Eleições Departamentais ENSP: Campanha Simone Oliveira, candidata no Cesteh
Carta de apresentação
Meus 32 anos de atuação junto ao CESTEH são anos dedicados a buscar, reconhecer e construir pistas para o cuidado e a promoção de uma saúde emancipatória, sempre engajada na luta por direitos e orientada para o fortalecimento do SUS, seja através das ações de vigilância, produção de conhecimento ou formação de trabalhadores e trabalhadoras. Uma trajetória percorrida na costura cuidadosa e colaborativa entre as ciências sociais e outros saberes, em parceria com sindicatos, movimentos sociais e nas vivências comunitárias, com base na valorização das experiências, na perspectiva das transformações das situações de vida e trabalho.
Motivada para assumir a coordenação do centro nos próximos dois anos (2023 a 2025) e incentivada por muitos colegas para essa travessia, convido vocês a pensarmos juntos/as uma proposta para maior integração e potencialização do CESTEH, de maneira a nos colocarmos diante dos grandes desafios trazidos pela contemporaneidade, entendendo os conflitos e buscando soluções harmônicas e criativas. Acredito que os limites e desafios dos conhecimentos sobre saúde, trabalho e ambiente só podem ser apreendidos e enfrentados se confrontados e estimulados pelas questões e indagações emergentes das próprias experiências.
Com esse espírito, inicio o nosso diálogo compartilhando um pouco dos caminhos da minha própria experiência:
Em 1991, ingressei como bolsista do Programa de Apoio à Reforma Sanitária (PARES) coordenado por Tizuko Shiraiwa, subsidiando os projetos de pesquisa do grupo que estudava a saúde da mulher trabalhadora. A aproximação com este grupo foi muito enriquecedora, marcou definitivamente minha trajetória profissional e culminou na publicação da Bibliografia sobre a Mulher Trabalhadora. No entanto, minha entrada na Fiocruz se faz anterior, quando em 1986, recém-formada, fiz parte do Projeto Radis, onde por três anos realizei levantamentos, classificação e sistematização das notícias em saúde da mídia escrita. Em 1987, publicamos no Radis a revista TEMA sobre Saúde do Trabalhador, baseada na I Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, um momento efervescente do país. Dessa minha primeira experiência ficou um grande desejo de me aproximar mais.
Entrar no CESTEH foi um momento muito importante pois veio ao encontro de expectativas geradas desde a graduação em Ciências Sociais na UFF, ao estudar o trabalho. Neste período, pude cursar a Especialização em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (1991), uma formação fundamental que me aproximou irremediavelmente do universo da saúde coletiva numa perspectiva interdisciplinar. A área de Saúde do Trabalhador foi onde encontrei a possibilidade de unir minha formação acadêmica de cientista social com minhas preocupações de transformação da realidade, conjugando de uma maneira instigante teoria e prática. Comecei o mestrado (1993-1995) com o tema inovação tecnológica e organizacional e suas repercussões para a saúde dos trabalhadores e a divisão sexual do trabalho. Nele, estudei a implantação do Programa de Qualidade Total em uma indústria têxtil. Em seguida, permaneci no CESTEH como Pesquisadora Visitante, bolsista Faperj, por seis anos, atuando de 1996 a 2002 com projetos sobre impactos da Reestruturação Produtiva na Saúde dos Trabalhadores, especialmente a terceirização.
Em paralelo, a partir de 1996, coordenei o Curso de Aperfeiçoamento em Saúde do Trabalhador no Processo de Municipalização e por cinco anos estive na coordenação junto com Ary Miranda no curso de Especialização em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (1997-2001). Período de muito dinamismo do CESTEH em que pude participar de várias ações de Vigilância em Saúde do Trabalhador junto ao Programa de Saúde do Trabalhador do RJ. Em 1998, tive experiência marcante quando a partir da cooperação estabelecida pelo CESTEH e a Japan International Cooperation (JICA), passei dois meses no Japão realizando a formação “Women in Environment and Development” (Mulher, Ambiente e Desenvolvimento), promovido pelo Kitakyushu Forum on Asian Women. A proposta do curso era discutir o papel da mulher na proteção do ambiente e no desenvolvimento sustentável e preparar pessoas ligadas a órgãos governamentais e ONGs para liderar em questões ligadas ao ambiente e gênero numa perspectiva global.
Em 2002, não havendo mais possibilidade de renovação da bolsa de pesquisadora visitante, ingressei no doutorado do Programa de Saúde Pública/ENSP. Mantive minha conexão com o CESTEH, mas em 2003 integrei a equipe do Projeto Fortalecimento e Apoio ao Desenvolvimento Institucional da Gestão de Recursos Humanos, na DIREH (atual COGEPE). Este projeto junto com a Vice-presidência de Ensino e Recursos Humanos tinha o desafio de buscar soluções de problemas que emergiam de mudanças no mundo do trabalho às modalidades de formação e atualização e às novas formas de vínculos e manutenção dos trabalhadores no âmbito da instituição. Na perspectiva de pensar e propor alternativas para este quadro de precarização do trabalho ligado ao processo de terceirização é que se criou a Assessoria de Regulação do Trabalho, que ficou sob a minha responsabilidade. Criamos o manual para gestão de contratos de prestação de serviços com projeto junto aos RHs, estruturando Curso para Capacitação de Gestores de Contratos.
Institui também o Fórum de Gestores de Contrato, espaço de debate para compartilhamento de experiências e aprimoramento de competências, na perspectiva de normalização institucional, estabelecendo padrões de referência de remuneração, benefícios, seleção e avaliação dos serviços prestados por terceiros.
Ainda cursando o doutorado, fui Orientadora de Aprendizagem no curso Educação Permanente EAD/ENSP, ficando responsável por cobrir três estados da Região Nordeste, Ceará, Alagoas e Sergipe com 24 tutores distribuídos em seis polos. Em 2006, tive a experiência de dois anos na Escola de Governo da ENSP participando do Projeto ENSP em Movimento. Naquele ano prestei o concurso passando em segundo lugar para vaga de pesquisadora do CESTEH, sendo chamada nas vagas excedentes em 2008. No ano de 2007 defendi minha tese sobre o trabalho em telemarketing desenvolvida em parceria com Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações e afins (Sinttel-RJ). Entrando no CESTEH efetivamente em 2009, ingressei no Programa de Pós-graduação em Saúde Pública, na área Saúde, Trabalho e Ambiente.
Desde então, venho contribuindo com a área realizando pesquisas, orientando alunos/as e ministrando disciplinas obrigatórias e eletivas, além de organizar cursos internacionais. No percurso acadêmico no stricto sensu conclui a orientação de 10 teses de doutorado, 25 dissertações de mestrado, 3 supervisões de pós-doutorado, além de 5 Iniciações Científicas, somadas às diversas orientações do lato sensu, contribuindo efetivamente para a formação no campo da Saúde do Trabalhador. Período em que por diversas vezes coordenei a área Saúde, Trabalho e Ambiente, como venho fazendo atualmente.
Realizei o pós-doutorado em Psicologia do Trabalho (2012-2013), na Faculdade de Psicologia e das Ciências da Educação/Universidade do Porto/PT, com apoio da Capes. Meu retorno à temática dos desastres se fez relevante e desde então venho trabalhando nesta perspectiva. Em 2015 organizei o I Seminário Internacional Desnaturalização dos Desastres e Mobilização Comunitária e em 2021, o segundo. Neste ínterim coordenei cursos internacionais nesta temática abordando os Aspectos Psicossociais em Situações de Emergências e Desastres: metodologias participativas (2016), Metodologias sobre Desastres e vulnerabilidades socioambientais: experiências Brasil – Portugal (2017), Metodologias Participativas para abordagem da vulnerabilidade e suas implicações para análise de emergência e desastres Brasil-Portugal (2018), Saúde, Vulnerabilidades e Território (2022). O trabalho teve como enfoque os desastres das cidades serranas e nos rompimentos das Barragens de Fundão e Córrego do Feijão nas cidades de Mariana e Brumadinho/MG e resultou na produção de dois vídeos, orientações acadêmicas e publicação de artigos.
De 2016 a 2019, coordenei o Programa de Pós-graduação de Mestrado Profissional da ENSP e, em 2017, coordenei, em parceria com Ana Maria Braga, o curso de Mestrado Profissional Vigilância em Saúde do Trabalhador para os Cerests de todo o país. Em 2019 iniciei, com apoio do Programa Inova Ideais, o projeto “De Nosso Território Sabemos Nós”, pesquisa-intervenção nas comunidades serranas atingidas pelos desastres. Essa pesquisa se desenvolve até o momento e é importante experiência para a consolidação de metodologias participativas para transformação das situações de vida das comunidades atingidas e de indicadores de vulnerabilidades socioambientais.
Em 2019 também me incorporei a um grupo do CESTEH com outras instituições para o estudo do trabalho em plataformas digitais, especificamente entregadores e motoristas por aplicativo. No final de 2019, obtive bolsa Capes para Pesquisadora Visitante, por seis meses (dezembro-maio) no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território/Universidade de Lisboa (IGOT/UL), aprofundando o diálogo e cooperação para os processos de vulnerabilização comunitária, memória e desastres. No entanto, com a eclosão da pandemia de Covid-19, voltei ao Brasil com apenas três meses de estadia. Imediatamente ao meu retorno passei a coordenar uma pesquisa no INI/Fiocruz sobre a Saúde Mental dos trabalhadores, dando suporte aos profissionais da linha de frente do enfrentamento da Covid-19.
A partir da supervisão de uma pós-doutoranda (2022/23), me aproximei da agroecologia. Campo ao qual associamos as discussões dos feminismos decoloniais latino-americano e do racismo estrutural e ambiental, abrindo nova frente de atuação, e impulsionando a estruturação de cursos nesta temática. Atualmente, coordeno o projeto Vigilância Popular em Saúde de base territorial: experiências, redes e formação para ação, financiado pelo Edital de Pesquisa 2021 da Vice Direção de Pesquisa da ENSP. Nele, buscamos conjugar essas áreas e mapear experiências nacionais, práticas metodológicas e os modos de fazer vigilância, para que possam ser colocadas em rede estimulando ações e formação em vigilância popular em saúde de base territorial.
Em suma, a minha trajetória sempre buscou articular as atividades de pesquisa, de ensino e de intervenção, desenvolvendo trabalhos em parceria com sindicatos, movimentos sociais, e realizados de forma compartilhada com trabalhadores e trabalhadoras na perspectiva das transformações das situações de vida e trabalho. As temáticas de gênero, subjetividade, desastres e vigilância sempre estiveram presentes balizando ações e apontando para novos e antigos desafios como a discussão do racismo estrutural, institucional e ambiental.
Esta é, evidentemente, uma jornada também coletiva. Colegas de diferentes iniciativas e diversos setores têm me estimulado nesta direção. Pretendo realizar essa coordenação com a mesma postura com que desenvolvo minhas atividades de pesquisa, ou seja, trabalhar com as pessoas e não “para”, fazer junto, de maneira colaborativa, com troca e diálogo mútuos, em que aprendamos uns/umas com outros/outras. Reconhecendo que os conflitos existem e fazem parte da vida e certamente estarão presentes nestes percursos. Meu convite é uma convocação para nos colocarmos diante dos conflitos de maneira a buscar soluções harmônicas e criativas. Com esse espírito, pensar que os limites e desafios dos conhecimentos sobre saúde, trabalho e ambiente só podem ser apreendidos e enfrentados se confrontados e estimulados pelas questões e indagações emergentes das próprias experiências.
Em meio aos desafios trazidos pelas diversidades, heterogeneidades e ameaças do mundo contemporâneo, precisamos entre n
ós, entre o CESTEH e a ENSP e com toda a Fiocruz, de unidade político-institucional, para uma ação fortalecida. Nessa direção, convido vocês a pensarmos juntos/as uma proposta para maior integração e potencialização do CESTEH.
Vamos dialogar!
Simone Oliveira
Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2023.
+ Confira o material de campanha no arquivo anexo (Disponível ao final da página. Clicar em Anexos Relacionados).
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