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Dos oceanos ao quilombo: aniversário de 59 anos do DCB/ENSP debate ciência, vida e diversidade

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Publicado em:26/09/2025
Por Barbara Souza

O Departamento de Ciências Biológicas (DCB) da ENSP/Fiocruz completou 59 anos e comemorou com um evento especial nesta quarta-feira (24/9). Com o tema “Conexões que inspiram: ciência, vida e diversidade”, o encontro reuniu pesquisadores, trabalhadores e estudantes, além de convidados especiais para a celebração. O pesquisador Salvatore Siciliano, do DCB/ENSP e do Grupo de Estudos de Mamíferos Marinhos (GEMM-Lagos), falou sobre a saúde dos oceanos. Já Natália Lima, coordenadora-geral da Associação dos Quilombolas da Boa Esperança, abordou a relação entre meio ambiente e quilombo.


Na abertura da atividade, a chefe do DCB, Raquel Sales de Andrade, explicou o tema da festividade: “As conexões que nos inspiram são múltiplas: a ciência como base sólida para compreender e propor soluções, a vida como um valor inegociável em todas as suas formas e a diversidade, biológica ou cultural, como riqueza essencial para um futuro mais justo e sustentável”.

Ela fez ainda um paralelo entre a temática escolhida para a comemoração e as pautas da COP 30, que será realizada em novembro, em Belém. “Assim como a conferência internacional reconhece que o enfrentamento da crise climática exige integração entre ciência, política, sociedade civil e conhecimentos tradicionais, nosso departamento reafirma que a ciência ganha sentido quando está conectada à vida e à diversidade em todas as suas dimensões”, disse. A pesquisadora também aproveitou a oportunidade para reafirmar a missão do DCB de convergir saberes, experiências e práticas a fim de unir esforços – locais e globais – para proteger o planeta, reduzir desigualdades e garantir saúde para as atuais e futuras gerações.


A vice-diretora de Atenção à Saúde e Laboratórios da ENSP parabenizou as equipes do DCB pela marca. “É algo importante no ano em que a Fiocruz completou 125 anos e a nossa Escola, 71”, celebrou. Fátima Rocha destacou ainda as experiências e a memória das quase seis décadas. “A linha do tempo do departamento teve muitas mudanças, enfrentamentos e também grandes contribuições para o que a ENSP e a Fiocruz entendem como ciência. Não é à toa que o nome do centro de pesquisas onde a maioria dos laboratórios do DCB está instalada se chama Luiz Fernando Ferreira”, afirmou a vice-diretora ao lembrar do pesquisador emérito que fundou o departamento em 1966.

Dos oceanos ao quilombo: ciência pelas diversidades

O primeiro convidado especial do evento a palestrar foi o pesquisador Salvatore Siciliano. Ele fez uma apresentação sobre a importância dos oceanos no contexto de “Uma Só Saúde”, visão que reconhece a interdependência entre os seres humanos, os animais e o meio ambiente. Na palestra “Oceanos e pessoas saudáveis: elos perfeitos de conectividade”, o pesquisador destacou que os oceanos são o “berço da vida”, respondem pela manutenção da biodiversidade, pela regulação do clima e pela produção de oxigênio, além da absorção de gás carbônico. “Os oceanos abrigam uma vasta diversidade de espécies marinhas, essenciais para o equilíbrio do meio ambiente. Eles distribuem calor por meio das correntes marinhas e regulam o clima global. Além disso, produzem mais de 50% do nosso oxigênio e contribuem significativamente para a mitigação das mudanças climáticas ao absorver dióxido de carbono”, explicou.

O pesquisador também abordou outros aspectos dos oceanos, como sua relação com a segurança alimentar, por meio da sustentabilidade pesqueira, além de seu papel tanto como fonte de recursos econômicos quanto de inspiração e beleza. A proteção dos manguezais e restingas foi um dos destaques nesse contexto. Em seguida, Salvatore Siciliano lamentou a poluição que atinge os mares, lembrando do derramamento de óleo que alcançou grande parte do litoral brasileiro, em 2019. Como exemplo de prejuízo ambiental desse caso, o pesquisador citou as anomalias identificadas em cavalos-marinhos após a tragédia.

Durante a palestra, o convidado expôs casos de outras espécies que têm sido ameaçadas nos oceanos em todo o mundo, como golfinhos, vítimas de doenças causadas por vírus, fungos e bactérias – muitas vezes ligadas à poluição. “Os mamíferos marinhos são muito importantes e são espécies sentinelas”, afirmou. Nesse momento, Siciliano destacou as toninhas, que vivem do litoral do Espírito Santo até a Argentina. Essa espécie é encontrada no Norte Fluminense, mas sua população por lá está reduzida a cerca de mil indivíduos, sob risco de extinção. O rompimento da barragem em Mariana (MG), em 2015, que poluiu com rejeitos de minério o Rio Doce e o mar, impactou a população de toninhas, como explicou o pesquisador.

Em seguida, houve a participação de Natália Lima, coordenadora-geral da Associação dos Quilombolas da Boa Esperança, que fica no município de Areal (RJ). Ao tratar da relação entre o meio ambiente e a sociedade quilombola, ela destacou que a prioridade é que os moradores da comunidade tenham acesso à água de qualidade. “A gente precisa de saúde, coisas básicas, como a melhoria da água, recuperação das nascentes, saneamento básico, a saúde mais completa”, pontuou. A convidada também citou o reflorestamento como uma prioridade, especialmente relacionada à questão de saúde da comunidade, além de necessidades ligadas à mobilidade, educação e lazer.

Em relação ao reflorestamento e à proteção das nascentes, o pesquisador do DCB Antonio Teva, morador de Areal, apresentou brevemente o projeto de implantação de uma Unidade de Apoio em Vigilância Epidemiológica e Ambiental em Saúde pelo DCB com o município de Areal. A iniciativa visa avaliar a qualidade da água utilizando parâmetros parasitológicos e bacteriológicos. Além disso, busca monitorar vetores de importância médica a fim de gerar dados para o planejamento de ações de controle e ações educativas. Teva mostrou os primeiros resultados do trabalho de reflorestamento ao redor das nascentes, explicando que é preciso uma recuperação mais ampla para manter a umidade. “Numa floresta, 40% da chuva fica retida nas árvores, no subsolo, e vai sendo drenada aos poucos, fortalecendo e abastecendo as nascentes. Quando chegarmos a esse estágio, de 5 a 10 anos, teremos um aumento considerável da água.”

Natália Lima também abordou aspectos culturais relevantes, como ações para valorização dos saberes quilombolas e iniciativas para o incremento da economia local baseada no que é e pode ser produzido no território. Ou seja, por meio da apresentação de experiências da Comunidade Quilombola da Boa Esperança, o evento também promoveu diálogo entre ciência e comunidades tradicionais, valorizando a diversidade cultural, de saberes e de práticas pelo Departamento.

Para conhecer melhor as iniciativas, estudos e atividades apresentadas por Salvatore Siciliano e Natália Lima, confira as palestras completas na gravação disponível no canal da ENSP no YouTube. 



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