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Rio de Janeiro é o estado com maior taxa de mortalidade por tuberculose do país

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Publicado em:09/08/2023
Por Barbara Souza e Danielle Monteiro

Celebrado em 6 de agosto, o ‘Dia de Conscientização, Mobilização e Combate à Tuberculose no Rio de Janeiro’ joga luz sobre o cenário crítico da doença no estado. Em 2022, o Rio de Janeiro registrou uma taxa de incidência de 68,6 casos a cada 100 mil habitantes, a terceira maior do país. O estado também enfrenta uma alta taxa de mortalidade por tuberculose. No ano passado, o RJ apresentou o maior risco de morte relacionada à doença em todo o Brasil, com um coeficiente de 5 óbitos por 100 mil habitantes.

“É um dado alarmante, considerando a dimensão territorial e populacional do estado e o papel econômico do estado no cenário nacional. Esse alto coeficiente de incidência reflete a complexa situação socioeconômica enfrentada por muitos moradores do estado. Condições precárias de moradia, acesso limitado aos serviços de saúde e desigualdades sociais contribuem para a disseminação da doença, uma vez que a tuberculose é frequentemente associada a ambientes insalubres e condições de vulnerabilidade da população”, afirmou Paulo Victor Viana, chefe do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, da ENSP/Fiocruz.

O especialista explicou ainda que a combinação de altos índices de incidência e mortalidade demonstra a gravidade da situação da tuberculose no Rio de Janeiro. “Isso coloca em evidência a necessidade urgente de intensificar as estratégias de controle e enfrentamento dessa doença. São necessários investimentos em saúde pública, campanhas de conscientização e educação da população, além do fortalecimento do acesso aos serviços de saúde para que sejam realizados diagnósticos precoces e tratamentos adequados”, disse Paulo Victor. A busca por parcerias entre órgãos governamentais, organizações não governamentais e a sociedade civil é essencial para a implementação de políticas eficazes e sustentáveis de combate à tuberculose no estado. “Somente com esforços conjuntos o Rio de Janeiro poderá reverter essa triste realidade e proporcionar melhores condições de saúde e bem-estar para sua população.”

Médica do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da ENSP, Celina Boga chama a atenção para o alto e preocupante número de casos de tuberculose principalmente no município do Rio de Janeiro. Segundo ela, os dados mostram que é preciso ainda caminhar muito na luta contra a doença. Celina acredita que, nessa batalha, é necessário garantir condições para que os serviços de saúde, principalmente os locais, mais próximos dos cidadãos, consigam desenvolver o seu trabalho para a realização de diagnóstico e tratamento, e uso das regulamentações voltadas aos direitos das pessoas com tuberculose, cujos casos estão concentrados, principalmente, em comunidades de alta vulnerabilidade social.

“Esses serviços de saúde próximos aos cidadãos devem acionar os melhores meios diagnósticos e medicamentos para cada caso, assim como fazer a revisão e avaliação de todos os contatos daquele caso. As formas de interromper a transmissão são o tratamento e a avaliação dos contatos daquela pessoa. É preciso também, sobretudo, garantir os direitos que essa pessoa tem no trabalho, na previdência social, de afastamento e de tratar o seu problema, sem correr riscos de abandono e exclusão. O Centro de Saúde tem procurado fazer esse trabalho, mas encontramos dificuldades. Há muito ainda a avançar, não somente em relação os profissionais de saúde, junto à população, fazendo um trabalho de conscientização e identificação do maior número de casos”, afirma Celina. 

Panoramas nacional e internacional

A tuberculose continua sendo um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo e é frequentemente referida como uma "calamidade negligenciada" devido à persistência da doença e à falta de recursos e atenção suficientes para combatê-la. Conforme apontado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a tuberculose ainda é uma das doenças mais desafiadoras e persistentes em termos de saúde pública global. Dentre os fatores que contribuem para a gravidade da situação, destaca-se os seguintes aspectos:

Desigualdade social - A tuberculose está fortemente associada à desigualdade social e econômica. Populações vulneráveis e marginalizadas têm maior risco de contrair e desenvolver a doença, uma vez que enfrentam dificuldades no acesso a cuidados de saúde adequados e condições de vida precárias.
Resistência a medicamentos - A emergência de cepas resistentes a medicamentos, como a tuberculose multidroga resistente (TB-MDR) e a tuberculose extensivamente resistente (TB-XDR), representa uma ameaça significativa ao tratamento eficaz. Essas cepas tornam o tratamento mais difícil e prolongado, aumentando a morbidade e mortalidade associadas à tuberculose.
Diagnóstico tardio - O diagnóstico tardio da tuberculose é um dos principais obstáculos para o controle da doença. Quando não diagnosticada rapidamente, a tuberculose pode agravar-se, aumentando o risco de transmissão para outras pessoas e tornando o tratamento mais complexo e levando até mesmo a morte.
Coinfecção TB-HIV - A coinfecção entre tuberculose e HIV é uma preocupação significativa, uma vez que as pessoas vivendo com o HIV têm um risco muito maior de desenvolver tuberculose. A gestão conjunta dessas condições é fundamental para prevenir complicações e reduzir a disseminação das doenças. 
Acesso limitado ao tratamento - Em várias regiões, o acesso a cuidados de saúde adequados e tratamento para tuberculose é limitado, especialmente em áreas rurais, comunidades desfavorecidas e locais de conflito armado. A falta de acesso adequado ao tratamento pode agravar a situação e dificultar o controle da doença.
Desafios na prevenção e detecção precoce - A tuberculose é uma doença complexa, o que torna a implementação de estratégias eficazes de prevenção e detecção precoce um desafio em algumas áreas, como o caso do tratamento da infecção latente.

Houve alguns avanços significativos no enfrentamento da tuberculose nos últimos anos. Dentre eles, Paulo Victor Viana destaca testes de diagnóstico mais rápidos e precisos, melhorias no tratamento padrão da tuberculose e novos medicamentos. O chefe do CRPHF detalha:

“Novas tecnologias de diagnóstico, o teste rápido molecular conhecido como o teste GeneXpert e outros métodos moleculares, foram desenvolvidas para identificar rapidamente a presença da bactéria causadora da tuberculose e, em alguns casos, determinar sua resistência a medicamentos. Isso permitiu um diagnóstico mais rápido e eficiente, permitindo que os pacientes iniciem o tratamento mais cedo”, diz em relação ao primeiro item. “Melhorias no tratamento padrão da tuberculose tem sido feitas, tornando-o mais eficaz e com menor duração. Novos medicamentos, como a bedaquilina e o delamanida, foram desenvolvidos especificamente para tratar formas resistentes da doença”, completa.

A OMS tem liderado esforços globais para combater a tuberculose, estabelecendo metas e diretrizes para ações em nível internacional. Além disso, parcerias com governos, organizações não governamentais e setor privado têm impulsionado as iniciativas de controle da doença. As estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento têm sido aprimoradas, e esforços contínuos são feitos para alcançar a meta global de eliminar a tuberculose como problema de saúde pública até 2030, conforme estabelecido pela OMS.
Segundo a OMS, a pandemia da COVID-19, reverteu progressos globais na redução da carga de TB.  Durante a pandemia ocorreu queda de 18% de notificações de novos casos no mundo e aumento no número de óbitos, e também aumento de 3% na carga de tuberculose resistente (TBDR). No Brasil particularmente ocorreu um aumento de casos e óbitos pela doença neste cenário pós-pandemia.  O Brasil teve recorde de mortes por tuberculose – 5 mil no total, maior número identificado nos últimos 10 anos. A última vez que o país registrou número de óbitos por TB superior a 5 mil foi em 2002.

O Hélio Fraga/ENSP/Fiocruz firmou um acordo de parceria com a Foundation for Innovative (FIND) para desenvolvimento de dois projetos internacionais focados na qualificação do diagnóstico da tuberculose até 2024, um deles trata-se do diagnóstico por meio de sequenciamento genético da amostra de escarro do paciente. Essa abordagem promissora tem o potencial de melhorar a precisão e a rapidez no diagnóstico da doença, permitindo tratamentos mais eficazes e reduzindo a transmissão da doença.

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