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Probabilidade de adolescentes cometerem suicídio superou a de jovens adultos na pandemia

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Publicado em:20/09/2024
Estudo da ENSP/Fiocruz indica alta acelerada de casos entre pessoas de 10 a 19 anos

Por Barbara Souza

Uma pesquisa sobre a mortalidade por suicídio no Brasil revelou que a probabilidade de casos entre adolescentes tem crescido de forma mais intensa do que em outras faixas etárias. O estudo de tendência temporal realizado por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) mostra que, entre 2000 e 2022, há indicativo de alta da proporção de suicídios em relação ao total de mortes em todos os grupos estudados. No entanto, esse aumento é mais acelerado entre os mais jovens do que entre os adultos, sendo ainda mais intensa entre as pessoas de 10 a 19 anos. 

As informações são do Relatório Técnico “Adolescência e suicídio: um problema de saúde pública”, realizado sob a organização de Raphael Mendonça Guimarães, Nilson do Rosário Costa e Marcelo Rasga Moreira. Com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Brasil (SIM/SUS), os pesquisadores analisaram a proporção de suicídios entre as mortes nos seguintes grupos etários: adolescentes (10 a 19 anos), jovens adultos (20 a 29 anos), jovens (10 a 29 anos), adultos incluindo jovens (20 anos ou mais), e adultos excluindo jovens (30 anos ou mais). Em seguida, foram identificadas mudanças nas tendências de suicídios ao longo do tempo a partir do cálculo das taxas de mortalidade entre os grupos investigados. 

Entre 2000 e 2022, o suicídio representou, em média, 4,02% das mortes entre pessoas de 10 a 29 anos. No grupo de 30 anos ou mais, ele foi a causa de 0,68% das mortes. Já entre adolescentes, o suicídio corresponde a 3,63% dos óbitos. Entre jovens adultos, a 4,21%. Apesar de, historicamente, a contribuição dos suicídios entre as mortes de adolescentes ser menor do que entre jovens adultos, essa diferença diminuiu ao longo do tempo, pois o aumento entre adolescentes cresceu. A probabilidade de suicídio nos dois grupos se igualou em 2019 e, desde então, tornou-se mais desfavorável para os adolescentes. Em 2022, a tendência se reverteu de forma significativa, e a chance indivíduos de 10 a 19 anos provocarem a própria morte foi 21% maior do que entre jovens adultos. Tal mudança ocorreu durante a pandemia de Covid-19, como ressaltam os autores do estudo.

“Entendemos que este dado gera uma hipótese importante de que o suicídio avança de forma mais acelerada entre os jovens. Embora hoje as taxas entre adultos sejam maiores, a taxa entre adolescentes cresce mais rápido. De alguma forma, isso sugere que as questões contemporâneas penalizam mais os jovens, seja pela incerteza no futuro, seja pela menor resiliência da geração Z”, afirmou Raphael Guimarães, um dos autores do estudo. O pesquisador da ENSP/Fiocruz avalia ainda que a saúde mental de adolescentes e jovens é influenciada pelo cenário econômico e pela crise climática. “Estes fatores criam um sentimento de incerteza sobre o futuro, que em muitos casos paralisam os jovens a elaborar planos de longo prazo”. 

Na população geral, em 2022, houve uma taxa de crescimento de suicídios equivalente a 4 vezes a do primeiro do período analisado. Na mesma comparação entre o fim e o início da série histórica, os grupos etários de 10 a 29 anos apresentam taxa semelhante, de 4,47 vezes de alta. No entanto, ao dividir esse grupo, a taxa dos jovens de 20 a 29 anos sobe para 6,83 vezes. Já no recorte entre os 10 e 19 anos, o aumento dos suicídios em 2022 na comparação com o ano 2000 foi alarmante, de 53,6 vezes. Ou seja: o crescimento de suicídios entre os jovens é maior do que nas outras faixas etárias, com uma tendência muito mais intensa entre os mais novos. 

Embora os indicadores de suicídio no Brasil sejam historicamente mais baixos do que em outros países, eles vêm crescendo, especialmente entre jovens adultos do sexo masculino em áreas urbanas. Outro alerta feito pelo estudo é sobre a relação dos dados com a mudança do perfil demográfico do país, caracterizado pela redução da população jovem e aumento da população idosa. “O grupo de adolescentes começa a demandar maior atenção da linha de cuidados infantis, o que representa um desafio para os gestores. Como a população de 10 a 19 anos possui suas demandas, enfatizamos a necessidade de uma abordagem diferenciada para esse grupo”, afirmam os autores. 

Atualmente, as políticas voltadas para os adolescentes fazem parte de um conjunto que inclui as crianças. Segundo Guimarães, os dados da pesquisa indicam a urgência de uma política mais específica. “Isto já está em curso, graças à iniciativa do Ministério da Saúde, que criou um Termo de Execução Descentralizado coordenado por Nilson do Rosário, autor do dossiê, que visa justamente criar subsídios para a construção desta agenda política”.



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