Projeto 'Encruzilhadas' valoriza histórias e vivências de trabalhadoras negras da ENSP
Dando visibilidade a trajetórias historicamente invisibilizadas dentro da própria instituição, o projeto 'Encruzilhadas: Histórias e Vivências' tem como objetivo central reconhecer e valorizar as experiências de trabalhadoras negras da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). Coordenada por Camilla Teixeira, a iniciativa é uma das contempladas pelo Edital de Aceleração da Inovação em Gestão, e vem promovendo espaços de acolhimento, escuta e fortalecimento identitário por meio de rodas de conversa, atividades de letramento racial e ações culturais.
Segundo Camilla, o nome 'Encruzilhadas' simboliza os encontros entre mulheres negras que, mesmo com histórias distintas, compartilham experiências marcadas pelo racismo estrutural. "Esses pontos em comum revelam a força e a resiliência que as unem", afirma. A coordenadora explica ainda que o nome também faz referência ao Orixá Exu, com a proposta de desmistificar a demonização das religiões de matriz africana e combater o racismo religioso.
O projeto reúne atualmente 15 trabalhadoras negras da ENSP, entre integrantes da equipe e participantes inscritas, com diversidade de idades e vínculos com a instituição. “É um espaço para que essas mulheres se sintam reconhecidas e valorizadas, onde possam trocar experiências e fortalecer sua autoestima”, destaca Camilla.
Uma das atividades centrais do projeto foi a visita guiada ao Instituto Pretos Novos e à região conhecida como Pequena África, no centro do Rio de Janeiro, onde se localiza parte significativa do Circuito da Herança Africana. A proposta, segundo Camilla, é reconectar as participantes à história de seus ancestrais. “Essa região recebeu o maior número de africanos escravizados do mundo. Entender essa história é essencial para compreender o presente e construir o futuro”, afirma. A experiência foi ampliada a outros trabalhadores da escola, como forma de sensibilização coletiva e formação para práticas antirracistas.
A visita também se apoia no conceito africano de Sankofa, que significa "volte e pegue" ou "nunca é tarde para voltar e apanhar o que ficou para trás" - uma filosofia que convida à retomada do passado como caminho para construir o futuro. “Entender e valorizar nossa história é crucial para avançarmos com sabedoria. Essa reflexão, vivida na Pequena África, contribui diretamente para o propósito do projeto”, explica a coordenadora.
Entre os próximos passos do 'Encruzilhadas', estão previstas novas rodas de conversa - incluindo uma sobre colorismo - e visitas a quilombos. Um teste de ancestralidade será oferecido às participantes, com o objetivo de identificar suas origens africanas. Para aquelas que desejarem, será possível incluir oficialmente o nome ancestral em seus documentos, com apoio da Justiça Itinerante, fortalecendo a conexão com suas raízes.
Ao final do projeto, as histórias e vivências coletadas ao longo do processo serão compartilhadas com a comunidade da ENSP, como forma de valorização da diversidade cultural e racial da instituição. Para Camilla Teixeira, o projeto é também uma realização pessoal: “Acredito que posso contribuir para uma escola mais equânime e, ao mesmo tempo, transformar a vida dessas mulheres, impactando positivamente sua jornada e empoderamento.”
O Edital de Aceleração da Inovação em Gestão do Pólen, segundo ela, é uma iniciativa fundamental para fomentar ideias inovadoras dentro da instituição. “Muitas vezes há trabalhadores com propostas potentes, mas que não encontram espaço para expressá-las. Esse edital é uma forma de escuta e reconhecimento.”
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