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“Mudanças Climáticas são uma das maiores ameaças à saúde pública atualmente”, aponta Paulo Artaxo

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Publicado em:08/03/2024

Por Tatiane Vargas

Como parte das atividades da Semana de Abertura do Ano Letivo 2024, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) recebeu, nesta terça-feira, 5 de março, o cientista Paulo Artaxo, para falar sobre ‘Mudanças Climáticas e Saúde’. Referência internacional quando o assunto é clima, o pesquisador afirmou que as mudanças climáticas são uma das maiores ameaças à saúde pública neste século, destacando que as parcerias e colaborações são o cerne da ciência não só no Brasil, como no mundo, para enfrentar os grandes desafios. Coordenando a mesa, o pesquisador da Fiocruz e docente da ENSP, Cristovam Barcellos, ressaltou a importância da parceria com Artaxo em atividades de pesquisa e ensino, e evidenciou como o clima influência nas questões de saúde. A palestra está disponível, na íntegra, no canal da ENSP no Youtube!  

Em sua apresentação Artaxo trouxe um panorama sobre as implicações do clima para a vida humana. Antes de falar do clima e da saúde, ele lembrou a importância de termos uma visão mais abrangente dos grandes desafios que a humanidade enfrenta atualmente, entre eles: a perda da biodiversidade, as mudanças climáticas, a alta desigualdade social, a poluição do ar, a disponibilidade de água, a fome, a paz, as pandemias, o uso predatório de recursos naturais, a extrema concentração de renda, e falta de felicidade. “Olhando para os grandes desafios da atualidade e para esses indicadores citados, a função da ciência é ajudar a sair desta encruzilhada. Uma das pistas para isso são os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis”, ponderou. 

Artaxo citou que estamos passando por um momento muito especial da humanidade, que será crucial para definir diversas questões futuras. Segundo ele, a mudança climática, junto com a questão da saúde pública, se tornou realmente um ponto muito forte, e foi discutido, pela primeira vez, nas 28 edições da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28). Em seguida, o pesquisador trouxe para o debate, a questão de como a saúde pessoal e planetária estão sendo impactadas pelo antropoceno (nova época geológica moldada pela humanidade e que está em andamento). 

De acordo com ele, são muitos impactos, de maneiras diferentes, não só na atmosfera, na água, no metabolismo, que devem ser analisados de maneira muito mais ampla, pois a humanidade se tornou uma força dominante na formação da face da terra. “Um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta hoje é a perda de conexão vital entre os humanos e o resto do mundo que nos sustenta. Nós dependemos da biodiversidade no nosso planeta, de um clima estável para ter uma estabilidade mínima de sistemas socioeconômicos. E o que estamos fazendo é romper essa conexão vital entre nós e o planeta”, advertiu. 

Entrando mais profundamente na questão climática, Artaxo frisou que há 50 anos a ciência alerta a humanidade de que alguma coisa está muito errada em relação ao aumento da temperatura global e, ao longo deste período, nada foi feito para reduzir o aumento da temperatura global em nosso planeta. “Isso não acontece por acaso, certamente a questão da governança é umas das questões mais importantes na construção de um novo sistema socioeconômico que vai ter que ser implementado. Não temos outra alternativa, pois o atual sistema, baseado em concentração de renda e destruição dos recursos naturais, não é sustentável sequer a curto prazo”, explicou.  

Segundo o cientista, no cerne das questões das mudanças climáticas, estão as concentrações da emissão de gases de efeito estufa que continuam aumentando. Atualmente são jogados 60 bilhões de toneladas de gases de efeitos estufa, a cada ano, continuamente, na atmosfera terrestre. Esses gases absorvem radiação ultravioleta e causam o aumento da temperatura no planeta. “Estamos aumentando a emissão de gases de efeito estufa em cerca de 2 a 4% a cada ano. Isso significa que a emergência climática requer a rápida transformação das sociedades. Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, publicado na última COP, aponta que não se trata mais de reduzir as emissões, mas de transformar nossa sociedade. No caso de emissões de gases, o Brasil sempre teve um discurso falso de que esse era um problema dos países desenvolvidos, o que é uma grande falácia, pois este mesmo relatório mostra que nas emissões totais de gases de efeito estufa, o Brasil é o sétimo maior emissor mundial de gases, o quarto maior emissor em emissões per capta, e é o sexto maior em emissões históricas. Ou seja, estamos entre os dez maiores culpados por essa situação”.  

Artaxo expôs que o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em 2022, destaca que a evidência científica é inequívoca: mudanças climáticas são uma ameaça ao bem estar humano e a saúde do planeta. Qualquer atraso em uma ação global, coordenada e conjunta, levará a perda de breve janela que se fecha rapidamente, para assegurar um futuro habitável. “Isso é uma ameaça à espécie humana. Esse mesmo relatório aponta que, a menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estuda, limitar o aquecimento a 2°C pode ser impossível”. 

O pesquisador explicou que, segundo o relatório do IPCC do último ano, já temos opções agora, em todos os setores da economia, que podem reduzir pela metade as emissões até 2030. “Ou seja, não é uma questão de tecnologia, não é uma questão de não termos disponibilidade de fazer essas tarefas. Podemos reduzir em diversos setores, como no uso de energia, solo, na indústria, entre outros”. Do ponto de vista dos impactos das mudanças climáticas na saúde humana, o cientista reforçou que são impactos em múltiplas áreas. Segundo ele, esses impactos dependem muito, também, da vulnerabilidade das populações, pois as populações não são igualmente vulneráveis.  

O Brasil, segundo Paulo, tem oportunidades únicas no mundo, mas, também, apresenta vulnerabilidades importantes. Por exemplo, o país tem potencial de grande redução de emissões sem prejuízos à sociedade, com potencial solar e eólico que nenhum outro país possui, além de um programa de biocombustível único no mundo, e do sequestro de carbono, com geração de renda através do mercado de carbono. Ao mesmo tempo, temos uma economia baseada no agronegócio, que não será viável a longo prazo, a geração da eletricidade depende do clima, temos 8500 km de áreas costeiras vulneráveis às mudanças climáticas e a possível inviabilidade da região nordeste brasileira em algumas décadas.  

Paulo Artaxo trouxe alguns dados importantes de serem destacados. De acordo com ele, é impossível, com as emissões atuais, limitar o aquecimento global em dois graus, pois estamos caminhando para uma trajetória de três graus celsius ao longo deste século. "Não há qualquer possibilidade de atingirmos o ‘Net Zero’ (ambição de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera) no planeta em 2050. Iremos extinguir milhares de espécies ao longo deste século. Produzir alimentos para 10 bilhões de pessoas no novo clima será um grande desafio. Migrações em massa irão ocorrer, com aumento de tensões geopolíticas", apontou.  

Por fim, ele reforçou que é importante olhar a questão climática e a questão da saúde com base nos seis eixos que estão em processo de transformação em nossa sociedade, sendo eles: energia; consumo e produção sustentáveis; alimentos, uso da terra e biosfera; revolução digital; cidades; e capacitação humana e demográfica. A melhor maneira de fazer isso é atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, em especial o número 13, pois sem uma estabilidade climática será muito difícil atingir os demais. "Por isso, é fundamental perceber e entender o interrelacionamento de todas essas questões. Temos que restabelecer a conexão vital entre os humanos e o resto do mundo que nos sustenta, somente com ações integradas entre governos, empresas e sociedade, iremos construir um mundo sustentável”, concluiu Artaxo.

Assista a palestra na íntegra!



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