Ceensp apresenta ferramenta que ajuda na equidade e sustentabilidade dos sistemas de saúde
Por Danielle Monteiro
Os conceitos, atributos e ferramentas de avaliação da Inovação Responsável em Saúde, desenvolvidos por pesquisadores do programa de pesquisa In Fieri, do Centro de Pesquisa em Saúde Pública, da Universidade de Montreal (Canadá), foram a pauta do Centro de Estudos Miguel Murat de Vasconcelos da ENSP (Ceensp), realizado nesta quarta-feira (9/08). Pesquisadores integrantes do programa apresentaram a iniciativa, seus resultados e benefícios para a equidade e sustentabilidade dos sistemas de saúde. O evento marcou o encerramento da disciplina Conhecimento e Inovação em Saúde, oferecida na modalidade híbrida e em formato de oficina, nos dias 7 e 8 de agosto, e aberta à participação da comunidade da ENSP, da Fiocruz e de outras instituições parceiras. As atividades foram promovidas pela Vice-direção de Pesquisa e Inovação e o Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da ENSP, em parceria com a instituição acadêmica canadense e a Vice-presidência de Educação, Informação e Comunicação em Saúde da Fiocruz.
Presente à abertura e na coordenação do evento, a vice-diretora de Pesquisa e Inovação da ENSP, Luciana Dias de Lima, explicou que “a iniciativa é fruto de uma inquietação decorrente da constatação de que, embora haja avanços no desenvolvimento científico e tecnológico, as abordagens tradicionais em Ciência, Tecnologia e Inovação, que foram estabelecidas nas últimas décadas e implicam formas de produção de novas tecnologias orientadas para o lucro e com uso intensivo de capital, ameaçam a sustentabilidade dos sistemas de saúde em todo o mundo e não atendem, necessariamente, às necessidades de saúde mais urgentes da população”. Ela também reforçou, durante o Ceensp, a importância das contribuições do campo da Saúde Pública que se expressam e diferenciam a abordagem da Inovação Responsável em Saúde.
Em seguida, o pesquisador sênior do In Fieri, Hudson Pacífico da Silva, fez uma apresentação sobre a ferramenta de avaliação da Inovação Responsável em Saúde, desenvolvida pelo programa de pesquisa, que tem como finalidade medir o grau de responsabilidade das inovações em saúde. Abordagem emergente no campo da Ciência, Tecnologia e Inovação, a Inovação Responsável em Saúde busca verificar em que medida as novas tecnologias, que são desenvolvidas, produzidas, comercializadas e utilizadas, podem contribuir para aumentar a equidade e a sustentabilidade dos sistemas de saúde. Segundo Hudson, ela é importante porque contempla um conjunto de domínio de valores e atributos de responsabilidade que ajudam as inovações a se tornarem mais equitativas e sustentáveis. Em sua fala, Hudson discorreu sobre as motivações que levaram o grupo de pesquisa a criar a ferramenta, os métodos utilizados para o seu desenvolvimento, seus resultados, como ela é aplicada e quais são suas implicações. Ele apontou, ainda, alguns direcionamentos para estudos futuros. 
Hudson comentou que, nos últimos anos, surgiu, em ritmo acelerado, um alto número de inovações na saúde, provocado, especialmente, pela pandemia de Covid-19, voltadas a tratamento, diagnóstico, soluções em Telessaúde, vacinas e saúde digital. No entanto, segundo o pesquisador, boa parte dessas inovações tecnológicas não estão disponíveis ou acessíveis para todos aqueles que precisam: “Se observarmos, por exemplo, o percentual de pessoas que foram completamente vacinadas no mundo, segundo o protocolo de vacinação contra a Covid-19, observamos que existe uma desigualdade muito grande entre os países”. Essa constatação, conforme explicou Hudson, mostra que muitas tecnologias em saúde disponibilizadas no mercado não são acessíveis a uma parte importante da população. “Isso acontece por uma série de razões: a lógica comercial, por exemplo, que impõe a utilização de patentes e dificulta o acesso à boa parte dessas soluções que chegam ao mercado. Ao mesmo tempo, esse tipo de problema causa efeitos para a sustentabilidade do sistema de saúde”, afirmou.
A contribuição do esforço para o desenvolvimento da ferramenta, segundo Hudson, é tornar a responsabilidade tangível e mensurável, evitando as limitações associadas ao uso das ferramentas existentes no campo da pesquisa em Inovação Responsável em Saúde. “A implicação disso é que essa ferramenta dirige a atenção dos tomadores de decisão para os estágios precoces dos processos de desenvolvimento e produção das inovações. Além disso, um grande número de tomadores de decisão pode se beneficiar dos resultados dessa ferramenta, para identificar inovações que possuem essas características de responsabilidade”, explicou. No processo, foi ainda identificado um conjunto de estudos futuros que poderiam complementar esse esforço, segundo o pesquisador.
Posteriormente, a pesquisadora Lysanne Rivard, que também integra o In Fieri, explicou como inovadores em saúde podem utilizar a ferramenta para desenvolver melhores inovações no campo. Ela discorreu sobre a pesquisa realizada pelo In Fieri para transformar os critérios de avaliação em diretrizes. A pesquisadora também explicou, citando alguns exemplos de soluções inovadores responsáveis, como a Inovação Responsável em Saúde evita a chamada Lavagem de Responsabilidade (quando a organização transmite uma imagem de responsabilidade sem esforços tangíveis para tratar questões importantes sobre responsabilidade social) e promove cuidados, enfrentando os atuais desafios da saúde. Segundo a pesquisadora, para desenvolver uma ideia inovadora em saúde, é preciso, sobretudo, refletir sobre como a solução inovadora reduz as iniquidades em saúde, além de analisar se ela oferece uma solução dinâmica para determinada necessidade do sistema de saúde; se a organização desenvolvedora da inovação busca promover mais valores para usuários, consumidores e sociedade; e se a inovação limita o impacto ambiental negativo ao longo de todo o seu ciclo de vida.
Debatedor do encontro, o pesquisador do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da Fiocruz (CDTS), Carlos Médicis Morel, destacou que o trabalho apresentado pelos pesquisadores da Universidade de Montreal desenvolveu todo um quadro conceitual, de ferramentas e modo de avaliação que poderiam ser aproveitados pela Fiocruz. Ele sugeriu que os critérios apresentados pelos pesquisadores sejam incorporados nas reuniões da Comissão de Patentes da Fiocruz (Copat), nas quais são analisados os pedidos de patentes em inovação com base nos parâmetros clássicos.
+ Assista à transmissão completa do Ceensp
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