Pesquisa vai revelar dados sobre Covid longa no Rio de Janeiro
Por Danielle Monteiro
Primeiras impressões apontam vacina como aliada e invisibilidade da doença nos serviços de saúde
A Covid longa emergiu no mundo como mais uma consequência relevante da pandemia de Covid-19. A doença é caracterizada por sintomas persistentes ou novos, após o quadro agudo da Covid-19, que podem ser debilitantes e duradouros. O diagnóstico da Covid longa é impreciso, dependendo de investigação e exclusão de outras possíveis causas para os sintomas observados. Também conhecida como síndrome pós-Covid, a Covid longa atinge pelo menos 10% das pessoas que tiveram Covid-19, seja com quadros graves, mais leves, ou, até mesmo, assintomáticos. Estima-se que a doença afete centenas de milhares de brasileiros. No entanto, ela não tem recebido a devida atenção de formuladores de políticas públicas e da área da Saúde. Diante dessa realidade e com o intuito de mudar o atual cenário, a ENSP, a Escola de Saúde Pública de Harvard e a Escola de Ciências Políticas e Econômicas de Londres uniram esforços para desenvolver um estudo que vai revelar as necessidades, barreiras e oportunidades no cuidado à Covid longa na cidade do Rio de Janeiro.
Uma das primeiras a abordar as necessidades de saúde relacionadas à síndrome pós-Covid no Brasil, a pesquisa Cuidado de saúde à Covid longa pretende conscientizar sobre os impactos da doença na saúde e na vida de brasileiros, além de prover recomendações para que o SUS ofereça cuidados de alta qualidade a indivíduos convivendo com essa condição. A ideia é construir uma base de evidências para um cuidado de saúde à síndrome pós-Covid efetivo e centrado no paciente, assim como auxiliar o sistema de saúde pública a oferecer respostas à doença. O estudo conta com recursos do Programa de Fomento ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico da ENSP e do Fundo de Pesquisa Lemann Brasil da Universidade de Harvard (Harvard University Lemann Brazil Research Fund).
“Mundialmente há muito o que se compreender sobre a Covid longa. Até o momento, já tivemos mais de 37 milhões de casos de Covid-19 no Brasil. Isso nos sugere a magnitude do problema no país. Por isso, é importante entender como essa condição está afetando a saúde e a vida dessas pessoas e como o SUS pode melhor atender as suas necessidades de cuidados de saúde”, afirma a coordenadora do estudo no Brasil e pesquisadora do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde (DAPS/ENSP), Margareth Portela.
O que se espera
O estudo vai revelar os sintomas mais frequentes da Covid longa, a prevalência dos sintomas entre pessoas que foram hospitalizadas por Covid-19 em momentos diferentes após a alta hospitalar, os efeitos da doença na qualidade de vida, entre outros dados importantes relacionados à doença.
A pesquisa envolve entrevistas com gestores e profissionais de saúde do SUS, além de pacientes hospitalizados por Covid-19 em 16 hospitais da cidade do Rio de Janeiro entre 2021 e 2022 e pessoas que têm Covid longa, independentemente de terem sido hospitalizadas ou não. Serão entrevistados aproximadamente 650 indivíduos.
”O estudo está interessado, principalmente, em captar necessidades, barreiras de acesso e o uso de serviços de saúde por pessoas convivendo com a Covid longa. Em última análise, a perspectiva é produzir evidências para a organização de cuidados para essas pessoas, que, grandemente, esbarram em problemas crônicos da rede de serviços de saúde no que concerne à necessidade de fortalecimento da atenção primária, de forma que ela seja mais resolutiva, e à oferta de serviços especializados quando necessários”, explica Margareth. A previsão é de que alguns dados parciais sejam divulgados a partir de julho. Os resultados finais estão previstos para o próximo ano. “A equipe da pesquisa planeja publicar os achados em artigos científicos, mas também tem se empenhado na produção de vídeos, folhetos informativos e outros materiais para profissionais de saúde e o público em geral”, adianta Margareth.
Primeiras impressões
Segundo Margareth, os relatos dos entrevistados até o momento já indicam uma forte invisibilidade da Covid longa nos serviços de saúde. Isso porque os sintomas são imprecisos, além de haver poucas informações sobre a doença e dificuldades no diagnóstico derivadas da escassez de conhecimento somada a possíveis associações a outras enfermidades. Outro fator agravante é a sobrecarga de trabalho dos profissionais de saúde, intensificada pela demanda de cuidado/acompanhamento não atendida no período da pandemia. “Além disso, estamos lidando com uma população com muitas vulnerabilidades. Nesse contexto, o agravamento de um sintoma pode parecer apenas um detalhe sem maior importância”, explica a coordenadora do estudo no Brasil.
Impressões derivadas das respostas até agora obtidas também sugerem que a vacina é uma grande aliada no enfrentamento da síndrome pós-Covid, conforme afirma Margareth: “Como obtivemos dados de quem estava e não estava vacinado no episódio de Covid-19 que levou à hospitalização, temos o sentimento de que pacientes que já estavam devidamente vacinados apresentaram menor risco para a ocorrência de Covid longa. Mas, por ora, são impressões. Precisamos avançar no estudo e processar os dados para apreciações mais definitivas”.
Cansaço, problemas de memória, alteração no padrão de sono, dores nas juntas, ansiedade e depressão são alguns dos sintomas que têm sido relatados pelos entrevistados. Segundo Margareth, os relatos também sugerem que os efeitos da Covid longa vão muito além das limitações físicas, repercutindo também na vida financeira e laboral dos pacientes, que sofrem com a redução na renda e abalos emocionais por ela provocados.
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