessoas com deficiência. 

Para Lívia Borges, diretora da FBASD e coordenadora da SerDown Bahia, a parceria entre movimentos sociais, Estado e instituições científicas é fundamental: "Assim podermos proporcionar mais oportunidades com os apoios necessários, para que as pessoas com deficiência intelectual estejam onde elas sempre deveriam estar, nos espaços que são de todos e de todas e nos quais suas habilidades sejam reconhecidas".  




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