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“Não vejo outro lugar, que não seja a ENSP, para se discutir amplamente políticas de enfrentamento aos eventos extremos”, afirma Carlos Machado

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Publicado em:25/06/2024
Por Danielle Monteiro

Os aprendizados e desafios futuros para a saúde pública frente à emergência climática no Rio Grande do Sul e a necessidade de integração entre as diversas áreas de atuação da ENSP para o enfrentamento de eventos extremos deram o tom à reunião do Conselho Deliberativo da Escola, realizada em 25 de junho. O encontro contou com uma apresentação sobre as respostas do SUS à catástrofe gaúcha, proferida pelo pesquisador e coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde da Fiocruz (Cepedes), Carlos Machado. 

O diretor da ENSP, Marco Menezes, iniciou a reunião relembrando que a Escola tem debatido as temáticas da emergência climática, determinação socioambiental, saúde e ambiente em seus diversos espaços institucionais, desde a abertura do ano acadêmico da instituição. Ele salientou a importância dessa discussão junto à sociedade e, também, ao Congresso Nacional, principalmente no que diz respeito a investimento na saúde pública, tendo em vista o retrocesso na forma como o Poder Legislativo tem se posicionado em relação à pauta ambiental. “Esse debate sobre emergência climática no CD é uma oportunidade de aprofundarmos essa discussão na Escola e debatermos como podemos avançar no diálogo com esses atores, diante dessa difícil conjuntura política na qual essa pauta está inserida”, afirmou. 

Menezes defendeu que o debate sobre emergências climáticas deve estar em constante diálogo com o campo da saúde pública, levando em consideração os determinantes socioambientais e temáticas fundamentais como insegurança alimentar e nutricional; saúde mental; racismo ambiental; e formação em saúde. 

O diretor também disse que, embora a Fiocruz e a ENSP tenham realizado uma série de ações em atenção aos impactos das inundações no Rio Grande do Sul, atestando sua forte capacidade institucional de articulação e rápida resposta, ainda são necessários avanços para a integração dessas iniciativas, tanto na instituição, como externamente.  

Em seguida, partindo do pressuposto de que o desastre no Rio Grande do Sul integra processos que envolvem os ciclos do clima e os modelos de desenvolvimento econômico e de produção e distribuição de riquezas, Carlos Machado discorreu sobre o conjunto de ações do SUS em resposta à catástrofe no estado e os desafios para uma gestão de riscos. Em sua apresentação, ele chamou a atenção, particularmente, para o papel da ENSP diante de um novo cenário imposto pelo crescente aumento de emergências sanitárias.

“Eu trouxe o conjunto de ações do SUS porque, para cada uma delas, a Escola desenvolve ações e possui grupos de estudo, disciplinas e atividades. As emergências de saúde mobilizam o conjunto de recursos do SUS. Estamos diante de um evento (o desastre no Rio Grande do Sul) que traz a discussão sobre os determinantes sociais e ambientais, vacinação, assistência farmacêutica, Atenção Primária, Vigilância, justiça ambiental e climática, equidade e integralidade no SUS, políticas de saúde e financiamento, informação em saúde, entre outros. Esse é um conjunto de áreas em que a ENSP já trabalha. O desafio é podermos trabalhar isso de forma integrada. Não vejo outro lugar, que não seja a ENSP, onde se possa discutir, de forma mais ampla, políticas e organização do sistema de saúde, e determinantes sociais e ambientais da saúde para o enfrentamento dos desafios impostos por esses eventos extremos”, destacou Machado.

Na ocasião, o coordenador do Cepedes apresentou dados sobre os desastres no Rio Grande do Sul, comparando o período de 1993 a 2023 com o ano de 2024. Os números são alarmantes, apontando alta tendência no crescimento de eventos de emergência climática na região. Entre 1993 e 2023, ocorreram, no estado, 2.940 mil desastres hidrológicos, com 121 óbitos e 8,71 milhões de afetados. Já somente em 2024, os números superaram a quantidade de catástrofes ocorridas nos últimos 30 anos: houve um desastre hidrológico ao longo de apenas um mês, com 169 óbitos e 2.347.664 milhões de prejudicados.

Segundo Machado, além da população, o setor de Saúde também foi fortemente afetado pela enchente em solo gaúcho, com cerca de 290 estruturas sanitárias atingidas, como hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). “Esse é um momento no qual ao mesmo tempo em que precisamos dos recursos humanos de saúde, simultaneamente, muitos trabalhadores da saúde são impactados por esses desastres. Avançamos nesse ponto, mas precisamos trabalhar mais nisso”, alertou. O pesquisador também atentou para a necessidade de avanço na elaboração de planos de contingência para os estabelecimentos de saúde de unidades básicas e hospitais, como fruto de um processo de adaptação às mudanças climáticas. 

Entre as ações do Sistema Único de Saúde em resposta ao desastre no Rio Grande do Sul, Machado destacou a instalação do Centro de Operação de Emergência, que articulou gestores das esferas federal, estadual e municipal do SUS para a coordenação das medidas empregadas. Ele também elencou, como outras iniciativas do SUS, o investimento no aumento de contingência de profissionais de saúde; a implantação de hospitais de campanha e o envio do maior navio de guerra da América Latina para servir como base médica; o investimento de R$ 1,7 bilhão do Ministério da Saúde para a reconstrução da rede de saúde do estado; o envio de medicamentos, insumos e de 1,2 milhão de doses de vacinas; e a garantia de acesso a diagnósticos e tratamentos de doenças, com flexibilização para todos que perderam seus documentos ou receitas. As iniciativas voltadas especificamente a populações indígenas, como a evacuação de residentes nas áreas de risco dos municípios e ações de socorro em aldeias, assim como os alertas para riscos de doenças e orientações sobre cuidados à saúde e profilaxia, também integram a lista de respostas do SUS ao desastre no estado, relatada pelo pesquisador. 

Por fim, Machado alertou para a necessidade de a saúde pública aprender a enfrentar as emergências sanitárias, já que, apesar de as mudanças ambientais e climáticas, como o degelo das calotas e o crescente aumento da temperatura no mundo, já sinalizarem os desafios que vêm pela frente, não é possível mensurar a escala de futuras situações críticas. “São vários eventos que vão se sobrepondo e esgotando a capacidade de resposta, provocando um impacto no SUS como um todo. Não estamos diante do fim do mundo, mas, certamente, diante do fim do mundo como conhecemos até aqui”, concluiu. 


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