Abrascão 2022: Manejo menstrual entre migrantes venezuelanas foi tema de comunicação coordenada
A pobreza menstrual é caracterizada pela falta de recursos para higiene, manejo da menstruação e infraestrutura adequada, com privacidade, água, sabão e produtos para utilização durante o período menstrual como principais recursos. Nos últimos anos, o Brasil e países vizinhos da América Latina receberam uma crescente migração de venezuelanos devido à crise que assolou seu país de origem. Nessa população, de que formas essas mulheres migrantes lidam com a menstruação - o manejo menstrual - ainda é um tema pouco estudado.
No dia 23 de novembro, no âmbito do 13o Congresso de Saúde Coletiva - Abrascão 2022, foi apresentada a Comunicação Cooordenada intitulada “Manejo menstrual de migrantes venezuelanas no Brasil”, pelas pesquisadoras da ENSP Thaiza Dutra Gomes de Carvalho, Yammê Ramos Portella Santos, e Maria do Carmo Leal, além de Paula Andrea Morelli Fonseca, da Fiocruz Amazônia. A pesquisa que embasa a apresentação teve como objetivo conhecer o manejo menstrual das mulheres migrantes venezuelanas durante o percurso migratório e no Brasil.
Foram utilizados os dados da pesquisa ReGHID - Necessidades e desafios relativos à saúde sexual e reprodutiva de mulheres migrantes, que entrevistou 2012 mulheres venezuelanas em idade reprodutiva que migraram para o Brasil entre os anos de 2018 e 2020. Observou-se que as migrantes venezuelanas possuem acesso a produtos para higiene menstrual, muito embora não sejam fornecidos pelo Sistema Único de Saúde. A falta de infraestrutura e acesso a produtos de higiene foi frequente durante o trajeto migratório. Esse é um tema pouco explorado, principalmente na população migrante e requer atenção. “O manejo menstrual um tema que faz parte da saúde sexual e reprodutiva e tem ganhado relevância. O manejo menstrual adequado é um objetivo em saúde pública, e tem impactos na qualidade de vida e de relações sociais. A falta dele traz consequências como o aumento do risco de infecções e, em alguns países, está relacionado com a evasão escolar”, explicou Thaiza Carvalho.
Ela esteve em Manaus e Boa Vista e treinou profissionais, como parte de seu pós-doutorado, para realizar as entrevistas com mulheres migrantes, a maioria das quais vivia em abrigos. A pesquisadora conta que a fronteira terrestre do Brasil com a Venezuela recebeu cerca de 700 mil pessoas entre 2016 e 2022, e esse grande aporte de migrantes teve grande impacto nas cidades fronteiriças e nas capitais brasileiras mais próximas. “Muitas dessas mulheres tinham empregos largaram toda uma vida por causa da fome. Depois da fome, o segundo motivo declarado para a migração é o acesso a serviços de saúde”, contou Thaiza.
Entre as migrantes venezuelanas, 91,7% afirmaram ter acesso a produtos de higiene para menstruação e o mais utilizado é o absorvente descartável (70,8%). Com relação ao acesso aos produtos, 41,2% delas afirmaram ter comprado, 34,6% receberam doação, 9,2% conseguiram através de Organizações Não Governamentais (ONG) e 9,0% através de serviços de saúde pública. Dentre as entrevistadas, 97,3% estavam satisfeitas com o produto utilizado. Durante o percurso migratório, 21,9% ficaram menstruadas. Com relação ao manejo menstrual no percurso: 69,1% teve acesso à água potável; 71,9% à sabão e outros; 63,0% à privacidade para higiene; 67,6% relataram ter tido dor e 11,7% dificuldade em atividades específicas.
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