Busca do site
menu

Texto expõe realidade dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde na pandemia

ícone facebook
Publicado em:02/05/2022
Especialista em gestão do trabalho em Saúde e coordenadora das pesquisas que analisam as condições de trabalho e saúde dos trabalhadores que atuam na linha de frente da pandemia de Covid-19, Maria Helena Machado, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), escreveu artigo, em parceria com o jornalista Filipe Leonel, da Coordenação de Comunicação Institucional, sobre o Dia do Trabalhador e da Trabalhadora, celebrado em 1º de Maio. No texto, eles destaca a atuação do contingente formado por mais de 4 milhões de trabalhadores e detalham, com base nos resultados das pesquisas, a situação de esgotamento físico e mental dessas pessoas.

Salve nossas Trabalhadoras e Trabalhadores da Saúde

Maria Helena Machado e Filipe Leonel

O Brasil tem dois patrimônios no âmbito da saúde: o SUS e os mais de 4 milhões de trabalhadores e trabalhadoras de Saúde que nele atuam, em todos os municípios brasileiros, levando atenção, proteção, assistência e cuidado à população, sobretudo em tempos de pandemia. Ser trabalhador(a) da saúde exige uma vocação especial. E a crise sanitária imposta pelo coronavírus nos permite reafirmar essa premissa: Trabalhador(a) de Saúde é um Bem Público.

É importante realçar o papel central que os trabalhadores(as) desempenham na linha de frente da Covid-19. Desse modo, a Fiocruz, ciente e preocupada com o grave cenário de pandemia e pós-pandemia envolvendo esse contingente, buscou conhecer e analisar as Condições de Vida, Trabalho e Saúde Mental dessa Força de Trabalho. A atuação da instituição aconteceu por meio da realização das pesquisas “Condições de Trabalho dos profissionais de saúde no contexto da Covid-19 no Brasil”; “Os trabalhadores invisíveis da Saúde: condições de trabalho e saúde mental no contexto da Covid-19 no Brasil” e “Os Trabalhadores da Saúde Indígena: Condições de Trabalho e Saúde Mental no Contexto da Covid-19 no Brasil”. Os estudos, conduzidos institucionalmente pela parceria entre a Ensp e o CEE, formam uma tríade que contempla todo o universo dos trabalhadores que atuam na pandemia e revelam esgotamento, alteração significativa na vida pessoal e profissional, falta de reconhecimento, preconceito, desgaste profissional relacionado ao estresse psicológico, violência e falta de apoio da própria chefia.

Um desses estudos conduziu um olhar inédito para o que denominamos "Trabalhadores Invisíveis da Saúde", ou seja, aqueles com formação técnica/auxiliar, que atuam no apoio e na assistência, como maqueiros, condutores de ambulância, pessoal da manutenção, de apoio operacional, equipe da limpeza, da cozinha, da administração e gestão dos estabelecimentos, técnicos e auxiliares de enfermagem, de saúde bucal, de radiologia, de laboratório e análises clínicas, agentes comunitários de saúde, agentes de combate às endemias e os sepultadores.

Esses mais de 2 milhões de trabalhadores e trabalhadoras "invisíveis" quase sempre estão subordinados a algum profissional da equipe técnica de nível superior. Eles atuam nos diversos setores da saúde – quase sempre de forma silenciosa – e são invisibilizados pela gestão, pela chefia imediata, pela equipe de saúde em geral e até mesmo pela população usuária que busca atendimento e assistência. 

Os dados das pesquisas apontam para um cenário de incertezas e preocupações, principalmente em função do volumoso contingente de pessoas com trabalho precário, das condições desfavoráveis e dos salários insuficientes para se manterem. Tal situação os leva a recorrer ao multiemprego, elevando, assim, a sua jornada de trabalho semanal. Essa situação, por sua vez, provoca estresse, cansaço e desgaste profissional.

Falamos de um conjunto de trabalhadores que não consegue sobreviver com salários baixos e necessita complementar sua renda com bicos em outras áreas de atuação, tornando-se motoboy, motorista de aplicativo de transporte, babá, diarista, manicure, vendedores ambulantes. Essa condição, portanto, nos permite afirmar que, no mundo do trabalho dos trabalhadores e trabalhadoras invisíveis da saúde, há um submundo relacionado ao modo como buscam complementar sua renda mensal para sobreviver diante dos salários que recebem. É um mundo desigual e socialmente inaceitável.

O contexto pandemia deixou uma herança deletéria de um elevado contingente de trabalhadores e trabalhadoras que foi a óbito pela Covid19 em todo país, bem como de uma legião de trabalhadores contaminados e com sequelas ainda pouco elucidadas pelos estudiosos. Essa situação desperta para um cenário de grande preocupação e alerta para sinais de esgotamento físico e mental desses trabalhadores(as) como, por exemplo, perturbação do sono, cansaço extremo, incapacidade de relaxar, dificuldade de concentração, tristeza, apatia, perda de confiança em si, na equipe e no trabalho realizado. Também são acometidos pelo medo de perder um familiar, de se contaminar, de morrer e de perder o seu emprego. Concluimos, assim, que a insegurança e medo predominam de forma constante no ambiente de trabalho na saúde.

Triste constatar que a pesquisa sobre os Trabalhadores da Saúde Indígena, cujos dados ainda estão em coleta no campo, também apontarão sérios problemas neste contingente de 16 mil trabalhadores, que atuam em áreas de muito difícil acesso, sob condições de trabalho extremas e passam horas ou dias dentro de embarcações para fazer a saúde acontecer dentro dos territórios indígenas. 

Portanto, a gestão do trabalho na saúde e no pós-pandemia traz uma série de dúvidas, dificuldades e desafios a serem enfrentados. Exige participação ativa do movimento sindical, por meio de negociações com a gestão pública e privada, na busca da construção de uma agenda positiva que englobe garantias sociais e trabalhistas para esses mais de 4 milhões de trabalhadores e trabalhadoras da saúde.

Esperamos que esses estudos inéditos da Fiocruz sobre as condições de trabalho e saúde mental possam traçar um diagnóstico dessa realidade e contribuir para a elaboração de propostas e ações propositivas para a melhoria desse cenário desolador que vivemos nesse momento, principalmente em um ano de eleições.

Foto: Prefeitura de Campina Grande



Nenhum comentário para: Texto expõe realidade dos trabalhadores e trabalhadoras da saúde na pandemia