ENSP participa de manual para acesso universal a testes rápidos de tuberculose lançado pela OMS
A Organização Mundial da Saúde publicou o primeiro manual que busca universalizar o acesso a testes rápidos de tuberculose. Lançado em abril, o documento teve a participação de dois pesquisadores do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, ligado à Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). Os principais objetivos do manual são aumentar a confirmação laboratorial dos casos, a detecção de resistência aos medicamentos e reduzir o tempo do diagnóstico, o que adianta o início do tratamento. De acordo com a OMS, os diagnósticos rápidos recomendados são altamente precisos e econômicos.
A elaboração do manual levou mais de um ano e mobilizou, dentre outros, o Grupo Técnico Consultivo em Diagnóstico de Tuberculose e Fortalecimento Laboratorial da OMS e representantes dos laboratórios de referência de tuberculose de diversos países com alta carga da doença, como o Brasil. Entre os brasileiros, estavam o chefe do serviço de ensino e pesquisa do Hélio Fraga, Paulo Redner, e a chefe do Laboratório de Referência Nacional em Tuberculose, Karen Gomes. Eles participaram de reuniões nas quais foram compartilhadas as experiências dos países relacionadas à expansão da utilização dos testes rápidos, como práticas bem sucedidas, dificuldades enfrentadas e ações que facilitaram a implementação.
“O documento contém indicadores para auxiliar no monitoramento do acesso e no uso de testes de diagnóstico rápido recomendados pela OMS, além de um mapeamento de facilitadores, barreiras, abordagens e soluções para aumentar o uso desses testes. O documento também contém considerações específicas para investimento na ampliação do diagnóstico de tuberculose a partir de dois estudos de caso de países que implementaram estes testes”, explica Redner.
Sobre a importância do estímulo ao uso dos testes rápidos, os pesquisadores explicaram que a bactéria que causa a tuberculose, Mycobacterium tuberculosis, tem crescimento lento e leva em média 30 dias para ser detectada em meio sólido. “Esta característica impacta diretamente no tempo de diagnóstico que, até um tempo atrás, era totalmente realizado com técnicas baseadas no cultivo bacteriano”, detalhou Karen. A especialista disse que, mais recentemente, foi possível acelerar o diagnóstico com técnicas de biologia molecular aplicadas diretamente nas amostras clínicas, o que agiliza o início do tratamento e melhora as possibilidades dos pacientes. “Na minha visão, esse manual entra como mais uma importante ferramenta no combate à tuberculose”, resumiu a pesquisadora.
Há otimismo, mas também muitos desafios para que o acesso aos testes se torne universal. A meta da OMS prevê que em 2025 todos os pacientes notificados com tuberculose tenham realizado teste rápido em seu diagnóstico inicial. Mas, em 2021 atingimos apenas 38% dos registros. “Transformar as orientações em realidade não é algo muito simples, necessitamos da dedicação de todas as instâncias envolvidas. Acho que precisaremos de mais empenho, trabalho e, principalmente, investimento nesse sentido”, pondera Karen. Na mesma linha, Redner afirma que “a universalização depende do comprometimento dos países e de investimento não só na ampla utilização das ferramentas de diagnóstico rápido existentes, mas também no desenvolvimento de novas metodologias cada vez mais robustas e que possam ser utilizadas de forma descentralizada”.
A chefe do Laboratório de Referência Nacional em Tuberculose destacou que o Brasil já vem avançando no sentido de ampliação do uso de testes rápidos para o diagnóstico da tuberculose. “Em 2014 tivemos a implantação do Teste rápido molecular (TRM-TB), inclusive com a formação de uma rede nacional que hoje é constituída por 292 equipamentos distribuídos pelo país. O TRM-TB faz o diagnóstico de tuberculose direto da amostra clínica em menos de 80 minutos. Além disso, avalia a resistência a rifampicina, importante fármaco utilizado no tratamento da doença”, explicou a pesquisadora Karen Gomes. Ela lembra que, no final de 2022, o Ministério da Saúde passou a distribuir os testes conhecidos como LPA (ensaio de hibridização em linha). “Com a utilização do LPA podemos ter o diagnóstico da TB com o perfil de resistência aos principais fármacos utilizados em seu tratamento em três dias, o que antes levaria entre dois e três meses”.
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