Elisabeth Kaiser fala sobre violência e trauma e uso da Terapia de Exposição Narrativa
Elisabeth Kaiser fala sobre a experiência do uso da Terapia de Exposição Narrativa em situações de conflitos ao redor do mundo.
A doutora em psicologia clínica, Elisabeth Kaiser, pesquisadora da Universidade de Konstanz, na Alemanha, foi a palestrante convidada para a mesa 'Os impactos da violência no desenvolvimento humano, trauma e Terapia de Exposição Narrativa: experiências de pós-guerra e de regiões em conflito ao redor do mundo'. A palestra ocorreu no primeiro dia do Congresso de Desenvolvimento Humano, Trauma e Violência, promovido pelo Claves/ENSP, em parceria com o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, o Instituto de Terapia de Exposição Narrativa e a Faperj. Uma das fundadoras do Instituto Internacional da NET, Kaiser abordou projetos baseados na terapia, focando na cura após o trauma.
A pesquisadora explicou que a Terapia de Exposição Narrativa é voltada para crianças, adolescentes e adultos. É uma intervenção psicoterapêutica de curto prazo, baseada em evidências, culturalmente inclusiva e focada no trauma, projetada para sobreviventes de traumas múltiplos e complexos. “Essa abordagem permite a integração de memórias traumáticas no contexto biográfico, ativa os recursos da pessoa e possibilita a criação de significado e experiências de relacionamento corretivas”.
Segundo ela, desde 2022, o número de conflitos em todo o mundo aumentou entre 10% e 12%. As pessoas estão vivendo diferentes situações de violência que causam danos irreparáveis aos cérebros e corpos. Ela ressaltou que, ao discutir esse contexto de violência, estamos também falando sobre a garantia dos direitos humanos. “Quando iniciamos um tratamento baseado na Terapia de Exposição Narrativa, estamos garantindo a não violação dos direitos dessas pessoas”, afirmou.
Impactos transgeracionais da violência
Elisabeth também abordou o trauma como um agente transgeracional, ressaltando que “o trauma de infância não termina na infância; ele ressoa ao longo das gerações. Ao curar as feridas do trauma e permitir que os sobreviventes testemunhem e se recuperem, a transmissão do trauma é interrompida.” A NET, segundo ela, vai além ao reconhecer e documentar abusos de direitos humanos, capacitando sobreviventes e combatendo a violência sistêmica. “A exposição narrativa pode consertar a memória, a mente e o corpo, melhorando a saúde, a qualidade de vida e o funcionamento social e ocupacional”, destacou.
Kaiser citou uma pesquisa realizada na Europa que entrevistou 40 mil pessoas e revelou altas taxas de violência contra a mulher. O estudo apontou que 25% das crianças na Europa convivem com uma mãe que sofre violência doméstica. “Essa pesquisa demonstra como a violência gera impactos transgeracionais, pois essas crianças, ainda no útero, iniciam um ciclo de trauma que se perpetua ao longo da vida”, advertiu.
A pesquisadora também mencionou um estudo americano que avaliou diferentes experiências de violência em crianças, alertando sobre fatores estressores que podem levar a doenças crônicas na vida adulta. Ela identificou os cinco principais estressores, entre eles, abuso físico ou emocional e negligência parental.
Kaiser destacou que na vida enfrentamos fatores estressores traumáticos que podem prejudicar a saúde do sistema nervoso central e que isso traz consequências ao longo da vida. Ela explicou que uma criança que acumula diferentes fatores estressores aumenta suas chances de desenvolver doenças crônicas na vida adulta. “A relação entre violência familiar na infância está diretamente ligada à violência na fase adulta. Um indivíduo que acumula mais de cinco fatores estressores, perde, em média, 20 anos de vida", citou. Ela também trouxe à tona os custos com saúde mental, que ultrapassam 6 trilhões de dólares no mundo, e o que deve ser feito para romper ciclos de violência entre gerações.
Terapia de Exposição Narrativa como ferramenta de cura
A especialista destacou que, embora existam traumas que podem ser curados sem ajuda, quanto mais fatores traumáticos uma pessoa vivencia, menor é sua chance de se curar sozinha. Encerrando sua apresentação, Kaiser falou sobre a aplicação da NET em contextos de guerras e eventos climáticos. Para ela, a NET oferece um diagnóstico diferenciado, focando não apenas nos sintomas, mas na vivência ao longo da vida.
“O objetivo da NET é reconstruir memórias fragmentadas de experiências traumáticas em narrativas coerentes, conectadas ao contexto temporal e espacial do período da vida, com foco no trauma. Ela contextualiza elementos da rede de medo, incluindo memórias sensoriais, cognitivas, afetivas e corporais do trauma, para compreender e processar os eventos traumáticos ao longo da vida do indivíduo”, concluiu.
Congresso de Desenvolvimento Humano, Trauma e Violência promove diálogo entre a saúde pública e a justiça restaurativa.
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