CSP celebra 40 anos de produção científica em saúde pública
Publicado em:05/06/2024
*Por Danielle Monteiro e Tatiane Vargas
Para celebrar quatro décadas de publicação ininterrupta, o periódico Cadernos de Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), promoveu nesta segunda-feira (3/6), o 'Encontro 40 anos de CSP', com atividades ao longo de todo o dia. Pela manhã, foi realizada uma mesa de abertura que contou com a participação da Vice-Presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado; do diretor da ENSP, Marco Menezes; além da coeditora-chefe de CSP, Marília Sá Carvalho. Em seguida, foi realizado o debate 'Contribuições de CSP para a Saúde Coletiva', com a participação de Abel Packer, diretor do Programa SciELO, e Claudia Travassos, editora emérita de CSP. Encerrando a manhã de comemoração, foi lançado o vídeo institucional de CSP. No período da tarde, aconteceu a Roda de Conversa com os editores científicos de CSP, que abordou diferentes temas sobre a publicação científica.
A cerimônia de abertura do evento em celebração aos 40 anos de Cadernos de Saúde Pública contou com a participação da Vice-Presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado; do diretor da ENSP, Marco Menezes; além da coeditora-chefe de CSP, Marília Sá Carvalho.
Na cerimônia de abertura, a Vice-Presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Vieira Machado, destacou que CSP é uma revista que faz parte da história do campo da saúde coletiva, sendo uma construtoras do campo. "Não existe um campo de conhecimento sem uma produção científica consistente e Cadernos de Saúde Pública faz parte dessa história. Ao longo desses 40 anos, CSP vem expressando o que foi a criação e as transformações desse campo rico, diverso e peculiar, que apresenta características diferenciadas no Brasil, em relação a outros países. CSP se desenvolveu e cresceu junto com a própria história do SUS e da construção de um sistema público e universal neste país tão desigual", celebrou.
Cristiani reforçou que publicar uma revista científica e mantê-la funcionando, com qualidade, durante tanto tempo, é um trabalho que envolve muitas pessoas, feito por muitas mãos, com dedicação e afeto. Porém, para manter a produção de qualidade, com reconhecimento nacional e internacional, é necessário enfrentar inúmeros desafios. "É fundamental que a gente continue defendendo o artigo científico e a difusão do conhecimento por meio de artigos, e sua relevância, sem cair nessa lógica de produtivismo vazio que desqualifica essa mesma produção", ponderou. Por fim, a vice-presidente pontuou alguns desafios no mundo da produção científica, entre eles: manter a qualidade diante das novas transformações; a internacionalização; e a divulgação científica. "Os desafios são muitos, mas é um enorme orgulho para a Fiocruz ver a trajetória de CSP, que é um patrimônio para a saúde coletiva", parabenizou.
O diretor da ENSP, Marco Menezes, parabenizou todos os editores e editoras de CSP que construíram e constroem a história coletiva dos Cadernos ao longo desses 40 anos. Ele citou, também, a exposição das capas da revista nas últimas quatro décadas, como uma bela oportunidade para mergulhar no que foram as contribuições de CSP para a saúde pública brasileira. A exposição está em cartaz no hall dos elevadores da Escola, até 7/6. O diretor descreveu algumas características de CSP, entre elas: a constância do trabalho; a relevância científica; a referência internacional; a pluralidade; a ciência aberta; e a autonomia editorial. Por fim, Marco citou o desastre recente no Rio Grande do Sul, lembrando que em 2015, CSP já apontava a importância da discussão entre clima e saúde. "Uma das principais marcas de CSP é sua posição firme em defesa dos direitos humanos e das populações mais vulnerabilidades, reforçando que democracia é saúde, e saúde é democracia", finalizou ele, parabenizando principalmente a condução feminina de CSP nos últimos dez anos.
Marília Sá Carvalho, coeditora-chefe de CSP, representou as editoras na cerimônia de abertura, por ser a mais antiga editora desde a aprovação do último Regimento de CSP. Segundo ela, nesses últimos 40 anos, Cadernos passou por diversas fases. De 1985 a 1990 foi a fase de estruturar e criar a revista. De 1991 a 2011, ao longo de 20 anos sob a liderança de Carlos Coimbra, a revista se consolida, passando de trimestral para mensal e sendo indexada nas grandes bases. Marília destacou a parceria como Programa SciELO, muito a frente do seu tempo incentivando e investindo em uma Politica de Acesso Aberto, a qual CSP sempre aderiu.
"Nesses últimos 12 anos, sobre a liderança de mulheres, e com a presença de uma editora de fora do quadro da Fiocruz, é um período que consideramos de diversidade e inclusão. Quarenta anos ininterruptos de uma revista científica na área de saúde coletiva no Brasil não é pouca coisa. Estamos comemorando esse aniversario hoje pois sempre contamos com o apoio integral da ENSP, com apoio irrestrito e sem nenhuma interferência, CSP foi garantido nesses 40 anos, mesmo com todas as mudanças de cenário do país", reforçou ela. Marília enfatizou que a longevidade de CSP é fruto da credibilidade e da confiança que a comunidade acadêmica e científica tem nos Cadernos, reforçando que são sobre essas bases que a ciência avança. Por fim, a editora destacou que nestes 40 anos, CSP reforça a cada dia seu compromisso com a melhoria das condições de vida e saúde das populações. Esse é o nosso compromisso com a democracia e com a ciência. Marília citou, também, a questão do desastre do Rio Grande do Sul e outros desastres ambientais pelos quais o país já passou, defendendo a importância das contribuições da ciência pra lidar com essas questões. "Precisamos de uma ciência interdisciplinar, que integre todos os aspectos, desde os surtos de doenças transmissíveis à inundação de bibliotecas escolares. A ciência não é neutra. Queremos publicar bons artigos que façam a diferença neste momento. Essa é a contribuição de CSP", concluiu ela.
CSP e a produção científica no Brasil
Durante o evento, o diretor do Programa SciELO, Abel Packer, apresentou um panorama da produção da literatura científica no Brasil e no mundo. Conforme apontado por Abel, desde 2014 a participação nacional na produção de artigos científicos no mundo tem apresentado queda significativa. De acordo com dados demonstrados pelo palestrante, também houve redução, na presença dos periódicos editados nacionalmente, de 36% em 2004 para 23% em 2023, apesar do aumento considerável da produção científica global durante o mesmo período.
Em relação à Scielo Brasil, biblioteca virtual de revistas científicas brasileiras, entre 2019 e 2023 houve crescimento de 1,5% por ano no número de periódicos. No entanto, em contrapartida, a quantidade de artigos publicados apresentou queda de 2,3% no mesmo intervalo. Segundo o diretor, de acordo com pesquisa realizada em 2023 com 314 editores-chefe, as principais causas da redução no número de artigos científicos são: a seletividade dos periódicos SciELO, o desempenho dos programas de pós-graduação, a Política Nacional de Apoio à Ciência no governo passado, a publicação preferencial em periódicos internacionais de maior impacto e a capacidade de publicação dos periódicos SciELO. Já no que diz respeito à equidade de gênero na produção científica em saúde pública no Brasil, os números são positivos, segundo Abel: a porcentagem de mulheres na chefia de editoria é de 62% no país. No entanto, no que se refere à autoria de artigos científicos no Brasil, apenas 44% são escritos por mulheres.
Por fim, Abel adiantou que, como cenário futuro, o SciELO pretende "adotar o modus operandi de Ciência Aberta, por assegurar um alinhamento com o estado da arte”.
Em seguida, em sua apresentação, a editora emérita de Cadernos de Saúde Pública, Claudia Travassos, destacou a trajetória exitosa, a interdisciplinaridade, a intensa produção, a internacionalização e a diversidade temática da revista científica ao longo de seus 40 anos, assim como sua transformação na tentativa de acompanhar as mudanças na produção científica da saúde coletiva e sua contribuição com a melhoria da saúde e das condições de vida das populações.
Claudia realçou ainda as rápidas respostas de CSP às demandas por aumento de publicações, especialmente em situações de emergência sanitária. O acesso aberto também foi um ponto destacado pela palestrante como atributo importante da revista científica: “O acesso aberto como bem público não comercial, política pouco comum entre os periódicos científicos, permanece muito valorizado em CSP. Esse é um aspecto importante do movimento da ciência aberta. É um movimento que visa aumentar a equidade na comunicação científica”.
Claudia relembrou a figura de Carlos Coimbra, que esteve à frente de CSP por mais de 20 anos como editor-chefe, e citou alguns dos diversos desafios do “mundo da publicação”, debatidos na produção da revista. Entre eles, a pressão sofrida pelo trabalho de revisão por pares; o plágio e questões referentes à autoria e avaliação da produção científica; o negacionismo na comunicação científica; e o impacto da chegada da Inteligência Artificial na publicação de artigos em revistas científicas. “Podemos esperar um futuro promissor para Cadernos de Saúde Pública, enfrentando desafios com determinação e criatividade. Vida longa à CSP!”, concluiu.
Encerrando a manhã de comemoração, foi lançado o vídeo institucional de CSP. No período da tarde, foi realizada uma Roda de Conversa com os editores científicos de CSP, que abordou diferentes temas sobre a publicação científica, entre eles: como publicar e avaliar um artigo científico; especificidades dos artigos nas diferentes áreas de pesquisa da Saúde Coletiva; ampliação do alcance das publicações; avaliação do impacto social das publicações; e ampliação da diversidade e inclusão nas publicações científicas.
Assista o 'Encontro 40 anos de CSP' na íntegra!
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