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‘Uso de tecnologias deve caminhar com a democracia’; sessão na ENSP debate Saúde Digital, IA e Epidemiologia

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Publicado em:28/06/2024
Por Barbara Souza

A articulação entre Saúde Digital e Inteligência Artificial no campo da Epidemiologia, com possibilidades de uso e riscos, foi o tema da sessão científica realizada nesta quarta-feira (26/6) na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). A importância da utilização das tecnologias de forma democrática, seguindo os princípios do SUS, permeou o debate. “A tecnologia deve servir para a universalização do direito à saúde, deve ser desenvolvida de forma participativa, para ampliar a participação social e reduzir as desigualdades, fortalecendo a equidade”, afirmou o pesquisador do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde (DAPS/ENSP) Marcelo Fornazin. O outro palestrante convidado foi Bruno Elias Penteado, que atua na Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030. Ambos atuam no projeto ‘Implicações das Tecnologias Digitais para os Sistemas de Saúde’.

Promovido pelo Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde (DEMQS/ENSP), o encontro reuniu dezenas de pesquisadores e alunos. Ao introduzir o tema, Fornazin apresentou aos participantes um panorama da Saúde Digital, destacando a evolução do conceito desde a ideia de Informática Médica, passando por outras reformulações do termo, que acompanhou o surgimento de novas tecnologias, com diferentes aplicações. “Houve ondas tecnológicas que mudaram o desenvolvimento do campo”, afirmou o pesquisador ao comentar a evolução, nas últimas décadas, do que atualmente se chama Saúde Digital. 

Em seguida, Bruno Penteado falou sobre a Inteligência artificial, que afirmou ser “um dos motores da Saúde Digital”. Além de explicar que a IA é uma “área da computação que tenta criar softwares que consigam imitar o comportamento humano e, assim, interagir autonomamente com outros programas e com pessoas”, ele resumiu suas principais áreas. Quanto ao uso da IA na saúde, Bruno sintetizou momentos marcantes numa linha do tempo. “Desde o início da década de 1990, engenheiros de software tentavam mapear o processo mental de médicos para que a IA pudesse reproduzir e fazer diagnósticos. Num segundo momento, com a popularização da internet, por volta do início dos anos 2000, outras técnicas de representação do conhecimento surgiram, como o processamento de imagens. Em seguida, com mais rastros digitais produzidos disponíveis, aumentou o cruzamento de dados de diferentes fontes a fim de possibilitar novos insights. Já no fim da última década, surgiram muitas outras fontes de dados, como os smartphones e as mídias sociais”, explicou.

Considerada pelos palestrantes um conjunto de métodos e técnicas, a Ciência de Dados, bem como sua interação com ferramentas da IA, principalmente do tipo Aprendizagem de Máquina, também foram discutidas pelos palestrantes. “A ciência de dados é mais o braço prático da IA, da Aprendizagem de Máquina, pois é através dela que operacionalizamos essas tecnologias para pesquisas e outras aplicações práticas de nosso interesse”, afirmou Bruno. A partir de 2019, houve um crescimento significativo do uso de IA e Ciência de Dados na pesquisa em Epidemiologia, conforme foi observado pelos pesquisadores a partir de levantamento feito em quatro bibliotecas científicas. O principal motivo da alta foi a demanda por investigações e estudos relacionados à Covid-19. 

Novos dados digitais têm sido usados para complementar coletas de informações feitas nas fontes tradicionais de pesquisas na área de Epidemiologia, como os sistemas de informação em saúde oficiais. Atualmente, são usados também dados das mídias sociais, de buscas na web, de vigilância participativa, smartphones, sensores vestíveis (como relógios inteligentes), além de dados de saneamento. Bruno mostrou como utilizar essas novas fontes pode ser útil para a produção de conhecimento científico. Ele também deu exemplos de métodos analíticos disponíveis para geração de insights a partir desses dados. 

Este mundo novo de possibilidades não traz apenas facilidades, melhorias e consequências positivas por si só. Por isso, uma parte da apresentação e do debate focou nas implicações e riscos envolvidos no uso de ferramentas de IA, por exemplo. Marcelo Fornazin sublinhou a questão da segurança contra vazamento de dados, ataques de hackers e perda de dados, mas também ressaltou a importância da governança. “Quem é responsável pelos nossos dados?”, questionou ao provocar reflexão sobre o controle e a soberania que o país precisa ter para gerir seus dados, especialmente diante do uso de tecnologias de Saúde Digital. O pesquisador falou também sobre questões éticas ligadas à proteção de dados pessoais, vieses e racismo algoritmo. 

“Há uma mudança importante na forma de usar a tecnologia digital na saúde, que deixa de ser coletar dados do paciente no consultório, no hospital, no laboratório e passa a ser uma coleta ampliada de dados das pessoas no dia a dia. Esses dados podem ser usados para monitoramento remoto, para prever possibilidades, avaliar riscos de doenças e de epidemias, por exemplo”, explicou Fornazin sobre a ampliação de abrangência da Saúde Digital. Sobre o uso das tecnologias envolvidas, como as ferramentas de IA e Ciência de Dados, ele completou dizendo que, além de ser efetivo e eficiente, o uso da tecnologia precisa seguir os preceitos da democracia. “É fundamental, tem que caminhar em conjunto. É isso que a gente gostaria de deixar como mensagem: pensemos a Ciência de Dados dentro da Epidemiologia com foco no fortalecimento do SUS”. 

Parcerias e sessão científica

O chefe do DEMQS/ENSP, Cleber Nascimento do Carmo, é um dos parceiros no estudo ‘Ciência de Dados e Vigilância Epidemiológica’, no qual os pesquisadores estão fazendo um mapeamento na literatura para entender como as técnicas e métodos de Ciência de Dados têm sido utilizadas em ações de detecção e prevenção de doenças e agravos. “Essa iniciativa surgiu a partir de um trabalho conjunto entre pesquisadores do Departamento de Epidemiologia da ENSP com o Marcelo Fornazin, que é pesquisador do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde (DAPS/ENSP). Estamos juntos nesse estudo sobre aplicações do uso de IA em Epidemiologia e Ciência de Dados, na interseção desses temas. Há outros pesquisadores participando, como Daniel Marinho e Carlos Andrade. Estamos identificando muitas lacunas à medida que estudamos o tema. Por isso, estamos fomentando iniciativas como essa da sessão científica”, explicou. Cléber lembrou ainda que, no 12º Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em novembro, realizarão uma oficina e uma mesa para abordar a temática. 



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