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Baixas coberturas vacinais expõem população brasileira a doenças

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Publicado em:29/06/2022

“A população brasileira acredita nas vacinas, porém, do ponto de vista da cobertura vacinal isso não se reflete. É preciso envolver toda a sociedade no processo de vacinação para alcançarmos boas coberturas vacinais como sempre tivemos”, destacou Francieli Fantinato, representante do Ministério da Saúde, durante o Centro de Estudos da ENSP que discutiu o Programa Nacional de Imunização (PNI), as baixas coberturas vacinais e o risco de reintrodução de doenças já erradicadas. O vídeo está disponível, na íntegra, no canal da ENSP no Youtube.


O Ceensp contou ainda com a participação da representante da Opas/OMS, Lely Guzmán; da pesquisadora de Bio-manguinhos/Fiocruz, Maria de Lourdes de Sousa Maia; e do pesquisador do Departamento de Epidemiologia da ENSP, Fernando Verani. O pesquisador da ENSP, Luiz Antonio Bastos Camacho, foi o coordenador do debate. De acordo com Camacho, o PNI, estabelecido em 1973, é reconhecido em todo o mundo como um dos mais completos e bem-sucedidos programas de prevenção, controle e erradicação de doenças imunopreveníveis. As altas coberturas alcançadas e sustentadas de modo homogêneo ao longo de décadas possibilitou a eliminação e controle de doenças como o tétano neonatal, sarampo, rubéola e poliomielite. 

A partir de 2016, segundo o pesquisador, as coberturas vacinais apresentaram tendência constante de declínio, além de heterogêneas, criando bolsões de suscetíveis em todas as regiões do país. “A reintrodução do vírus do sarampo, em 2018, e seu espalhamento por diversos estados, evidencia a vulnerabilidade da população em relação a doenças controladas e erradicadas. As baixas coberturas vacinais favorecem a transmissão continuada de agentes patógenos já erradicados, como o polivírus e o vírus do sarampo”, advertiu. 

Vacinas para o desenvolvimento sustentável

Representando a Organização Panamericana de Saúde (Opas), Lely Guzmán, citou os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030, entre eles o objetivo 3, que busca assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades, e a meta 3.8, que aponta para a cobertura universal de saúde, incluindo acesso a medicamentos e vacinas essenciais, seguros, eficazes e de qualidade. Segundo Guzmán, na Agenda de Imunização 2030 a prioridade nas estratégias é reduzir a mortalidade e a morbilidade das doenças previníveis por vacinas, em toda a população ao longo da vida, não deixando ninguém para trás, aumentando o acesso equitativo às novas vacinas e as existentes em uso. 

“Garantir a saúde e bem-estar para todos, com o objetivo de fortalecer a vacinação na Atenção Primária à Saúde e contribuir com o alcance da cobertura universal em saúde e no desenvolvimento sustentável, é a nossa prioridade”, ressaltou.  Ela citou também, algumas conquistas na erradicação da Poliomielite em diversos países e a cobertura vacinal da pólio nas américas segundo a OMS, entre 2010 e 2020. Atualmente a OMS se dedica a uma iniciativa global para erradicar a Poliomielite, como foco na interrupção permanente da transmissão de todos os poliovírus nos países endêmicos e de prevenir surtos nesses países.

Além da Poliomielite, Guzmán apresentou a situação do sarampo e da rubéola nas américas, as taxas de incidência e cobertura vacinal, além de outras coberturas de vacinação em nível mundial. Por fim, a representante da Opas falou sobre as orientações para a planejamento e a implementação de ações que recuperam a alta cobertura vacinal e evitem a reemergência de doenças imunopreviníveis em todo o mundo. 

O Programa Nacional de Imunização

A representante do Ministério da Saúde, Francieli Fantinato, abordou em sua apresentação o PNI, o calendário nacional de vacinação, as coberturas vacinais, sarampo e poliomielite, algumas ações e desafios do programa de vacinação, além do Inquérito de cobertura vacinal. Sobre o impacto da vacinação no perfil das doenças imunopreviníveis, Fantinato citou doenças eliminadas ou em processo de eliminação, entre elas, poliomielite, rubéola, tétano neonatal e sarampo. Em tendência de redução estão: tétano acidental, difteria, meningites, e doenças diarreicas por rotavírus. Além da coqueluche, que atualmente possui níveis de transmissão controlada. 

O cenário da poliomielite no Brasil também foi exposto. Segundo Francieli, em 1961 iniciaram-se as ações de combate a pólio com a vacinação de forma não sistematizada. Em 1980 foi realizada a primeira Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite. Em 1989 foi encontrado o último poliovírus selvagem no Brasil. Em 1991, a Região das Américas registrou o último caso de poliomielite. E em 1994, a Região foi certificada como área livre de circulação do poliovírus selvagem. “A descoberta da vacina contra a poliomielite, na metade da década de 1950, mudou o mundo para sempre. Quando a vacinação iniciou, rapidamente começou uma queda na doença. Assim, em 1985, todos os países da Região se comprometeram com a erradicação da poliomielite. Em 1988, o restante do mundo se juntou a essa grande empreitada”, explicou ela.

Após falar sobre todo o cenário da poliomielite no país, a representante do MS apresentou, também o cenário do sarampo no Brasil. Em seguida, destacou que o PNI possui 48 anos de sucessos e desafios. “Tivemos muitas mudanças ao longo dos últimos anos. O objeto da atenção evoluiu da criança ao idoso. O objetivo da vacinação evoluiu do controle à eliminação de doenças e seus impactos. As coberturas vacinais de rotina na criança, por exemplo, tiveram ascensão, estabilidade em níveis elevados e queda. A homogeneidade de cobertura vacinal de crianças e adesão a vacinação, principalmente por adolescentes e adultos, é um desafio a ser superado. Estamos enfrentando um recrudescimento de doenças já eliminadas que refletem o acúmulo de suscetíveis ao longo dos anos. Isso gera riscos reais de reintrodução de outras doenças. Lamentavelmente, campanhas de vacinação exitosas no passado, em anos recentes registram baixa adesão. A corrida pela vacina parece ter relação com a situação epidemiológica da doença”, advertiu.

Por fim, Francieli Fantinato apresentou alguns resultados do inquérito de cobertura vacinal de crianças nascidas entre 2017 e 2018, nas 27 capitais e 12 municípios com mais de 180 mil habitantes. O objetivo geral do inquérito foi estimar a cobertura do esquema completo previsto no calendário do PNI aplicadas até os 24 meses. Além disso, estimar, também, as coberturas vacinais por tipos de vacina, segundo unidades da federação, municípios do interior e regiões geográficas; comparar as doses aplicadas com os dados do Sistema de Informação do PNI; avaliar a concordância dos registros entre as cadernetas e os dados digitados no SI-PNI; estimar a proporção de crianças que utilizam serviços privados para imunização; avaliar o acesso aos serviços de saúde; analisar as coberturas vacinas, esquema completo, segundo condições de vida predominantes nas áreas ou estratos correspondentes e dados socioeconômicos das famílias; além de identificar a hesitação vacinal e os motivos para não vacinação.

Pela reconquista das altas coberturas vacinais

A pesquisadora de Bio-manguinhos/Fiocruz, Maria de Lourdes de Sousa Maia, apresentou o projeto #vacinarparanãovoltar, uma demanda do Ministério da Saúde para a Fiocruz. O objetivo do projeto é apoiar o PNI com ações pela reconquista das altas coberturas vacinais em queda desde 2013, e agravadas pela pandemia da covid-19. “É fundamental sensibilizar a população e criar uma grande rede de solidariedade, envolvendo instituições, organizações sociais, associações comunitárias e poder público pela reconquista das altas coberturas vacinais”, destacou Lourdes. O projeto, segundo a pesquisadora, é dividido em três eixos temáticos: vacinação (vacinas e vacinações); sistemas de informação (garantia da qualidade dos dados); e comunicação e educação (mobilização e controle social).

O projeto está dividido em três fases. A primeira compreende a elaboração de planos de ação e foi realizada entre setembro de 2021 e março de 2022. Contemplou 16 municípios do Amapá e 25 da Paraíba, com diagnóstico situacional participativo e elaboração das ações do Eixo 1 dos Planos Municipais de Ação (PRCV) com indicadores de monitoramento. A fase 2 é de acompanhamento da execução dos planos de ação no AP E PB, e está sendo realizada de junho de 2022 a junho de 2023.  

“Nesta fase fizemos a elaboração das ações dos eixos 2 e 3 dos Planos Municipais de Ação (PRCV); execução dos Planos (AP e PB); acompanhamento do projeto e das metas de construção de redes solidárias e de políticas públicas para implementação e financiamento das ações; campanha de comunicação (12 meses); formalização de parcerias; hotsite do PRCV e Portal #vacinarparanãovoltar, além de ações estruturantes de comunicação e educação. A terceira e última fase pretende que a metodologia seja disseminada em todo o país e a previsão de conclusão é em 2025”, detalhou ela.

Erradicação da poliomielite: situação atual e desafios

Encerrando o Ceensp, o pesquisador do Departamento de Epidemiologia da ENSP, Fernando Verani falou sobre a situação atual e os desafios da erradicação da poliomielite. Verani iniciou sua apresentação falando sobre as vacinas anti-polio. “A demonstração da citopatogenia viral em 1949, possibilitou o desenvolvimento de vacinas seguras e efetivas contra a poliomielite. Com o licenciamento e produção em escala da vacina de vírus vivos atenuados Sabin (VOP-Vacina Oral da Polio), contemplando os 3 tipos de vírus (tipo 1, tipo 2 e tipo 3) e da vacina de vírus inativado Salk (VIP- Vacina Inativada da Polio), também trivalente, inicia-se nos anos 1950 a era de controle da poliomielite paralitica”, explicou.

De acordo com Verani, entre as estratégias de erradicação do Vírus Selvagem da Polio (WPV), foram implementados os Dias Nacionais de Vacinação (DNV), instituídos no Brasil em 1980, consistindo na vacinação massiva e simultânea de menores de 5 anos, com a VOP trivalente, em todo o país, 2 vezes ao ano, com intervalo de 2 meses. “Isso gerou impacto sobre a circulação viral, com redução de 90% (de 1210 casos em 1980 para 120 casos em 1981)”. Ainda de acordo com ele, o último caso no Brasil foi em 1989 e nas Américas em 1991. A certificação da erradicação do Vírus Selvagem da Polio veio em 1994.

Sobre os desafios atuais, o pesquisador citou as baixas coberturas vacinais combinadas com baixo desempenho da vigilância. “Isso torna real o risco de reintrodução do poliovírus selvagem (WPV) ou derivado da vacina (cVDPV)”, alertou. Por fim, Verani falou sobre a situação atual da erradicação da poliomielite segundo o Relatório da Assembleia Mundial de Saúde de maio de 2022. "Comparando com 2020, a situação epidemiológica melhorou em 2021 - redução de 96% dos casos associados a WPV1 e 47% de casos associados ao cVDPV. Nos países endêmicos (Paquistão e Afganistão) foram notificados 5 casos de WPV1”, concluiu ele.




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