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"Inovar é fortalecer a democracia", destaca diretora da Enap em seminário sobre inovação no setor público

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Publicado em:03/07/2025

Teve início nesta segunda-feira (30/6) o II Seminário Internacional de Laboratórios de Inovação no Setor Público, promovido pelo Laboratório de Inovação em Gestão Pública da ENSP/Fiocruz - o Pólen. O evento reúne especialistas nacionais e internacionais para discutir avanços, desafios e perspectivas no campo da inovação pública e institucional. Com programação até o dia 3 de julho, o Seminário busca fomentar a troca de experiências entre diferentes laboratórios de inovação, além de apresentar metodologias, boas práticas e projetos desenvolvidos no âmbito dos Programas de Aceleração.

A abertura contou com a palestra magna "Por que inovar no setor público?", ministrada por Camila Medeiros, diretora de Inovação e Gestão do Conhecimento da Enap. Em sua fala, ela destacou que a inovação parte das pessoas, não apenas dos cidadãos, mas, principalmente, dos próprios servidores públicos, que devem estar no centro das estratégias de inovação.

“Inovar não é apenas melhorar serviços. É fortalecer a democracia, a confiança pública e a efetividade do Estado. Entregar políticas públicas mais conectadas à realidade das pessoas é o que sustenta o valor do serviço público - e, por consequência, o valor da própria democracia”, afirmou Camila.

Por que inovar no setor público

Abrindo sua apresentação com a provocação “Por que inovar no setor público?”, Camila relembrou o artigo de 1973 “Dilemas na Teoria Geral do Planejamento”, que apontava uma crise de legitimidade e insatisfação com os serviços estatais nos Estados Unidos. Segundo ela, os dilemas identificados naquele período permanecem atuais, ainda que sob novas formas.

“Estamos vendo a repetição de fenômenos antigos, como o distanciamento entre Estado e sociedade, e a dificuldade dos governos em responder aos reais anseios da população”, pontuou. Ela destacou ainda os chamados “problemas perversos” (wicked problems) - como aquecimento global, mobilidade urbana e segurança alimentar, que desafiam soluções tradicionais por envolverem múltiplos atores e perspectivas. Nesse contexto, a pandemia de Covid-19 surgiu como um “mega wicked problem”, expondo de forma aguda a necessidade de agilidade, empatia e adaptabilidade na ação pública.

Para contextualizar o novo cenário global, Camila apresentou o conceito BANI (acrônimo em inglês para Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível), e os antídotos propostos pelo criador do conceito, o futurista Jamais Cascio. Entre eles: resiliência, empatia, flexibilidade e transparência. “Inovar é também responder a esse mundo em transformação”, observou ela.

Inovar com estratégia e estrutura

Segundo a palestrante, a inovação no setor público não é um fenômeno espontâneo. Embora frequentemente impulsionada pela criatividade individual, ela precisa de condições estruturadas para florescer e se manter. “Não podemos depender de heróis da inovação. Precisamos de políticas, formação, financiamento e mecanismos sustentáveis”, afirmou.

Camila explicou que a inovação precisa ser fomentada em três níveis: Individual (as pessoas são quem inovam); Organizacional (é preciso criar ambientes que favoreçam a inovação); e Sistêmico (compreende normas, políticas e incentivos que sustentem essas práticas). Ela também abordou as seis competências-chave para inovar, segundo matriz proposta pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): iteração, fluência em dados, foco no usuário, curiosidade, capacidade narrativa e insurgência. “Inovar é, também, saber contar boas histórias, questionar o status quo e ter coragem para experimentar”, destacou.

Cultura organizacional e indutores sistêmicos

Além das competências individuais, Camila enfatizou que as organizações precisam promover uma cultura propícia à inovação, com autonomia para servidores, gestão flexível, valorização de soluções criativas e educação continuada.

Ela chamou atenção também para os “indutores sistêmicos” da inovação, como a existência de problemas reais, o impulso político e os avanços tecnológicos - com destaque para o papel da inteligência artificial na administração pública.

Inovar é entregar valor público

Encerrando a palestra, Camila defendeu que a inovação vai além da melhoria de processos e serviços, ela é uma estratégia para fortalecer a democracia. “Entregar políticas públicas mais conectadas à realidade das pessoas é o que sustenta o valor do serviço público - e, por consequência, o valor da própria democracia”, concluiu.

Lançamento de curso marca o primeiro dia do evento

Um dos destaques do primeiro dia foi o lançamento do Curso de Mensuração de Impacto para Laboratórios de Inovação Pública, desenvolvido pela Ecossistema de Inovação em parceria com o Pólen/ENSP/Fiocruz e apoio das redes InovaGov e Conexão Inovação Pública.

Segundo Márcio Feitoza, coordenador do Pólen/ENSP, o curso foi concebido especialmente para laboratórios de inovação, áreas estratégicas de governo e instituições comprometidas em transformar a atuação do setor público, com mais escuta, colaboração e foco em impacto real.

“Sabemos que inovar no setor público é uma missão desafiadora. Exige coragem, articulação e criatividade para atuar em contextos complexos. Mas também sabemos que não basta inovar - é preciso demonstrar o valor e os resultados dessas inovações. É exatamente aí que entra este curso: vamos oferecer ferramentas práticas, reflexões estratégicas e metodologias aplicáveis para apoiar laboratórios e equipes públicas a medirem, qualificarem e comunicarem suas ações com mais clareza e coerência”, explicou.

+ Acompanhe os canais de comunicação da ENSP para mais informações sobre o novo curso e seu processo seletivo.

Como disseminar a cultura inovadora nas instituições públicas: Ana Carneiro compartilha trajetória do laboratório da ENSP

A primeira mesa do seminário abordou o tema “Aprimoramento e ampliação da inovação da gestão e disseminação da cultura inovadora em instituições públicas”, com apresentação de experiências de diferentes laboratórios nacionais e internacionais. Representando o Pólen/ENSP/Fiocruz, Ana Carneiro, vice-diretora de Desenvolvimento Institucional e Gestão da ENSP e ex-coordenadora e fundadora do laboratório, compartilhou o percurso da iniciativa, com uma fala marcada por reflexões, gratidão e afeto.


Criado em 2022, o Pólen nasceu com o objetivo de fomentar a inovação na gestão pública do SUS e contribuir para sua transformação. “Idealizar um laboratório é muito diferente de concretizá-lo. Uma vez que ele existe, surgem novas perguntas: o que exatamente será esse laboratório? Como ele funcionará?”, questionou Ana, ao relembrar o processo de construção da identidade do Pólen.

Ela apresentou um panorama da evolução do laboratório. “O Pólen foi um sonho antigo que se concretizou com muito esforço, colaboração e aprendizagem coletiva.” Em um momento simbólico de despedida, Ana compartilhou sua transição para a vice-direção da ENSP e o novo momento do laboratório sob a coordenação de Márcio Feitoza.

Entre os principais produtos e frentes de atuação do Pólen, ela destacou o Programa de Aceleração de Projetos, oficinas de instrumentalização e desenvolvimento de soluções como simplificação de editais, automações e criação de painéis dinâmicos. Atualmente, o programa conta com cinco turmas formadas, três em andamento, 56 projetos acompanhados e 186 participantes.

“Nosso próximo passo é medir o impacto desses projetos: como transformam a instituição e disseminam inovação em seus contextos?”, explicou, anunciando a construção de indicadores e ferramentas de avaliação como prioridade.

Ana também ressaltou os eixos transversais do laboratório: promoção da acessibilidade, apoio à transformação cultural e valorização da linguagem simples. Entre as temáticas estratégicas, citou ciências comportamentais, design simples, jogos sérios e gamificação e inovação na gestão pública.

Ela finalizou agradecendo aos parceiros que contribuíram para a trajetória do Pólen. “Hoje me despeço do Pólen com o coração cheio de gratidão. Estar aqui, neste seminário com mais de 38 laboratórios reunidos, inclusive internacionais, é um marco.”

Abertura do seminário destaca a importância da inovação pública sistêmica

A mesa de abertura do seminário contou com a participação de representantes de instituições públicas nacionais, com destaque para o protagonismo feminino na condução da inovação no setor público. Participaram da mesa, Ana Carneiro, vice-diretora de Desenvolvimento Institucional e Gestão da ENSP; Camila Medeiros, diretora de Inovação e Gestão do Conhecimento da Enap; e Claudia Martinelli, diretora de Inovação Governamental do Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI).

Ana Carneiro abriu a mesa destacando a consolidação da iniciativa. “No primeiro seminário, vimos que muitos dos nossos desafios também estão presentes em outros países e laboratórios. Isso amplia a possibilidade de troca e colaboração.” Ela celebrou a representação feminina. “São mulheres inspiradoras. É uma alegria termos tantas representantes de diferentes regiões do Brasil, da América Latina e de Portugal.”

Camila Medeiros reforçou a necessidade de pensar a inovação pública de forma sistêmica. “Inovar no setor público exige mais do que boas ideias: exige processos, estruturas, instrumentos legais e, sobretudo, ambientes organizacionais que favoreçam a experimentação e a aprendizagem.”

Ela apresentou um modelo de transformação em três níveis - indivíduo, organização e sistema - e citou instrumentos como o FNDCT, os editais de subvenção para govtechs e o Marco Legal das Startups. “Não temos desculpa. Temos recursos e arcabouço jurídico. Falta intenção. Precisamos colocar a inovação na agenda estratégica do Estado.”

Encerrando a mesa, Claudia Martinelli provocou o publico com a pergunta: “Como podemos avançar mais? Ela propôs reflexões sobre escalabilidade de soluções e institucionalização da gestão da inovação como função estratégica. Ela ainda resgatou a figura de Oswaldo Cruz como exemplo histórico. "Há mais de um século, ele já experimentava e enfrentava resistências. Seu legado é inspiração para seguirmos ousando". 

Assista às palestras na íntegra no canal da ENSP no YouTube!



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