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Aluna da ENSP Recebe Menção Honrosa no Prêmio Capes de Tese 2024

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Publicado em:26/09/2024
*Por Tatiane Vargas e Isabela Schincariol (Campus Virtual Fiocruz)

A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) comemora a conquista de sua aluna, Fernanda Garrides, que foi agraciada com uma menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2024. A pesquisa, intitulada ‘Desigualdades raciais na ocorrência de multimorbidade entre adultos e idosos brasileiros: 10 anos do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil)’, destaca as disparidades raciais na saúde no Brasil.  

Estudo revela desigualdades raciais na multimorbidade   

Doutora em Epidemiologia pela ENSP e ex-bolsista do Programa Doutorado Nota 10 da Faperj, Fernanda Garrides desenvolveu seu trabalho sob a orientação dos professores Leonardo Soares Bastos (PROCC) e Rosane Harter Griep (IOC), ambos docentes do programa de Epidemiologia em Saúde Pública da ENSP. O estudo analisou dados de mais de 15 mil participantes do ELSA-Brasil, coletados entre 2008 e 2019, e evidenciou que a população autodeclarada negra enfrenta taxas mais elevadas de múltiplas condições crônicas, como hipertensão e diabetes, em comparação aos brancos. 

Os resultados são alarmantes: enquanto 50% dos negros convivem com três ou mais condições simultaneamente e alguns indivíduos chegam a apresentar mais de dez condições crônicas, uma parcela bem menor (25%) dos brancos convivem com mais de três condições. Além disso, as mulheres negras se mostraram as mais afetadas, apresentando um quadro de saúde deteriorado em idades mais precoces.  Os dados foram divulgados em artigos científicos.

Segundo Fernanda, a pesquisa avaliou 16 condições crônicas, e revelou desigualdades raciais significativas na multimorbidade. “Desde o início do estudo, na coleta de dados entre 2008 e 2010, foi possível observar desigualdades raciais na prevalência de alguns problemas de saúde, entre eles: enxaqueca, transtornos mentais comuns não psicóticos, obesidade, problemas nas articulações, diabetes, doenças isquêmicas do coração e insuficiência cardíaca eram mais comuns em autodeclarados pretos. No início do estudo, a prevalência de multimorbidade era 6% maior para pardos e 9% maior para pretos em comparação aos brancos", explicou.

Ao longo de dez anos, a pesquisa indicou que pardos e pretos tiveram maior incidência de hipertensão e obesidade em comparação aos brancos, além de mais casos novos de doença renal e AVC entre os pardos e diabetes entre os pretos.  "Notavelmente, os participantes pretos desenvolveram multimorbidade, em média, quatro anos antes dos brancos. Uma abordagem interseccional revelou que as mulheres pretas apresentavam a saúde mais comprometida, convivendo com multimorbidade aos 45 anos, e os homens brancos eram os últimos a adoecer, alcançando uma segunda condição crônica em torno dos 60 anos”, detalhou Fernanda. Para ela, os resultados evidenciam as disparidades raciais na saúde, ressaltando a urgência de abordar os determinantes sociais que perpetuam essas desigualdades em uma sociedade marcada por injustiças históricas. 

Impacto social e relevância da pesquisa 

Garrides ressaltou a importância de sua pesquisa para a sociedade, afirmando que o estudo revela a necessidade urgente de abordar as desigualdades raciais na saúde. "Compreender essas disparidades é essencial para formular políticas públicas eficazes que promovam a equidade", explicou. Ela enfatizou que a saúde não é apenas um problema individual, mas uma questão social que deve ser enfrentada em suas raízes.  

Reconhecimento e contribuições 

A menção honrosa no Prêmio Capes de Tese 2024 não é o primeiro reconhecimento da trajetória de Garrides; ela também foi agraciada com a menção honrosa no Prêmio Oswaldo Cruz de Teses 2023. “Para a ENSP, essa conquista reforça a qualidade e a relevância das pesquisas desenvolvidas na instituição, especialmente em temas críticos como as desigualdades sociais e de saúde”, destacou a orientadora da pesquisa e docente do Programa de Epidemiologia da Escola, Rosane Griep.  

Cristiani Machado, vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, celebrou a premiação: "Esse reconhecimento atesta a excelência científica dos trabalhos realizados por nossos egressos e sua relevância para o Sistema Único de Saúde (SUS).   

Um futuro promissor 

Fernanda Garrides, que atua no ELSA-Brasil desde 2017, acredita que sua pesquisa pode inspirar novas gerações de pesquisadores a se dedicarem ao estudo das desigualdades sociais. "É fundamental que continuemos a explorar esses temas para garantir um futuro mais justo e saudável para todos", concluiu.  

Para Rosane Griep, que também é coordenadora do ELSA-Brasil no Rio de Janeiro, a pesquisa de Garrides não apenas contribui para o avanço do conhecimento na área de saúde pública, mas também reforça a importância de um olhar atento às disparidades que afetam as populações mais vulneráveis do Brasil.  

“Essa premiação representa um marco significativo tanto para a ENSP quanto para a comunidade científica, destacando a importância de pesquisas que lidam com desigualdades estruturais e seu impacto na saúde pública”, comemorou a orientadora.   

Fernanda Garrides foi contemplada com menção honrosa, na área de saúde coletiva. Considerado o Oscar da Ciência Brasileira, o Prêmio Capes de Tese reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos no Brasil.

Para a coordenação do Programa de Epidemiologia em Saúde Pública da Escola, "esse reconhecimento fortalece sua posição no campo da saúde pública, evidenciando a excelência na formação de pesquisadores. Além disso, ressalta o compromisso com a discussão de temas contemporâneos e urgentes, como as desigualdades sociais e seus impactos na saúde", destacou Maria de Jesus Fonseca, coordenadora do PPGEpi.

Sobre o ELSA-Brasil e seus impactos na saúde da população 

O ELSA-Brasil é um grande estudo de coorte multirracial e multicêntrico que acompanha, desde 2008, a saúde de mais de 15 mil adultos e idosos em seis capitais brasileiras para gerar conhecimento científico sobre o desenvolvimento e progressão de doenças crônicas clínicas e subclínicas em um país marcado pelas disparidades sociais e raciais.   

Conduzido por pesquisadores e pesquisadoras da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), da Universidade de São Paulo (USP) e das Universidades Federais de Minas Gerais (UFMG), do Espírito Santo (UFES), da Bahia (UFBA) e do Rio Grande do Sul (UFRGS) o estudo tem como uma de suas metas formar pesquisadores críticos junto aos programas de pós-graduação de excelência.   

Um dos focos centrais do ELSA é o estudo dos determinantes sociais (atuais ou precoces) e suas pesquisas têm demonstrado como alguns grupos populacionais estão enfrentando maiores desafios para envelhecer com mais saúde e reconhece o racismo como uma das causas fundamentais das desigualdades em saúde. 

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