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Equipe de planejamento familiar do Centro de Saúde lança cartilha sobre direitos reprodutivos

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Publicado em:23/10/2024

Por Bruna Abinara  

Escolher ter filhos ou não, quantos e quando tê-los, assim como ter acesso aos métodos contraceptivos adequados a cada realidade individual e familiar são as bases do serviço de planejamento familiar e reprodutivo oferecido pelo Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP/Fiocruz) há 23 anos. Através de rodas de conversa mensais, realizadas na última quinta-feira do mês, às 10h, a proposta da equipe responsável é informar sobre direitos sexuais e reprodutivos, desmistificar os métodos contraceptivos reversíveis e irreversíveis, além de auxiliar os interessados no acesso à opção escolhida. Como produto do empenho de tornar o saber acessível, a equipe do serviço lançou a cartilha "Planejamento Familiar e Reprodutivo: o que devo saber?"

Segundo os coordenadores Márcia Fernandes, assistente social do CSEGSF e fundadora do serviço, e Julio Bordignon, enfermeiro do projeto há 16 anos, as suas principais aliadas são a informação e a conversa. Sabemos que, popularmente, vários tabus correm e afastam a população do acesso aos métodos contraceptivos. Consideramos as questões sociais, familiares e econômicas que podem influenciar a escolha, mas o que sabemos é que a falta de informação ainda é o principal obstáculo”, contou Julio 

A equipe explicou que a cartilha surgiu como uma resposta às demandas de usuárias e usuários do SUS que participaram da atividade do planejamento familiar e reprodutivo do Centro de Saúde. O material busca reunir e disseminar informações, de forma a orientar a população no sentido do acesso aos serviços garantidos por lei e aos direitos sexuais e reprodutivos. "É um ponto de partida para a popularização desse conhecimento e uma oportunidade de expandir o nosso trabalho: podemos chegar aonde ainda não chegamos e alcançar pessoas que não conseguem chegar até nós", compartilhou Márcia. 

+ Acesse a cartilha

Durante as atividades do grupo, Julio se esforça para desenvolver um trabalho de decodificar as questões técnicas de anatomia e saúde em uma linguagem acessível. “Já que o grupo é diversificado e todo mês se renova, as pessoas chegam com algum conhecimento e nós alinhamos no bate papo, tanto que não montamos uma sala de aula, mas uma roda de conversa”, assegurou o enfermeiro. O coordenador afirmou que esse esforço para a popularização da ciência garante não só o acesso aos métodos contraceptivos, mas também o conhecimento, que pode ser, posteriormente, transmitido para as famílias, para os conhecidos e para as próximas gerações.  

Segundo a assistente social, a ideia de planejar ainda não se consolidou por conta de preconceitos. Ela explicou que muitas pessoas acreditam que os métodos contraceptivos podem afetar negativamente a vida sexual delas. Como resultado, a maioria chega ao grupo depois de já ter formado família com uma ideia pré-concebida de buscar uma cirurgia que limite definitivamente a capacidade reprodutiva”. Por isso, os coordenadores buscam diferenciar os conceitos de sexualidade e de capacidade reprodutiva e abordá-los a partir de uma perspectiva ampla de garantia de direitos.  

"Sexualidade é vida", asseguram. Márcia e Julio reforçam que o trabalho desenvolvido pelo grupo busca garantir que a vida sexual ganhe qualidade e segurança a partir do cuidado contraceptivo e da prevenção das infecções sexualmente transmissíveis. "A partir do instante em que a pessoa fica mais confiante e sem o medo de engravidar quando não pode, a sexualidade ganha qualidade. Pensamos também no contexto de saúde sexual e reprodutiva ampliado, não negligenciando as infecções que podem ser transmitidas. A partir do instante que as pessoas ampliam o seu conhecimento, há tranquilidade e segurança nas práticas sexuais e na vida reprodutiva", ressaltou o enfermeiro. 

Duas décadas de trabalho 

Márcia contou que, no início do serviço, por volta de 2001, a busca era maior entre as mulheres que já tinham seus filhos e não queriam mais engravidar. A assistente social explicou que o discurso delas era de uma responsabilidade solitária, como se a contracepção fosse uma responsabilidade exclusiva do campo feminino. Nesse contexto da maternidade permeada por relatos de cansaço e de solidão, a laqueadura era vista como uma solução potencial.  

No entanto, os coordenadores relataram uma mudança nesse cenário com cada vez mais homens buscando o serviço do Centro de Saúde. Segundo Márcia, é possível ver uma mudança de mentalidade nos relatos dos homens que chegam: "você consegue ouvi-los dizer 'Estou aqui, porque a minha mulher passa mal com anticoncepcional e se eu fizer vasectomia vai ajudar', são falas parceiras".   

Os coordenadores definiram como uma ambição trabalhar o planejamento familiar e reprodutivo no início da vida sexual ou da constituição de uma família. Apesar de ainda não conseguirem atrair muitos adolescentes para o grupo, eles contaram que, muitas vezes, chegam jovens titulares de família entre 16 e 19 anos buscando o serviço. "É importante que, desde o começo, as pessoas consigam ter acesso aos métodos, sabendo a função e o momento de usá-los a partir da perspectiva do número de filhos, quando tê-los, quando não os ter ou, ainda, se tê-los ou não", declararam 

O grupo é dinâmico e diverso, por isso, há uma preocupação em abordar questionamentos de quem não pode ter filhos, de casais homoafetivos, de aborto legal e de entrega voluntária para adoção. "São muitas as novas demandas e elas são de fácil acesso na Internet, mas nem sempre são assuntos tão claros ou objetivos para quem não conhece", declarou Julio. Por isso, a equipe busca trazer tais questões de forma popular e capilarizada, de forma a assegurar uma tomada de decisão mais consciente dos direitos 

Márcia ressaltou que começa a reunião do grupo contextualizando o planejamento familiar na perspectiva de política pública, porque, para ela, o conceito por si não é mais suficiente. A assistente social considerou importante entendê-lo sob a ótica dos direitos sexuais e reprodutivos, que por sua vez, são uma subdivisão dos direitos humanos.  

Segundo Márcia, o esforço travado pela equipe vai além do reconhecimento dos direitos, atuando pela sua garantia. "Acho que um ponto muito interessante do nosso trabalho é que vamos junto com o usuário no caminho do acesso: até ela colocar o DIU, até ele conseguir a vasectomia, até que eles retornem e digam que deu tudo certo com o método de escolha", reforçou a assistente social.  



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