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Atendimento a grupos vulnerabilizados é pauta do segundo dia da Jornada Acadêmica LSQP da ENSP

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Publicado em:15/03/2023
Por Barbara Souza

Nada de palestrantes sentados à mesa. Foi num ambiente de “sala de estar”, com poltronas próximas à audiência atenta e participativa, que quatro convidados abriram o segundo dia de atividades da 1ª Jornada Acadêmica do Lato Sensu e Ensino Profissional da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz). Esta etapa do evento foi realizada na quinta-feira (9/3). Com a mediação do coordenador de LSQP, Gideon Borges, o painel ‘Desafios no atendimento a grupos vulnerabilizados na atenção básica e o papel da formação em saúde’ teve a participação da médica de família e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Rita Borret, da professora da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) Verônica Gronau Luz, da pesquisadora da ENSP Laís Silveira Costa e do articulador do Consultório na Rua de Manguinhos, Daniel de Souza. 

Daniel de Souza, Laís Silveira Costa, Rita Borret e Gideon Borges. Fotos: Virgínia Damas (ENSP/Fiocruz)

A primeira apresentação foi de Rita Borret, que abordou o tema da saúde da pessoa negra. De acordo com ela, o maior desafio ao atendimento a essa população negra na atenção básica é “a agente reconhecer que é racista, saber que na forma como a gente vai produzir cuidado em saúde, a gente vai ser racista”. Borret comentou ainda que princípios do SUS são feridos por pensamentos como o mito da democracia racial no Brasil. “Quando a gente acha que tratando todo mundo igual se garante democraticamente a igualdade, a gente está rasgando qualquer noção de equidade. E se a gente coloca na a racialização na centralidade do debate, aí sim está levando a sério a integralidade. Como a gente vai discutir qualquer dinâmica de vida sem racializar? Isso significaria dizer que o racismo não afeta a vida das pessoas”, explicou a preceptora e médica de família e comunidade.

Rita Borret mostrou reportagens, charges e exemplos de casos reais que ilustram como o racismo atravessa o processo de adoecimento das pessoas negras. Dados apresentados pela médica revelam que os índices de mortalidade materna são maiores entre mulheres negras, assim como como a maioria das pessoas com tuberculose ou mortos em decorrência de HIV/Aids também são negros. “81% das pessoas assassinadas por serem transexuais no Brasil são negras. A experiência de ser uma pessoa trans branca ou negra é igual no Brasil? A gente sabe que não. Por isso, o cuidado não pode ser igual”, destacou. A apresentação dela teve ainda reflexões sobre como combater o racismo nas formações em saúde. 

Em seguida, Verônica Gronau Luz fez apresentação, de forma remota, sobre a saúde da pessoa indígena. Após expor, com auxílio de mapas e dados do Censo Demográfico, a distribuição e o tamanho da população indígena no país, a professora explicou a estrutura do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, criado em 1999, nove anos após o SUS. A pesquisadora relatou situações da experiência nessa área da saúde indígena no Mato Grosso do Sul e listou uma série de desafios a serem encarados para obter melhorias. Compreender a realidade/história de cada local, de cada povo; o Dialogar COM a comunidade; falta de terra/território (caso do estado do MS), enfrentar o racismo estrutural; formação em saúde na APS e hospitais; compreender os determinantes sociais em saúde; conhecer as iniquidades em saúde; e fazer saúde com, e não para os indígenas. 

“Pontuo aqui a importância da formação em saúde para atendimento aos povos indígenas e o rompimento desse racismo. A gente tem que desconstruir os nossos saberes para reconstruir junto. Isso é fundamental para fazermos uma saúde com eles, compreendendo a realidade deles e sabendo que os saberes deles são tão importantes quanto a biomedicia”, afirmou a professora Verônica Gronau Luz.

Convidada para falar sobre a saúde da pessoa com deficiência, a pesquisadora da ENSP Laís Silveira Costa iniciou sua fala destacando que essas pessoas compõem um grupo bastante heterogêneo. “A depender do tipo de deficiência, as barreiras se apresentam de forma mais ou menos intransponíveis”, afirmou. A pesquisadora ressaltou que o atendimento à PCD deve ser feito de acordo com suas necessidades e com respeito aos mesmos direitos que devem ser garantidos a qualquer pessoa. “Como a gente tem um sistema universal se não convive com toda a diversidade humana? A desumanização da pessoa com deficiência tem levado a discursos eugenistas que todos reproduzem sem perceber”, argumentou Laís Silveira Costa, que aproveitou a oportunidade e o tema do painel, que perpassou toda a jornada acadêmica, para questionar o atendimento da APS às PCDs. “A Atenção Primária em Saúde acha que o lugar da pessoa com deficiência não é lá”, criticou. 

Para encerrar a manhã de apresentações sobre a atenção à saúde de populações vulnerabilizadas, Daniel de Souza, formado em Arte Cênica e articulador do Consultório na Rua em Manguinhos, relatou situações recorrentes no atendimento a esse grupo em específico. Ele destacou as dificuldades que a invisibilidade dessas pessoas impôs durante os momentos mais agudos da pandemia de Covid-19. “Fique em casa! Que casa? Ninguém solta a mão de ninguém! Mas nas mãos deles ninguém nunca segurou!”, disse Daniel. Durante sua apresentação, ele deixou claro que “o ideal seria que não houvesse consultório na rua, mas sim acesso ao serviço de saúde para toda essa população”.
À tarde, a jornada teve dois momentos: o primeiro foi o momento dedicado às Práticas Integrativas e Complementares (PICS), com oficina de Auriculoterapia, realizada por Inês Reis e Zélia Andrade, de Reiki e Meditação, com Camilla Teixeira e Letícia Gomes, e de Aromaterapia, com Mirna Teixeira. Em seguida, as salas continuaram cheias para as exposições e debates de trabalhos de alunos e egressos. As apresentações foram divididas nos seguintes temas: Educação e Saúde, Formas de Violência e Saúde, Cuidado em Saúde e Informação, Comunicação, Gestão em Saúde. 

Saiba como foi o primeiro dia da 1ª Jornada Acadêmica do Lato Sensu e Ensino Profissional da ENSP aqui.

Assista ao segundo painel da Jornada Acadêmica LSQP:




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