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Gestores do Instituto Nacional de Saúde de Moçambique visitam a ENSP para discutir parcerias na área laboratorial

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Publicado em:19/04/2024
Por Danielle Monteiro

Em continuidade à missão de Moçambique à Fiocruz, representantes do Instituto Nacional de Saúde (INS) e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do país africano se reuniram com gestores da ENSP, nesta quinta-feira (18/04), para identificar possibilidades de colaborações na área laboratorial. A visita do diretor de Laboratórios de Saúde Pública do INS, Nédio Mabunda, do chefe de Departamento de Serviços de Referência do instituto, Adolfo Vubil, e do especialista de Laboratórios do CDC/Moçambique, Flavio Faife, deu sequência à agenda de cooperação entre a Fundação e o governo moçambicano, iniciada com a vinda do ministro da Saúde do país africano, Armindo Daniel Tiago, à Fiocruz no ano passado. A expectativa é de que um memorando de entendimento com a Fundação seja assinado em breve.

Ao longo do encontro, foram apontadas perspectivas de colaborações no campo laboratorial nas áreas de Toxicologia, Microbiologia, Saneamento e resistência antimicrobiana. As linhas de cooperação foram delineadas com base nas competências de atuação da ENSP na esfera do Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública (SISLAB).

O diretor de Laboratórios de Saúde Pública do INS lembrou que as cooperações com a Fiocruz têm gerado bons frutos na área de formação, já que boa parte do quadro de gestores e pesquisadores da Saúde de Moçambique são formados na Fundação. 

Segundo ele, as parcerias com a Fiocruz poderão ajudar o país africano na estruturação de sua rede de laboratórios, para melhor atender a sua população.  “As unidades sanitárias de Moçambique não contemplam todos os distritos e locais. Temos aproximadamente 1.600 unidades sanitárias para um país com 33 milhões de habitantes. Na área laboratorial, o número é menor ainda: temos muitas unidades sanitárias sem laboratórios. Contamos com pouco mais de 400 laboratórios de atendimento direto para pacientes. Em termos de referenciamento, trabalhamos, por muito tempo, no laboratório do INS, que é de referência nacional. Alguns agravos de saúde ou testes especializados eram enviados ao INS por todo o país. Além disso, em Moçambique, dependendo da região, não há voos diários, e isso é um desafio”, contou Mabunda.

Para solucionar a escassez laboratorial, Moçambique tem criado, desde a pandemia, um laboratório de saúde pública de referência em cada uma de suas 11 províncias. “Isso melhorou a resposta. Estamos com um surto de cólera há quase um ano, isso não é comum. E os laboratórios de saúde pública têm feito toda a diferença. Conhecemos a experiência do Brasil na área de referenciamento e vigilância, e queremos pensar em como podemos estruturar nossa rede”, explicou o diretor.

Segundo Mabunda, parcerias na área de toxicologia, em particular, seriam de grande valia para Moçambique, pois o país tem altas taxas de mortes por intoxicação, por vezes, não explicadas. “Em 2018, após um funeral, onde temos o hábito de oferecer bebida e comida, mais das 100 pessoas, que estiveram presentes na cerimônia, faleceram, após desenvolverem sintomas estranhos. Algumas pessoas foram até presas, por acusação de envenenamento. Investigamos na época e, após colhermos amostras em vários locais e países, um ano depois descobrimos que a causa foi a presença de uma bactéria na farinha usada para o preparo da alimentação. Desde então, passamos a dar especial atenção a essa área e precisamos estruturá-la. Não sabemos como começar, mas precisamos criar, com urgência, um laboratório de toxicologia, pois há casos esporádicos de intoxicação todos os anos. E temos certeza de que, com a Fiocruz, poderemos fazer isso”, destacou.

Presente à reunião, a vice-diretora de Ambulatórios e Laboratórios da ENSP, Fátima Rocha, realçou que a agenda institucional da Fiocruz junto ao INS é extremamente relevante para a construção de áreas complementares à colaboração entre o instituto e a Fundação. “Na Escola, reforçamos o compromisso ético e político na cooperação Sul-Sul, com os eixos de atuação no campo internacional, a partir das redes de saúde pública, mais especificamente, com a Rede de Escolas Nacionais de Saúde Pública da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (RENSP-CPLP). A formação interdisciplinar do conjunto de nossos pesquisadores e as diferentes dimensões do nosso campo de formação trazem a marca da Escola na produção do conhecimento emancipatório e, portanto, com uma dinâmica de compartilhamento e construção de cooperações das suas linhas de trabalho, das experiências históricas e dos projetos que visam o fortalecimento da política de saúde e os seus sistemas de gestão”, afirmou.

A parceria da ENSP com o governo moçambicano prevê, ainda, a criação de uma Escola Nacional de Saúde Pública no país africano. A iniciativa foi proposta e discutida em março, durante visita do diretor nacional de Formação e Comunicação em Saúde do INS, Rufino Gujamo, e o diretor nacional de Formação de Profissionais de Saúde do Ministério da Saúde de Moçambique, Sualehe Rafael, à Escola. Na ocasião, os visitantes também demonstraram interesse em estabelecer cooperações nas áreas de formação em gestão de serviços de saúde e de emergências sanitárias; avaliação e comunicação em saúde; divulgação científica; e desenvolvimento conjunto de pesquisas. 

Nesta sexta-feira (19/04), os representantes do INS e do CDC de Moçambique visitaram também o Laboratório de Referência Nacional de Tuberculose e Micobactérias, vinculado ao Centro de Referência Professor Hélio Fraga da ENSP. “Certamente essa visita poderá alavancar outros horizontes de parceria para fortalecer a rede de referência laboratorial de Moçambique”, disse Fátima. 

Durante o período em que estiveram na Fiocruz, entre 17 e 19 de abril, os visitantes conheceram ainda o centro hospitalar do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) e o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos). A visita à Fundação teve como objetivo buscar experiências em coordenação de rede de laboratórios de saúde pública e identificar áreas adicionais de colaboração em transferência de tecnologia laboratorial, assim como nos campos de desenvolvimento tecnológico, formação e suporte técnico na área de laboratórios.


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