12° EPI: vice-diretora de Ensino da ENSP aborda epidemiologia como perspectiva para o futuro
Por Bruna Abinara
Para a vice-diretora de Ensino da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), Enirtes Caetano, “não há dúvida de que a epidemiologia é parte integrante da saúde coletiva”. Uma das presidentas do 12º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, realizado pela Abrasco, a pesquisadora esteve na mesa “Epidemiologia em diálogos: tensionamentos e pertencimento no campo da saúde coletiva e na atenção à saúde”, que discutiu um conjunto de questões que apontam a área em seu papel no planejamento do futuro.
Enirtes ressaltou que a epidemiologia é uma ferramenta de transformação social, capaz de contribuir para a construção de um país mais justo a partir da identificação das populações vulnerabilizadas. "Se a saúde coletiva fala, intrinsecamente, de democracia, o papel da epidemiologia na defesa do SUS está na conexão das tensões do campo científico com a política que molda o campo", afirmou. A pesquisadora defendeu a aplicação do conhecimento epidemiológico nas políticas, nos programas e nos serviços de saúde.
A vice-diretora apresentou a epidemiologia como uma perspectiva para o futuro, que é central nos tempos de crise e na construção de sistemas de saúde resilientes. “Os caminhos para o futuro nos revelam grandes possibilidades, que fazem com que todos nós nos responsabilizemos, cada vez mais, pelo campo da saúde coletiva”, declarou.
Segundo Enirtes, o fortalecimento da epidemiologia e da saúde coletiva se dá pela união entre diferentes áreas e profissionais. Nessa construção de pontes, ela apontou ser possível vislumbrar uma série de avanços teóricos e metodológicos que mostram a ampla consolidação dessa prática e desse espaço de conhecimento. "Esse congresso permite que tenhamos a oportunidade de conhecer uma fração desse amadurecimento", contextualizou.
"Parte da tarefa desses grupos que estão reunidos durante os dias do 12º EPI é lidar com os tensionamentos e fortalecer o vínculo da epidemiologia com as práticas de atenção à saúde, ampliando a colaboração interdisciplinar e intersetorial", explicou Enirtes. Dentre os desafios a serem enfrentados, a vice-diretora citou as desigualdades regionais na alocação de recursos, o aperfeiçoamento das diretrizes de acesso e segurança de dados, a dissociação entre a epidemiologia e outros núcleos disciplinares, a limitação da interoperabilidade dos sistemas do SUS e a insuficiência de políticas públicas robustas e estáveis de financiamento científico.
A pesquisadora também chamou atenção para a fundamentalidade de ampliar a formação em epidemiologia. "Quando se pensa em uma epidemiologia com eixos estratégicos, falamos de formação, e não é formar somente na pós-graduação, precisamos formar na graduação e precisamos ter o pensamento epidemiológico já na formação de base dos alunos", defendeu.
A mesa fez parte da programação desta terça-feira (26/11) do 12º EPI. O debate foi mediado pela pesquisadora Tânia Maria de Araújo, da Universidade Estadual de Feira de Santana, e contou com a participação dos professores Rita Barradas, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, e Luiz Facchini, da Universidade Federal de Pelotas.
O 12º EPI aconteceu entre os dias 25 e 27 de novembro, no Rio de Janeiro, com atividades pré-congresso em 23 e 24.