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ENSP/Fiocruz lamenta perda de Maria Careli, mãe de Jorge Careli

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Publicado em:01/06/2023

A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) lamenta o falecimento de Maria de Almeida Careli, mãe do servidor da Fiocruz Jorge Careli, desaparecido em 1993. Dona Maria, como era carinhosamente chamada, maior símbolo na luta para tentar encontrar o filho desaparecido, faleceu aos 95 anos, após acompanhar gerações da família e viver o luto do brutal e inexplicável ato de violência que tirou a vida de seu filho caçula, Jorge Careli, surrado e assassinado por policiais da Divisão Antissequestro (DAS) da Polícia Civil do Rio de Janeiro há 30 anos. O corpo de Jorge Careli jamais foi encontrado. Maria Careli faleceu na quarta-feira, 31 de maio, deixando, filhos, netos e bisnetos. O velório acontecerá nesta sexta-feira, 2 de junho, a partir das 8 horas, na capela 6 (RioPax), do Cemitério de Inhaúma. O sepultamento será às 11h30.


Em entrevista à Fiocruz, em 2006, em homenagem ao Dia das Mães, Maria lembrou que do terraço de sua casa sabia quando o filho saía do prédio da Fiocruz em que trabalhava, porque como zelador na ENSP ele era o último a sair e, portanto, apagava as luzes. Os problemas de saúde e a enorme tristeza da dor irreparável que significou o assassinato de Jorge não tiraram de Maria Careli a fibra, a vontade de viver e de estar com a família, lutando para saber o que aconteceu com o filho morto pelo aparelho policial.


Desde o desaparecimento de Jorge Careli, em 1993, os trabalhadores da Fiocruz se mobilizaram cobrando das autoridades a responsabilidade pelo desaparecimento do servidor da Fundação. Com a mobilização, o Sindicato dos Servidores da Fiocruz (Asfoc-SN) lançou a  campanha ‘Onde está Careli?’. Em 2012, a Justiça declarou a morte presumida de Jorge Careli e o documento equivalente à certidão de óbito foi entregue pela Asfoc-SN à mãe de Jorge, Maria de Almeida Careli. O assassinato de Jorge Careli por policiais da Divisão Antissequestro, também motivou o Sindicato a criar, em 2001, a Medalha Careli, premiação concedida a pessoas ou entidades que se destacam na defesa dos direitos humanos.

Homenagem da ENSP a Jorge Careli: Claves presta solidariedade à família 

O Centro Latino-Americano de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves), foi criado em 1988 pela ENSP e leva o nome de Careli, em homenagem ao exemplar funcionário da Escola, barbaramente assassinado pela polícia do Rio de Janeiro, confundido como criminoso, enquanto falava em um telefone público na favela de Varginha (Manguinhos), quando foi levado pela polícia e nunca mais foi visto. Em 2015 o Centro de Estudos tornou-se Departamento sobre Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli com a competência de investigar o impacto da violência sobre a saúde da população brasileira e latino-americana. 

Representando o Claves, a chefe do departamento e pesquisadora da ENSP, Kathie Njaine deixou uma mensagem de solidariedade à família. “O Departamento de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli deseja que a família encontre conforto neste momento de partida da mãe do nosso querido Jorge Careli. Os pais de Jorge Careli e todos de sua família representam a luta contra a violência que acomete os jovens que vivem nas comunidades pobres do Rio de Janeiro, mas, principalmente a luta por justiça, respeito e reconhecimento da dor das vítimas indiretas. Que dona Maria descanse em paz”. Kathie Njaine – chefe do Claves/ENSP/Fiocruz

Sobre o caso Careli

Em 1993, com o desaparecimento de Careli a imprensa começou a cobrir o caso e a Fiocruz mobilizou a sociedade para a busca. Os dias se passam e provas irrefutáveis apareceram. A polícia admitiu a possibilidade da participação da equipe da DAS - então chefiada pelo delegado Hélio Vígio. Numa Kombi da DAS foram descobertos restos de cabelo, vestígios de água e perfurações de bala. Após mais de dois anos de processo, houve uma sentença de absolvição injusta: o juiz Heraldo Saturnino de Oliveira, da 6ª Vara Criminal, concluiu que "não há dúvida de que Careli foi espancado e talvez morto por algum dos réus, mas não logrou a acusação demonstrar quem, entre os 23 acusados, assim agiu e muito menos conseguiu provar a adesão dos demais policiais à prática ilícita". Foram absolvidos 22 acusados e a punibilidade do acusado Armando Correia da Silva ficou extinta por causa de sua morte.

A Presidência da Fiocruz, a Asfoc e outras instituições de defesa dos direitos humanos denunciaram a absolvição à Anistia Internacional e à Comissão de Direitos Humanos da OEA e a promotoria entrou com recurso no Tribunal de Justiça. Em 25 de agosto de 1995, Lindalva dos Prazeres testemunhou ter visto Careli na "sala do pau" da DAS, na manhã de 11 de agosto de 1993. "Eu perguntei a ele, você é sequestrador? E o rapaz disse: não, eu trabalho na Fiocruz", contou Lindalva, em entrevista ao Jornal Nacional da TV Globo. O Ministério Público reabriu o caso, mas, meses depois, ao término da apuração, o juiz Heraldo Saturnino ratificou a sentença anterior.

Em 1999, com o governo do Estado do Rio de Janeiro reconhecendo sua responsabilidade, os pais de Careli, Antonio e Maria Careli, receberam cada um, uma indenização de R$ 22,5 mil por danos morais e pensão mensal de R$ 875 por danos materiais. O corpo de Careli nunca foi encontrado. Para saber mais sobre a família de Careli, clique aqui.

*Com informações da Asfoc-SN e Agência Fiocruz de Notícias.
*Créditos imagens: Asfoc-SN e Agência Fiocruz de Notícas. 

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