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2ª Reunião Geral da Rede PMA Equidade com Diversidade debate os desafios da ciência na saúde coletiva

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Publicado em:25/04/2024
Por Bruna Abinara*

A 2ª Reunião Geral da Rede Equidade com Diversidade do Programa de Políticas Públicas e Modelos de Atenção e Gestão à Saúde (PMA) aconteceu entre 9 e 11 de abril, no Rio de Janeiro. O programa, promovido pela Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB/Fiocruz), fomenta pesquisas coordenadas por servidores da Fundação para potencializar a produção de conhecimento científico, o desenvolvimento de tecnologias sociais e a criação de soluções inovadoras.

A pesquisadora da ENSP e coordenadora do PMA, Isabela Santos, explica que os três dias de evento foram destinados à apresentação dos 30 projetos apoiados pelo edital de 2023 e à promoção de debates sobre os temas dos estudos. Ela conta que o PMA busca ampliar e aperfeiçoar questões de saúde coletiva a partir do fomento de pesquisas e da troca de saberes entre profissionais de saúde, gestores, pesquisadores e usuários do sistema de saúde.  

Isabela considerou o evento um sucesso, tanto pelo engajamento dos participantes quanto pelas pactuações para os próximos anos. "Temos um balanço extremamente positivo, pois conseguimos fazer os grupos de pesquisa estarem juntos, debatendo, se articulando e construindo parcerias para os próximos três anos. No PMA, nós trabalhamos em rede, ou seja, em colaboração. As pessoas se conhecem, têm essa troca, pensam juntas sobre os conceitos e as discussões proporcionadas pelas mesas. Isso é o início de possibilidades de parcerias que vão surgindo", disse a coordenadora.

Segundo a coordenadora, o PMA fomenta pesquisas aplicadas de intervenção, para isso, incentiva projetos de implementação dos resultados encontrados nos estudos. Isabela ressalta que a atuação em rede parte do pressuposto de que é imprescindível fazer a translação do conhecimento para potencializar o uso dos resultados por quem interessa.Ela explica que a pesquisa é pensada em conjunto com as pessoas que serão impactadas pelos resultados, a partir da pergunta científica inicial que guia o projeto. "Não é para as pessoas da pesquisa, é com essas pessoas", disse. 

Isabela reforça que o PMA busca enfrentar todos os tipos de opressão que atingem a área da saúde e, dessa forma, visa combater as desigualdades estruturais da sociedade brasileira, como as opressões de classe, de gênero, racial e científica. Ela conta que, a partir da reunião, saíram muitas demandas para uma linguagem acessível, que pudesse ser compreendida facilmente por todos. Para a pesquisadora, a linguagem hermética da ciência tradicional já é uma forma de distanciar a população da produção científica. 

Os projetos se desenvolvem nas áreas de Epidemiologia, Ciências Humanas e Saúde, Gestão de Saúde, e Planejamento e Políticas Públicas de Saúde. Entre as pesquisas apresentadas, quatro são desenvolvidas por pesquisadoras da ENSP: o projeto sobre pessoas com deficiência em territórios vulnerabilizados, de Laís Silveira Costa; o estudo sobre o fortalecimento do monitoramento e avaliação como estratégia de aprimoramento de ações na Atenção Primária, coordenado por Marly Marques Cruz; a pesquisa sobre as vulnerabilizações e desigualdades em relação a mulheres negras e espaços de exclusão em perspectiva interseccional, de Roberta Gondim de Oliveira; e o projeto sobre as boas práticas Profissionais de Saúde integral e da população LGBTQIAPN+, de Fátima Cecchetto, que está lotada no IOC, mas também atua na ENSP.


Os dias de evento também resultaram na determinação de decisões pactuadas importantes para a Rede PMA, conta a pesquisadora. Entre elas, Isabela destaca o esforço de cada grupo de pesquisa e também da gestão no sentido de incorporar ainda mais avanços no quesito diversidade. Outra decisão em consenso, segundo a coordenadora, foi identificar, a partir do letramento racial, como as formas de manutenção de privilégios se mantêm na sua produção. Assim, as pesquisas podem usar tal conhecimento para combater as iniquidades no SUS e na saúde.

Isabela destaca que os projetos já partem da premissa de promover a equidade e a diversidade, mas, conforme explica a pesquisadora, o evento buscou reforçar ainda mais os debates com a participação de convidados internos e externos. 

O primeiro dia começou com um debate sobre o enfrentamento do capacitismo na ciência com Gabriel Lima Simões, analista de gestão da Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz. Houve também uma palestra sobre interseccionalidade, ministrada pela professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e coordenadora do Grupo de Trabalho (GT) de Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Diana Anunciação Santos.

Para Isabela, o debate sobre interseccionalidade é de suma importância para a prática acadêmica, pois, ao passo em que as diferentes formas de opressão se sobrepõem e se tornam mais complexas, o acesso aos serviços de assistência fica mais difícil e os resultados do sistema de saúde mais iníquos. A pesquisadora também salientou que a produção científica brasileira ainda reproduz uma base epistemológica do Norte Global: "Até quando queremos discutir os problemas de saúde do Sul Global para trazer propostas concretas de enfrentamento das desigualdades, a maioria das nossas referências bibliográficas ainda é predominantemente moldada pelo conhecimento que vem da Europa, dos Estados Unidos, do Canadá, sem considerar os conhecimentos do Sul Global, e isso influencia a forma de se pensar saúde para os problemas do Brasil". 

No segundo dia, a coordenadora de Equidade, Diversidade, Inclusão e Políticas Afirmativas da Fiocruz (Cedipa/Fiocruz), Hilda Gomes, apresentou possíveis parcerias entre as pesquisas e a Coordenação. Em seguida, Ionara Magalhães de Souza, professora da UFRB e pesquisadora da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), falou sobre políticas afirmativas e estudos sobre a branquitude, que opera para manter seus privilégios e se torna uma forma de opressão sobre as populações mais vulnerabilizadas. Já no terceiro dia, a pesquisadora Luciana Lindemeyer, do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, apresentou as ações e perspectivas do comitê.  Além dela, também ministrou palestra o gerente do Programa de Hanseníase da Secretaria Estadual da Saúde do Rio de Janeiro, André Luiz da Silva, que foi pós-graduando da ENSP. Ele explicou o conceito do racismo biomédico, que aponta que toda a biomedicina no Brasil é fundada em uma forma de um ‘pensar’ racista. 

*Créditos das imagens: Fiocruz/VPPCB/Comunicação 

*estagiária sob supervisão da jornalista Danielle Monteiro



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