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Ceensp debate desigualdades de gênero nas instituições e no meio acadêmico

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Publicado em:23/02/2022
Por: Danielle Monteiro

Com o tema Desigualdades de Gênero: desafios e caminhos para a construção de uma ciência emancipatória, o Centro de Estudos Miguel Murat da ENSP (Ceensp), realizado em 16 de fevereiro como parte da agenda comemorativa do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência – promovida pela Fiocruz – , trouxe o debate sobre as iniquidades de gênero nas instituições e no meio acadêmico.

Ao abrir o evento, a vice-diretora de Pesquisa e Inovação (VDPI/ENSP), Luciana Lima, destacou a importância da discussão sobre questões de gênero na ciência, nas instituições e na sociedade, assim como a importância de se pensar, em conjunto, estratégias para o enfrentamento de tais desigualdades.

A pesquisadora do Departamento de Endemias Samuel Pessoa (Densp/ENSP) Jussara Angelo explicou que a constituição da mesa teve três objetivos: sensibilizar as trabalhadoras e os trabalhadores da Fiocruz para as desigualdades no meio acadêmico, resultantes de um modo de produção que coloca as mulheres em situação de vulnerabilidade e subalternidade; fomentar a discussão sobre o tema, a fim de fortalecer o movimento de mulheres na Fiocruz; e trazer uma reflexão sobre como são ocupados os espaços na fundação.

Mediadora do encontro, Vanessa Figueiredo, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da ENSP, ressaltou que a discussão do tema é muito importante, principalmente em um ano de pandemia, momento no qual a discussão da ciência está em destaque: “Perceber a desigualdade de gênero nas publicações, na produção, nos cargos e na divisão do trabalho torna ainda mais gritante a necessidade de se falar mais disso.”

Professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e integrante da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas, Luciana Tatagiba contou como a rede - que, atualmente, possui mais de 3 mil mulheres cadastradas e cientistas brasileiras de todas as unidades da Federação - foi formada em um contexto de pandemia.  “Temos muito orgulho de sermos professoras, mas queremos reafirmar nossa contribuição no desenvolvimento da ciência nacional, nas descobertas que são fundamentais, na Ciência & Tecnologia”, afirmou. Ela também destacou a diversidade regional e as diferentes áreas do conhecimento da rede. Criada para atuar sobre a vida das mulheres, principalmente as mais vulneráveis, a rede, conforme explicou Luciana, conta com dois braços: a intervenção pública, com base no acúmulo e na troca de conhecimento entre mulheres cientistas; e a igualdade de acesso aos espaços de poder na Academia.

Em seguida, a articuladora do Fórum Estadual de Travestis e Transexuais do Rio de Janeiro Wescla Vasconcelos contou sobre sua trajetória de vida como transexual e chamou a atenção para a invisibilidade e ausência de discussão sobre transexuais no Nordeste. “O Brasil é recorde em crimes de ódio a travestis e transexuais e em feminicídio.  Por isso, eu considero uma resistência eu ter estudado pedagogia no Ceará. Fui a primeira travesti a me formar em uma faculdade pública na região. Na faculdade, sofri transfobia. Lá, eu percebi o quanto era profundo eu estar estudando pedagogia e estar interferindo em uma emenda de disciplina. Eu dizia que não queria somente ler e acessar aquele conteúdo, pois eu queria ter acesso a outros conteúdos que eu afetaria e pelo qual seria afetada”, disse. 

Representante da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e doutora em Antropologia, Célia Xacriabá falou sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres indígenas no meio acadêmico. Ela contou que, para a mulher indígena, a primeira professora é a mulher mais velha. “A luta da mulher indígena não é somente para entrar na Academia, mas também sair com a valorização da sua própria cultura e origem”, alertou.

Jornalista e integrante do Comitê de Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, Marina Maria falou sobre o trabalho realizado pelo comitê. Ela também trouxe dados do Boletim Estatístico de Pessoas da Fiocruz: dos 5,8 mil servidores da instituição, 43,5% são homens e 56,5% mulheres. No que diz respeito ao requisito raça/cor, existe predominância de brancos na fundação, que correspondem a cerca de 70% do quadro de servidores. “Com base nesses dados, nos perguntamos: Onde estão essas mulheres da Fiocruz? Elas ocupam cargos de gestão? Como é a carreira de mulheres cientistas na Fiocruz? Como têm sido os espaços para questionar todas as desigualdades que vemos em nosso cotidiano?”, indagou Marina. Segundo ela, o Comitê de Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz tem funcionado como um importante espaço para apoiar esse enfrentamento cotidiano. 

Pesquisadora do Departamento de Endemias Samuel Pessoa (Densp/ENSP) e debatedora do encontro, Ana Lúcia Pontes enfatizou o caráter de urgência e centralidade do debate em 2022 no Brasil diante de perdas de diversos direitos conquistados. O ano, segundo ela, marca a data dos 100 anos de uma independência forjada em diversos termos. Ela também chamou a atenção para o silenciamento e invisibilidade de mulheres transexuais, indígenas e negras e para as desigualdades regionais na área da Saúde Coletiva, uma questão ainda pouco encarada na produção acadêmica no Brasil, segundo ela.

Assista, abaixo, ao Ceensp, no canal da ENSP, no Youtube.   




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